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Baianas de acarajé terão que obedecer regras para vender

Ideia é preservar a cultura. Antropólogo critica

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13/09/2013 às 8:31 • Atualizada em 27/08/2022 às 19:03 - há XX semanas
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Acarajé de verdade, só se for da baiana. Mas como é baiana de verdade? Bom, a partir dos próximos dias, para serem consideradas baianas, elas vão ter que voltar às origens. Nove anos após serem tombadas pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) como patrimônio imaterial nacional, as baianas de Salvador terão sua atividade totalmente reordenada.
Isso porque uma portaria que atualiza o Decreto 12.175/1998, que regulamenta o ofício das baianas e dos vendedores de mingau, será publicada em até 20 dias, segundo a Secretaria Municipal de Ordem Pública (Semop). Logo que o documento for publicado, deve ter início à fiscalização do órgão, segundo a secretária responsável pela pasta, Rosemma Maluf.
Com tabuleiro montado na Cruz Caída, no Centro Histórico, a baiana Luzia Santos está com tudo nos conformes: indumentária, torço, tabuleiro de madeira, panelas e ombrelone
Para começar, toda baiana de acarajé vai ter que usar a indumentária completa, com saia e torço na cabeça. “Foram as próprias baianas que pediram para fiscalizar o uso da vestimenta. Algumas usam guarda-pó, o que descaracteriza a cultura. A indumentária é uma condição sine qua non (indispensável) para a caracterização delas”, disse Rosemma.
Para a secretária, as roupas devem ser utilizadas independentemente da religião das baianas. “Tem as evangélicas, que se dizem baianas de Deus e não usam o traje. Mas não é uma questão religiosa e, sim, de preservação da cultura”.
Por outro lado, não quer dizer que as baianas sempre precisem usar as roupas pesadas, como as saias carregadas de anáguas. “Entendemos que existem as roupas mais elaboradas, assim como aquelas mais leves, do dia a dia”, disse a secretária, referindo-se às batas e aos torços menores.
Segundo a presidente da Associação de Baianas de Accarajé, Mingaus, Receptivos e Similares do Estado (Abam), Rita Santos, a fiscalização do uso das roupas era uma reivindicação antiga da categoria. “Não importa qual a religião. É para preservar a identidade cultural das baianas”, disse.
Para Erenice Vidal, que trabalha no Relógio de São Pedro, falta o torço. Espaço de pedestre será respeitado
Identidade
Para a baiana Luzia dos Santos, que trabalha no Pelourinho, a indumentária é indispensável. “Tem umas que não querem vestir, mas nós representamos a cultura baiana”, comentou Luzia, que revelou que tem trajes que custaram até R$ 1.400.
Há, ainda, aquelas que dizem que só usam em ocasiões especiais. “Prefiro usar em festas”, explicou a baiana Erenice Vidal, que fica na Avenida Sete. Neide Silva, que vende seus acarajés no Porto da Barra, nem sempre usa a roupa. “Tenho uma que custou R$ 1.200, mas só uso às vezes”.
A opinião das evangélicas ainda está dividida. Ao CORREIO, uma baiana que trabalha na Avenida Sete e não quis se identificar admitiu que prefere não usar a roupa, por conta da religião. “E a manutenção dá muito trabalho, porque suja fácil”, comentou.
Enquanto isso, a baiana Ângela Livino, que trabalha na Avenida Garibaldi, diz que não se importa em vestir a indumentária, apesar de ser evangélica. “Vestir uma roupa não significa nada, pois não é isso que vai mudar a minha fé”.
Já o antropólogo Jeferson Bacelar, do Centro de Estudos Afro-Orientais (Ceao) da Ufba, não concorda que elas sejam obrigadas a usar as roupas tradicionais. “É preciso prestigiar as baianas, mas sem talibanismo culinário. O acarajé vendido na rua não é sagrado e as evangélicas têm o mesmo direito de vender”, analisou.
Tabuleiro
Mas as mudanças não se restringem à aparência das baianas. Pelas novas regras, elas só podem vender o tradicional: acarajé, abará, cocada, bolinho de estudante e passarinha. Para beber, só refrigerante. “Se não for assim, não é baiana”, avisou Rosemma.
Aquelas que não usam o tabuleiro também vão ter que mudar. “Não pode usar aqueles equipamentos tipo rechaud, utilizados em restaurantes que vendem comida a quilo”. Já as panelas de inox e barro estão liberadas.
