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ACM manteve-se influente ao longo de cinco décadas, de JK a FHC

Antonio Carlos Magalhães, que completaria 87 anos hoje, tornou-se o único político a manter influência na cúpula do poder na Velha e na Nova República

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04/09/2014 às 12:03 • Atualizada em 31/08/2022 às 19:58 - há XX semanas
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Assim como no resto do país, Brasília fervilhava naquela manhã de 23 de agosto de 1976. Um dia antes, o país mergulhara em comoção com a morte, até hoje misteriosa, do ex-presidente Juscelino Kubitschek. No gabinete do general Ernesto Geisel, penúltimo militar no poder, a preocupação era com presidente da Eletrobras, Antonio Carlos Magalhães, amigo de JK, um dos civis mais temidos e odiados pela ditadura, que anunciara presença no enterro.
O clima pesou na sala logo após a chegada do general João Baptista Figueiredo, chefe do Serviço Nacional de Informações (SNI), a central de espionagem do governo federal. Figueiredo, que se tornaria presidente da República em 1979, entrou para derramar queixas. Entre as quais, a da confirmação de que ACM estava entre os homens do Planalto dispostos a encorpar o funeral de JK, contra as orientações do próprio Geisel. Figueiredo foi encarregado de demovê-lo da participação. A resposta de ACM surpreendeu até Figueiredo, conhecido pelo temperamento explosivo e pela dureza dos gestos: “Eu vou ao enterro de Juscelino, que era meu amigo, e vou ao seu”, desafiou. O episódio, contado e recontado pelos mais próximos colaboradores e por familiares do político baiano, mostra o tamanho da presença de ACM nos mais altos degraus do poder. Revela também até onde ia sua influência nos escalões superiores da República, o que lhe conferia um peso de estadista. ComeçoA intimidade de ACM com sucessivos presidentes começa em 1958, quando ele é eleito deputado federal pela UDN da Bahia. Dois anos antes, JK havia assumido o poder com mais de três milhões de votos. Quando Juscelino chegou ao Congresso para a cerimônia de posse dos novos parlamentares deu de cara com o baiano. De imediato, recordou da amizade que tinha com o pai de ACM, Francisco Peixoto de Magalhães Neto, seu colega da Câmara desde os tempos da Assembleia Constituinte de 1934. JK, então, pediu ao jovem deputado que fosse lhe visitar no Palácio das Laranjeiras, sede da Presidência quando o Rio de Janeiro era a capital federal e Brasília ainda estava em construção. Ao chegar, ACM encarou um chá-de-espera na portaria de acesso ao palacete. Depois de ser recebido, agradeceu o convite a Juscelino, mas disse que não voltaria para se submeter ao mesmo constrangimento. Foi quando JK o chamou para conhecer seus aposentos particulares, mostrou um telefone instalado numa mesa de cabeceira, deu os números - à época, eram só quatro dígitos - e disse-lhe que ligasse quando quisesse. A partir dai, ambos seriam muito próximos durante toda a vida. Essa ligação causou a ACM sérios problemas com os líderes do seu partido. Sobretudo com a chamada Banda de Música, ala comandada pelos mais ferrenhos oradores da Velha República: Carlos Lacerda, Afonso Arinos, Olavo Bilac Pinto e o também baiano Aliomar Baleeiro, todos opositores de JK. Com o sucessor de Juscelino, o paulista Jânio Quadros, as boas relações foram para o saco, quando o novo presidente se negou a renovar o mandato do reitor Edgard Santos na Ufba. O resultado da recusa foi um famoso telegrama, virulento do início ao fim, que a agência dos Correios se recusou a transmitir para Brasília por considerar o conteúdo ofensivo demais. Entre as frases, uma delas entrou no anedotário político: “A mesquinhez do seu gesto dá a medida exata do seu caráter”. Como se, de alguma forma, profetizasse o que viria depois. Em outro agosto, o de 1962, Jânio renunciava ao mandato, João Goulart assumiria seu lugar em meio a um turbilhão político que apontava para o golpe militar de 1964. DitaduraCom os militares no poder, a influência e a presença de ACM nos gabinetes da cúpula sofreram oscilações, a depender do ocupante. Do primeiro deles, Castelo Branco, o deputado federal ganhou o aval para ser nomeado prefeito de Salvador, em 1967. Contudo, Castelo Branco fez com que o então governador da Bahia, Luís Viana Filho, antecipasse a posse do aliado para fevereiro, um mês antes dele deixar a Presidência. Castelo Branco queria garantir que a chegada do sucessor, Costa e Silva, representante da Linha Dura das Forças Armadas, não atrapalhasse o futuro de ACM. Costa e Silva, como se sabe, defenestrou do poder quase todos os aliados do antecessor, mas não tocou no então prefeito de Salvador. Em 1970, o terceiro militar na Presidência, Garrastazu Médici, o indica para o governo da Bahia, em 1970. Cargo que ele voltaria a assumir em 1979, mesmo ano em que Figueiredo sucede Geisel na Presidência. O mesmo Figueiredo com quem ACM rompeu por causa da indicação de Paulo Maluf como candidato a presidente dos militares. Em uma declaração em 4 de setembro de 1984, seu aniversário de 57 anos, rebateu o ministro da Aeronáutica, Délio Jardim, que acusou os dissidentes do partido do regime, o PDS, de traição por apoiarem o candidato oposicionista, Tancredo Neves, do MDB. “Trair a Revolução de 1964 é apoiar Maluf para presidente”, disparou. Em casa, esperou ser preso, o que não ocorreu. O episódio foi decisivo para a costura que levou Tancredo a derrotar Maluf no Colégio Eleitoral do Congresso. O que renovou sua influência no governo eleito indiretamente em 15 de janeiro de 1985 e o afastou do último militar no poder. Talvez por isso não tenha cumprido a outra parte da promessa feita em 1976 a Figueiredo. Foi ao de JK, mas não ao enterro do ex-presidente, morto em 25 de dezembro de 1999. Prestígio político ampliado após a chegada da Nova RepúblicaSe na Velha República ACM manteve sua influência ao longo de sucessivos governantes, sua força nos gabinetes presidenciais foi ampliada com a chegada da Nova República. Como ministro das Comunicações, foi um dos nomes mais poderosos do governo de José Sarney (PMDB), que assumiu após a morte de Tancredo Neves, responsável por sua nomeação. Amigo pessoal do maranhense até o fim da vida, conversava de igual para igual, ao ponto de dispensar o protocolo em bate-papos reservados. Nessas ocasiões, costumava chamá-lo pelo nome; o tradicional “presidente” deixava para ocasiões oficiais. Com Fernando Collor de Mello, permaneceu ao mesmo tempo próximo na arena política, mas distante na vida pessoal. Mesma linha adotada com o sucessor do alagoano, o mineiro Itamar Franco. Já com Fernando Henrique Cardoso, os laços foram bem mais estreitos, em especial por causa da amizade do tucano com seu filho, Luis Eduardo Magalhães. Grande parte das reformas e projetos aprovados nos governos de FHC deve-se à dobradinha com os Magalhães no Congresso. Ora com ACM no comando do Senado ora com Luis Eduardo na linha de frente da Câmara. Dessa forma, morreu fiel a uma de suas máximas: “A auréola do poder é o menos significativo. O exercício dele é o que vale”. Matéria original: Correio24hACM manteve-se influente ao longo de cinco décadas, de JK a FHC

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