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A troca de ideias e de conhecimento está cada vez mais restrita?

Especialista fala sobre as diferentes tribos, valores e comunicação entre essas pessoas

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21/01/2015 às 8:32 • Atualizada em 29/08/2022 às 5:37 - há XX semanas
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As pessoas sempre procuraram viver em tribos. Desde os nossos antepassados mais distantes até o cidadão globalizado dos grandes centros urbanos da atualidade. Nessas tribos, procuramos nos sentir seguros, em comunidades que partilham os mesmos valores. O que há de novo em nossa contemporaneidade é a capacidade que adquirimos, através das tecnologias disponíveis, de ingressar em tribos cada vez maiores e mais articuladas. Paradoxalmente, a mesma tecnologia que tem o poder de nos unir, nos aparta. Ao mesmo tempo em que podemos nos comunicar com qualquer um, a qualquer tempo e em qualquer lugar, parece que vivenciamos uma espécie de efeito colateral. É como se o indivíduo, esmagado por um mundo que bate na sua porta, sinta-se oprimido. A tal aldeia global, um conceito elaborado na década de 60 pelo professor Marshall McLuhan, parece ter se tornado mesmo realidade. Mas seria esta aldeia mesmo global ou somente um emaranhado desconexo de pequenas aldeias globais ? Se refletirmos um pouco mais, as mesmas possibilidades que conferem ao homem moderno a possibilidade de se conectar com todos os habitantes deste planeta, também parecem conferir possibilidades de criação de tribos virtuais. Sejam ativistas, jihadistas, jornalistas, blogueiros, comunidades de A a Z, parece estar ocorrendo o acirramento das divisões e do sectarismo. O debate míngua e a discussão de ideias fica circunscrita ao círculo da tribo. O que se discute fora dela, quando ocorre esta interação, muitas vezes leva ao estranhamento, aquele mesmo que, no limite, leva ao campo do insulto e da violência. Você certamente acompanhou o desenrolar dos atentados terroristas que aconteceram na França, no início deste ano. Correto? Uma pergunta: por onde você se informou a este respeito? Você buscou ler sobre o fato em mais de uma fonte de informação ou se contentou com o que foi postado nas redes sociais pelos seus amigos? Qualquer um que acompanhou o episódio mencionado se deu conta de que o ataque de extremistas islâmicos a um pequeno grupo de chargistas revestiu-se de um caráter puramente tribal. Mas esta tendência ao tribalismo não se dá somente no âmbito da discussão política e religiosa. Podemos notar e reparar como limitamos o nosso relacionamento com o nosso círculo restrito de afinidades. Se você acha que não pertence a tribo alguma, olhe ao seu redor, em seu restrito círculo de relacionamentos se não são restritos também os interesses comuns. É como se ao invés de nos abrirmos ao mundo, começássemos a criar muros que delimitam as fronteiras de nossas tribos. E com este fechamento, acabam sendo restritos também os nossos interesses e oportunidades de crescimento. Em uma sociedade cada vez mais conectada e, paradoxalmente, tribal, tendemos a nos agrupar em vilarejos digitais onde a troca de ideias, e conhecimento, se torna cada vez mais restrita. O surgimento de grupos radicais, que adotam o comportamento sectário leva ao isolamento e, no limite, à autodestruição. Em um mundo com tantas possibilidades, devemos explorar os limites das comunicações e das trocas. Somente exercitando as trocas com as mais diversas tribos será possível evoluir, tanto no campo do conhecimento como dos valores exercidos. Neste mundo que tende a uma tribalização, o indivíduo precisa ter o cuidado de exercer a curiosidade para conhecer os demais pontos de vista seja para defender as grandes ideias ou mesmo aprender aquilo que jamais imaginou querer aprender. É reconfortante viver na sua tribo, mas é igualmente importante conhecer o mundo ao seu redor, senão, um dia, você pode acabar sendo surpreendido por uma ditadura digital que pretenda se apossar de todo o controle. Aproveite este momento em que iniciamos um novo ano e que estamos mobilizados em torno desta discussão sobre os limites da liberdade de expressão. Viaje para longe da sua tribo e se permita conhecer outros pontos de vista. Amplie seus horizontes sem medo e sem preconceitos. Não se preocupe, porque quando você voltar os seus valores, estarão todos lá, guardados pela sua tribo.

Sérgio Sampaio E-mail: [email protected] Consultor de TI da ValoRH. Engenheiro, empresário da área de Tecnologia da Informação, proprietário da IP10 Tecnologia.

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