Louti Bahia criou o perfil em 2014 (Foto: Taciana de Freitas)
Que Salvador é outra história, os soteropolitanos já sabem. Mas para Luciano Bahia, ou Louti Bahia como ficou conhecido nas redes sociais, isso é mais do que uma verdade, é um lema.
Idealizador do "Amo a História de Salvador", há até quem pense que ele é historiador, mas na verdade, a mente por trás do projeto é um publicitário amante e pesquisador de cidades.
"Precisei fazer um link muito forte com a minha vida para chegar no perfil. Desde sempre morei no Barbalho. Minha família sempre viveu na parte histórica de Salvador. Era minha vida, eu nasci e vivi ali, mas não sabia o real significado. Tudo era muito natural para mim", contou.
A trajetória de estudos foi fundamental para chegar ao resultado e o perfil surgiu quase como uma resposta às inquietudes. Aprovado aos 17 anos no vestibular de Arquitetura e Urbanismo da Ufba, Louti mudou o curso da vida e da carreira.
Trancou o curso e foi fazer Publicidade e Propaganda na UCSal, onde formou e construiu uma carreira como redator publicitário. Em 2006, já tinha uma vida estruturada profissionalmente.
Mas, como os mistérios que envolvem as histórias da capital baiana, Louti conta que começou a ter um sonho.
"Já estava com a vida totalmente estruturada e comecei a ter um sonho, todos dias, mas parava sempre no mesmo ponto. Isso começou a me incomodar. Fiz um processo de terapia e entendi que precisava voltar para o ponto inicial. Voltei a estudar arquitetura", explicou.
Ele conta que fez duas pós-graduações, uma em desenvolvimento urbano e cidade e outra em desenvolvimento regional com planejamento ambiental. As duas ao mesmo tempo. Leu muito sobre Salvador e passou a estimular a paixão pela cidade.
Na faculdade, a relação com a história da capital baiana mudou drasticamente. Pela primeira vez, Louti passou a enxergar de verdade os seus "quintais".
Do estalo à realização do sonho
"Comecei ver meus professores falarem sobre 'meus quintais' como a coisa mais rica da cidade. Comecei a estudar e pesquisar imagens antigas", disse.
Louti passou a dar ouvidos ao "estalo" que tinha tido anos antes. Em 2014, foi para a Itália, onde ficou 12 meses para estudar. Foi neste mesmo ano que teve a ideia de fazer o perfil. Ele explicou que já postava no perfil pessoal, mas as visualizações estavam crescendo. Criou uma marca e fez o perfil, com identidade própria e com objetivo.
Do estalo se fez o projeto. Louti não vê o "Amo a História e Salvador" como uma "página". Para ele, é a concretização de uma história que começou antes mesmo dele sequer imaginar.
"Para mim não é uma página, é a concretização do que eu quero, a 'Amo a História de Salvador' é um projeto de educação. Não é um conteúdo qualquer", disse.
"Eu dou pequenas aulas, pílulas de aulas. A 'Amo a História de Salvador' é o resgate do passado com a educação do futuro. Eu levo conhecimento e educação para quem quiser, mas meu público alvo é o soteropolitano e baiano. Turistas são bem-vindos, mas acho importante nós sabermos nossa própria história", defende.
Depois de anos se aperfeiçoando e estudando, com um acervo de mais de 4 mil fotos, entre elas algumas pagas e outras de arquivos públicos, o projeto cresceu e já alcança soteropolitanos de fora do país.
"Eu faço sozinho. Eu pesquiso, eu escrevo, eu preparo as postagens, eu posto, eu faço os cursos, mas por qual motivo? Essa é a forma de manter o contato com o público. Tem gente que mora fora do Brasil, que me manda mensagem e tudo", disse ao explicar como administra o projeto.
Agora, além das publicações nas redes sociais, Louti também realiza projetos voltados para visitações ao Centro Histórico e expedições pela Baía de Todos-os-Santos.
O "Navegue Na História", que é o passeio realizado em uma escuna que visita do Farol da Barra até São Tomé de Paripe, e o "Passeio na História", no Centro Histórico de Salvador.
Na web, tem os cursos "Retratos na História 1" e "Retratos na História 2" e o "Memória Fotográfica", em formato de workshop com Roberto Faria.
Diferenciada
E vivendo tanto a cidade de Salvador, Louti tem convicção de que ela está longe de ser uma capital "normal". É diferenciada, "é outra história". Com o projeto "Amo a História de Salvador", o publicitário acredita que incita ainda mais o sentimento de pertencimento, nele e nos soteropolitanos.
"Eu procuro trabalhar aqui o sentimento de pertencimento. Eu acredito que cada vez que posto uma foto, explico algo, falo sobre alguma coisa, consigo despertar nas pessoas esse sentimento de "olha, Salvador não tem uma história normal", falou.
Tem história, memória, identidade cultural e pertencimento, fundamentos que o guiam no trabalho e que também dizem muito sobre a cidade.
"Ninguém no Brasil tem essa história. Mas é a nossa. Salvador é a primeira capital do Brasil e a primeira cidade", relembrou ao falar sobre a importância da capital baiana para a formação sociocultural brasileira.
Outra História e muito mais
Salvador nasceu em 1549 cercada de muros, fosso de água e com pontes elevadiças. Talvez você esteja se perguntando se isso é verdade, mas Louti garante que sim. Não à toa, ele afirma com convicção.
"Eu respeito todo mundo, as outras cidades e estados, mas Salvador é outra história. Muito diferente, muito particular", definiu.
Mas Louti entende também que a capital baiana tem desafios a superar. Ele acredita que a cidade precisa ter um planejamento consistente para que volte a ser incluída no eixo histórico internacional.
"A história de Salvador, no dia que for tratada, como deve ser, com a importância e valor que tem, pode ter um poder revolucionário na economia da cidade", disse.
No entato, com a proximidade do aniversário da cidade, que celebrará 473 anos, Louti é otimista quanto ao futuro e faz questão de lembrar que Salvador é muito mais do que se vê.
"A gente precisa mudar o olhar sobre Salvador. Ela enfrenta todos os problemas que todas as cidades brasileiras desse porte tem, mas Salvador é muito diferenciada. É uma península, abraçada pelo mar, que conseguiu misturar a história e a beleza natural numa química muito específica e bonita", disse com carinho.
"Você vai para São Tomé naquela praia maravilhosa, de frente para as ilhas, e de novo você tem história e beleza natural. Mude o olhar que você tem de Salvador, supere as dificuldades. Salvador tem uma história, uma cultura riquíssima. Temos um jeito de falar, cozinhar, dançar. É outra história", finalizou.
*Reportagem sob supervisão da coordenadora Danutta Rodrigues
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Redação iBahia
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