No Porto da Barra, Neide tema roupa, mas nem sempre usa. Agora vai
E mesmo o tabuleiro ganhou novas proporções: antes o tamanho máximo era de 1,2m x 0,6m. Agora passa a ser 1,4m x 0,8m. E se só os ombrelones de
2,4 m eram permitidos, agora também estão autorizadas as tendas com até 2 x 2 m. “Elas já usam as tendas sem autorização. Como venta muito em Salvador, achamos justo permitir”, explicou Rosemma.
Para completar, as baianas precisam manter uma distância de 50 metros entre si. Também podem ficar no passeio, desde que não ocupem o espaço do pedestre, que deve ter pelo menos um metro.
“Na orla, temos 108 baianas cadastradas. Quando elas tiram a licença, já recebem a localização onde devem ficar”. A secretária não soube afirmar o total de baianas licenciadas na cidade hoje, mas disse que as baianas que não têm licença devem procurar a Semop para regularizar o cadastro.
Apesar disso, esse número ainda é distante das necessidades da categoria, de acordo com Rita Santos. Segundo ela, só entre as praias de São Tomé de Paripe e Ipitanga existem 550 baianas. Já no resto da cidade, a estimativa é que três mil profissionais atuem. “Esperamos que a prefeitura reconheça essas baianas”, disse.
Fixação
Além de terem regras para roupa, comida e tamanho de tabuleiro e tenda, as baianas também ficarão proibidas de fixar a estrutura no chão, nem cozinhar na areia da praia. “Temos casos de baianas que chegam a fixar toldos com cimento. Não pode”, comentou Rosemma.
Contudo, a presidente da Abam diz que os ventos atrapalham as estruturas móveis. “Sem um toldo fixo, tudo voa. Além disso, as baianas trazem tudo pronto. Não entendemos por que só o acarajé não pode ser frito na areia”, disse Rita.
Uma audiência pública deve discutir o tema na próxima quinta-feira, no Centro Cultural da Câmara de Vereadores.
Padrões que serão fiscalizados a partir de portaria
Indumentárias
devem ser utilizadas, não importa qual seja a religião das baianas. Elas devem usar o torço e as saias com anágua
Tendas de 2 x 2m
passam a ser permitidas. Antes, só estavam autorizados os ombrelones de 2,4m de diâmetro
Tabuleiros
O limite dos equipamentos passou de 1,2m x 0,6m para 1,4m x 0,8m. Rechauds estão proibidos. Tem que ser panela
Cardápio tradicional
As baianas podem vender acarajé, abará, cocada, bolinho de estudante e passarinha. Para beber, só refrigerante
Espaço
entre baianas deve ser de pelo menos 50m. No passeio, é preciso deixar o espaço de 1 metro para pedestres
Baianas em pontos tradicionais e turísticos terão projeto específico
As baianas que têm um grande número de clientes e que contam com mais de quatro funcionários trabalhando no tabuleiro devem ser contempladas com um projeto específico para elas, de acordo com a secretária municipal de Ordem Pública, Rosemma Maluf.
Isso porque as profissionais afirmam que precisam de um espaço maior do que uma tenda 2 x 2 m para trabalhar. “No Rio Vermelho, por exemplo, elas já fazem parte do cenário. Por isso, nós entendemos que toda regra tem exceção”, disse Rosemma, referindo-se às baianas Dinha, Cira e Regina. “Ainda não está definido, mas vamos fazer um estudo para a construção de quiosques que teriam entre 9m² e 12m²”.
as o projeto não deve ser exclusivo dessas baianas. Segundo Rosemma, a Semop está mapeando os lugares que têm capacidade de receber esses equipamentos maiores. “Estamos mapeando locais como Porto da Barra, Itapuã e Pituba, onde temos baianas tradicionais também. Esses são pontos turísticos que precisam de um equipamento fixo mais adequado”, comentou.
No entanto, ainda não há previsão para a apresentação do projeto. Para a baiana Priscila Souza, que faz parte da equipe do Acarajé da Dinha, o projeto seria uma alternativa eficaz. “Com uma tenda de 2 x 2 m, nós não conseguiríamos trabalhar. Ficaria muito apertado, quando colocamos tabuleiro, isopor e uma grande quantidade de panelas”, disse. Segundo Priscila, o toldo utilizado pelo Acarajé da Dinha tem 5 x 5m. Matéria original: jornal Correio* Baianas de acarajé terão que obedecer padrões para montar tabuleiro

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