Produzir cinema no Brasil é um desafio imenso. Em Salvador, o cenário é de luta, principalmente para os produtores independentes. Isso porque, com dificuldades de distribuição e falta de apoio financeiro, cineastas têm que procurar apoio nas poucas políticas públicas disponíveis.
No entanto, lugares de criação e resistência, como, por exemplo, o subúrbio da cidade ou aldeias indígenas, são essenciais. Por meio de projetos que dão voz para as histórias da própria população, o cinema nacional ganha diversidade e um olhar social muitas vezes negligenciado.
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Pensando nisso, nesta sexta-feira (9), Dia Internacional dos Povos Indígenas, o iBahia conta como funciona o Cine Kurumin, que potencializa a visão da criatividade e estilo de vida indígenas, e também o Festival Ferrovias, que se torna palco da população que mora no Subúrbio Ferroviário de Salvador.
'Cinema de resistência': conheça projetos que lutam contra o esquecimento
Cine Kurumin e a resistência da Identidade
Lançado pela primeira vez em 2011, o Cine Kurumin – Festival Internacional de Cinema Indigena é outro projeto que mostra um Brasil que resiste em ser invisibilizado.
O iBahia conversou com Thais Brito, 40, coordenadora, curadora da mestra e doutora em cinema indígena, para saber mais do processo, alcance e recompensas do Cine Kurumin.
Edições da mostra de cinema indígena acontecem em Salvador. No entanto, os filmes também são exibidos em aldeias dos povos Tupinambá de Olivença, Pataxó, Tumbalalá, Tupinambá da Serra do Padeiro e Kiriri, localizadas na Bahia.
Segundo Thais, o Cine Kurumin promove debates sobre as obras mostradas após a exibição, incentivando um contato mais profundo entre audiência e obra. Em 2024, por exemplo, Thais conta que a edição vai promover o debate "Políticas Culturais e Povos Indígenas: trilhas e caminhos da retomada".
"As políticas audiovisuais no Brasil não dialogam com a realidade da produção indígena, que nem sempre conseguem atender a critérios do Fundo Setorial do Áudiovisual", comenta a mestra em cinema indígena. Thais também aponta que cineastas indígenas independentes dependem de editais mais restritos, como a Lei Paulo Gustavo.
A curadora do Cine Kurumin também relaciona essa situação com o desafio de distribuição dos filmes, que ganham cada vez mais espaço em territórios indígenas. "Percebemos uma considerável ampliação dos povos indígenas que produzem audiovisual no Brasil", acrescenta Thais Brito.
Cinema de Resistência e o Festival Ferrovias
Criado em 2023, o Festival Ferrovias visa manter viva a história e a memória do Subúrbio Ferroviário de Salvador e também desmistificar o local, frequentemente atrelado a crimes e violência urbana, através da criação de projetos audiovisuais.
A primeira edição do Festival exibiu 15 filmes, projetados no Centro Cultural de Plataforma e na Escola Comunitária Nossa Senhora de Fátima. Segundo a coordenação do projeto, 231 pessoas assistiram às obras de forma presencial.
Um dos filmes exibido foi "O Peixe", de Ítalo Rodrigues, 36 anos, cineasta e fotógrafo de longa data. Em entrevista ao iBahia, Ítalo comentou que inscreveu seu novo documentário, "Revoa", na edição do festival que acontece em 2024. O filme retrata a volta dos festejos de Iemanjá após a pandemia de Covid-19.
Ítalo também comentou sobre os desafios da produção de cinema independente e de resistência produzido no subúrbio de Salvador.
"O que falta é outro olhar para dentro da nossa comunidade. Ver o que se passa aqui dentro, negativamente, positivamente, e expor isso de uma forma que não seja aquela forma que a gente está super acostumado", listou o cineasta.
Ítalo também aponta a falta na disseminação de informação sobre o Festival dentro das próprias comunidades, comentando que como a divulgação é feita principalmente pelas redes sociais. A campanha não chega a parte da população suburbana que não têm acesso à internet.
Para além disso, Kevin Mendes, que trabalha na administração do Festival Ferrovias, aponta problemas mais estruturais em conduzir um Festival de cinema no subúrbio de Salvador: "Não tem um espaço de fruição estruturada. É muito difícil encontrar espaços para assistir uma peça, um filme... você assistir a um show para além do Centro Cultural Plata", conta Kevin.
Ferrovias e Cine Kurumin em 2024
Ambos os projetos retornam esse ano e merecem uma atenção especial. Abaixo, estão as programações para as duas mostras de cinema para que você possa curtir e conhecer mais sobre o cinema de resistência na Bahia.
Festival Ferrovias:
- 29 de agosto: Centro Cultural Plataforma, Praça São Braz, Plataforma, Salvador;
- 30 de agosto: Centro Cultural Plataforma, Praça São Braz, Plataforma, Salvador;
- 31 de agosto: Centro Cultural Plataforma, Praça São Braz, Plataforma, Salvador;
- 1º de setembro: Centro Cultural Plataforma, Praça São Braz, Plataforma, Salvador.
Cine Kurumin:
A mostra ainda não divulgou as datas de exibição dos filmes selecionados, mas estarão disponíveis nos seguintes locais:
- Sala Walter da Silveira, Salvador, Bahia;
- Territórios Payayá (Utinga/Chapada Diamantina);
- Território Pataxó (Arraial dAjuda, Costa do Descobrimento).
Helena Pamponet Vilaboim
Helena Pamponet Vilaboim
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