A vida de Célia Rosa tomou um rumo totalmente diferente nos últimos 3 anos, depois que a baiana iniciou uma nova ocupação. De dona de pizzaria e cozinheira, ela passou a ser artesã e empreendedora. As mesmas mãos que preparavam pizzas hoje são usadas para a confecção de bonecos realistas, que se parecem muito com bebês de verdade.
Os brinquedos, que também são coisa de gente grande e podem ser peça de colecionador, são alguns dos produtos encontrados na Feira da Agricultura Familiar e Economia Solidária montada na Bahia Farm Show 2023. O evento é realizado na cidade de Luís Eduardo Magalhães, no oeste do estado, e tem movimentado a região.
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Em entrevista ao iBahia, Célia contou como conheceu a técnica do bebê reborn. Segundo a artesã, foram as filhas que a inspiraram a entrar no ramo, porque já gostavam dos bonecos. No início, ela chegou a resistir, mas se entregou à paixão pela arte. O trabalho surgiu no mesmo período do início da pandemia de Covid-19, em 2020.
"Essa técnica significa o renascimento. É quando a gente pega uma bebê comum e dá um realismo nela, para transformar em um bebê quase real".
Na época em que Célia entrou no ramo, a família tinha acabado de encerrar as atividades na pizzaria que administrava. Um sonho que a baiana embarcou para ajudar o marido, mas que acabou não dando certo. Com o fim do negócio, a necessidade de empreender surgiu. Para aprender a confeccionar os bonecos, ela já fez dois cursos de especialização.
"Tava procurando o que fazer e começou a pandemia, e a gente não podia sair e aí as minhas filhas elas já assistiam na internet, são loucas por bebê reborn, e começaram a me chamar, mas eu nunca dei muita atenção. Até que um dia eu bati os olhos na televisão, me apaixonei e disse: 'É isso que eu quero'".
Do início da atividade até hoje, a baiana já produziu dezenas de bebês reborn e a técnica foi se aprimorando. A casa onde mora, em Luís Eduardo Magalhães, foi adaptada para a produção. A cozinha virou ataliê e o quarto de uma das três filhas se transformou em um berçário, onde os brinquedos ficam armazenados.
"É assim mesmo que a gente começa. E a expectativa é que, se Deus quiser, eu vou ter meu ateliê, meu cantinho só delas, com tudo para eu trabalhar".
A maioria do material usado para fazer os bebês reborn é importado. Cabeças, braços, pernas e corpinhos chegam como uma tela em branco ou kit cru, como chamam os profissionais que atuam no ramo. A partir dos pedidos dos clientes, que são majoritariamente compostos por crianças, ela começa a dar forma ao trabalho.
"Os adultos ficam apaixonados, imagina as crianças. Mas eu também tenho clientes adultas e clientes vozinhas. Sabe aquela criança que era apaixonada por boneca e cresceu e continuou assim? Tenho também colecionadoras. Elas brincam, trocam a fraldinha".
A produção é demorada e cheia de processos. Cada boneco chega a levar de duas a três semana para ficar pronto. A baiana conta que quanto mais novinho for o bebê que o boneco precise parecer maior é o número de detalhes. Com tintas específicas para o trabalho e pincel, a artesã prepara o tom da pele, veias, manchinhas e marcas, como a da vacina que os recém-nascidos tomam.
"É um trabalho delicado. É como se fosse um trabalho de formiga. Eu vou colocando os detalhes, tenho que fazer etapas e mais etapas de selagem, porque esses bebês vão ao forno, com temperatura alta. Eu faço uma etapa de pintura e levo ele ao forno para selar, depois faço outra etapa, e assim vou até a última etapa, quando faço a selagem final, para segurar todo esse trabalho que fiz".
Os valores variam de acordo com os pedidos. No início, a baiana fazia bonecos com base nas características de bebês de verdade, a pedido de familiares, mas preferiu interromper esse tipo de produção, por causa da cobrança que exercia nela mesma.
"Eu fiz no início, mas eu não faço mais, porque ele não estava me fazendo bem. Ele é um trabalho que exige muito. A gente não consegue fazer igual. A gente vai colocar traços. E isso foi me dando ansiedade".
Agora, as encomendas detalham apenas cor, tamanho e formato de cabelo, entre outras características simples. Dependendo do material e tamanho, um bebê reborn pode custar de R$ 1.400 a R$ 1.700.
"Vai do bebê, porque tem uns que me exigem mais, tem uns que o kit é importado e acaba chegando para mim mais caro, tem outro que é maior e acaba demandando mais tinta, mais material... então, o preço está incluído nisso aí".
As roupas são compradas em lojas para recém-nascidos ou com pessoas que produzem especificamente para bebês reborn. "Tem pessoas que trabalham só para fazer roupinhas de bebê reborn e a gente já tem contato para comprar. E muitos eu compro de recém-nascido mesmo, em loja".
As encomendas dos bonecos podem ser feitas pelas redes sociais e as entregas saem para todo o Brasil. Complementando a ideia do boneco como bebê, os brinquedos feitos por Célia vão acompanhados de enxoval, com bocinha da maternidade, cueiro, pano de boca, escovinha com pente, mamadeira com leite fake, perfume, sapato, fraldas e outros acessórios.
"Eu mando a carteira de vacina, a certidão de nascimento, a ultrassonografia dizendo o sexo. Mando junto peso, altura, cor dos olhos, para que ela preencha a certidão de nascimento".
E a proposta é que os bonecos não tenham data de validade. Célia garante que, se cuidado direitinho, seguindo as orientações dadas por ela na embalagem, os bebês não perdem a qualidade. "Se ela cuidar direitinho, ela comprando na minha mão com anos, ela fica moça, casa, tem filhos e os bebê dela está lá com ela".
Atualmente, a artesã produz apenas bebês brancos. A meta é se aperfeiçoar para conseguir entregar também bonecos negros e atender à demanda que é grande. O diferencial da produção de um para o outro são os tons de tintas e técnicas usados, que demandam uma especialização.
"Hoje, eu tenho dois cursos para desenvolver essa técnica, e pretendo fazer uma técnica totalmente diferente, que é uma especialização, para fazer bebês negros. Me perguntam muito e eu tenho muita vontade de fazer, só não tive ainda como fazer essa especialização ainda".
Depois refletir sobre o desenvolvimento que teve os e de analisar os resultados alcançados, a baiana não pensa mais em deixar a arte. "Valeu muita a pena. Eu estou muito satisfeita. Financeiramente, precisa melhorar, mas na satisfação de fazer, de gostar do que eu faço, isso aqui é minha vida. Eu não me vejo mais sem minha arte. A cada bebê é uma realização".
Um trabalho que é aprovado pelos clientes. Em entrevista ao portal, uma das visitantes da feira, Creuza Maria Cunha, contou que foi atraída pela qualidade dos bonecos, depois que viu uma propaganda do trabalho da artesã. Ela passou no estande de Célia e garantiu um bebê.
"Eu sempre gostei, eu já tenho em casa. E aí, quando eu vi a propaganda, eu vi e gostei. Vim hoje só para comprar. Eu sou apaixonada por essas bonecas", disse.
Bahia Farm Show 2023
A feira começou na última terça-feira (6) e segue até o sábado (10), reunindo 420 expositores, que representam 1.200 marcas. O evento ocupa um espaço de 215 mil metros quadrados, às margens da BR-020. A expectativa é de que a feira tenha mais de 101 mil visitantes até o final. No final da quinta (8), o público total já era de 60 mil pessoas.
Considerada a maior do Norte e Nordeste, a feira está na 17ª edição. Ao longo da programação, a organização espera movimentar mais de R$ 7,9 bilhões, superando o ano passado.
Os ingressos podem ser comprados no site oficial, por R$ 25. Conforme divulgado pela organização, 20% do valor arrecadado com a venda de ingressos será doada para o Hospital do Oeste (HO), localizado no município de Barreiras, na mesma região do estado.
Alan Oliveira
Alan Oliveira
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