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Desde a infância, Irmã Dulce se dedicava à fé

Ela mendigou ajuda a empresários, prefeitos e presidentes para alimentar e dar conforto aos pobres

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26/05/2014 às 10:44 • Atualizada em 27/08/2022 às 16:39 - há XX semanas
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A fragilidade da voz firme, o olhar com ternura e altivez. Ímpeto de uma vida dedicada à solidariedade e amor ao próximo. Nasceu Maria Rita, mas pelo amor a Deus transformou-se em Irmã Dulce (1914-1992). Para muitos, foi mãe, patrona e até mesmo santa. Ao seu túmulo, hoje, quando completaria 100 anos de nascimento, somam-se agradecimentos por sua vida milagrosa e pela intercessão na realização de graças. “Era uma santa”, resume a voluntária das Obras Sociais Irmã Dulce Iraci Lordelo, que foi fiel escudeira da freira conhecida como o Anjo Bom da Bahia por ter erguido – apenas com doações – a maior rede de atendimento totalmente pública do Brasil em atividade.
Veja também: Memorial de Irmã Dulce será transformado com inovações tecnológicasMesmo doente, Irmã Dulce fazia questão de ajudar ao próximoObra criada por Irmã Dulce vive no prejuízo, mas mantém serviçosVaticano analisa dois novos possíveis milagres de Irmã DulceFiéis viraram instrumento para reconhecimento de milagre e beatificação de Irmã Dulce Após sua morte, milhares de agradecimentos chegaram às obras sociais que levam seu nome. Dentre elas estava a história da sergipana Cláudia Cristina dos Santos, que sangrou por 18 horas e foi submetida a três cirurgias na Maternidade São José, da cidade de Itabaiana, em Sergipe, após dar à luz seu segundo filho, em 12 de janeiro de 2001. Cláudia relatou, nos tribunais eclesiásticos da Igreja Católica, que foi salva pela intercessão de Irmã Dulce. E, após investigações sobre sua cura, a Igreja Católica concluiu que foi um milagre, o que transformou a mulher já tida como santa pelas ruas da Bahia em Bem-Aventurada Dulce dos Pobres, beata reconhecida por toda a Igreja. Em nome da fé, ela intimidou poderosos. Mendigou ajuda a empresários, prefeitos e presidentes para alimentar e dar conforto aos pobres. A aparência frágil da pequena freira escondia um olhar que apelava a compaixão alheia em benefício dos mais necessitados. Mas, o mesmo olhar que ameaçava governantes era fraternal na salvação de almas desamparadas. Acolheu desesperados e os acomodou na religiosidade. O simples galinheiro, transformado em enfermaria improvisada, abriu uma porta que nunca mais foi fechada ante a necessidade dos desamparados na periferia de Salvador, na Bahia. Hoje, o local abriga o Hospital Santo Antônio. Vida de féSegunda filha mulher do casal Dulce Maria de Souza Brito Lopes Pontes e do cirurgião dentista Augusto Lopes Pontes, Maria Rita de Souza Brito Lopes Pontes, nascida na capital baiana em 26 de maio de 1914, iniciou a vida na caridade ainda na infância. Aos 12 anos, acompanhada da tia Madalena, foi pela primeira vez numa favela onde despertou o desejo de ajudar os necessitados. Dos cinco filhos que o casal, a menina Maria Rita era a mais dedicada à religião. Para a Mariinha, como era chamada, Santo Antônio era seu maior protetor. Ficou órfã de mãe quando tinha apenas 7 anos. Logo depois, perdera também sua irmã Regina, recém-nascida, que não resistiu à falta do leite materno e não podia tomar leite artificial. Passou sua infância ao lado dos seus irmãos – Augusto, Dulce, Aloysio e Geraldo e de seu pai, que contou com a ajuda das irmãs –Madaleninha, Georgina e Mariazinha – para educar os filhos enquanto trabalhava. A família morava em um sobrado, em cima do armazém Porto Rico, na Rua Quitandinha Capim, no bairro de Santo Antônio, em Salvador. O despertar pela caridade da menina Maria Rita surgiu muito jovem. Escondida do pai, ela auxiliava doentes na porta da casa da família. Cuidava de ferimentos, doava comida. “Dava banho na garotada e dava comida a todos. Conseguia ainda, com a vizinhança, roupas usadas, remédios e alguns trocados para aqueles miseráveis”, relata Maria Rita Lopes Pontes, sobrinha da religiosa baiana.
VocaçãoAinda quando era adolescente, por volta dos 14 anos, tentou entrar para o convento, mas foi impedida pelo pai, em função da pouca idade. Maria Rita dava sempre indícios de que tinha a religião como motriz de sua vida. Enquanto sua irmã Dulcinha, por exemplo, brincava e cuidava da aparência física, ela preferia rezar e dar atenção aos mais necessitados. A menina Maria Rita era torcedora do Esporte Clube Ypiranga, time formado pela classe trabalhadora e excluídos sociais, coisa rara para a elite do futebol do século XX. Maria Rita estudava na Escola Nacional da Bahia, mas, diariamente, fugia de casa para ir à Igreja de Santana, no bairro de Nazaré, para assistir à missa. Apesar da vocação, o pai obrigou a menina a estudar, se formar professora, título que na época era possível para poucas pessoas. Na semana de sua formatura, seu pai lembrou que teria que comprar um anel para a cerimônia de colação de grau – afinal, era a primeira filha mulher que se formava – e chamou-a para ir ate o centro da cidade para escolherem juntos o modelo do anel que mais lhe agradaria. Mariinha recusou a joia e disse que só lhe interessaria ser freira. Era dia 9 de dezembro de 1932 quando Maria Rita recebeu seu diploma de professora – sem anel nem festa. Como o desejo de se tornar freira para ajudar os necessitados era o maior da vida da menina, no dia 9 de fevereiro de 1933, Maria Rita entrou para a Congregação das Irmãs Missionárias da Imaculada Conceição, na cidade de São Cristóvão, em Sergipe. Na bagagem para o convento, além do desejo de viver para a caridade, Maria Rita levou sua boneca, Celica, que ganhou da avó quando tinha 4 anos de idade em troca de tomar um remédio que ela não queria. Durante os seis meses de postulado – preparação para ser freira – Celica foi a companhia dominical das brincadeiras de Maria Rita. Em carta enviada a sua irmã Dulcinha, em 26 de novembro de 1933, a então noviça Maria Rita demonstra a gênese do seu amor religioso. Assim como outros indivíduos que se tornaram santos, Irmã Dulce também teve alguns momentos de dúvidas sobre a sua vocação. Irmã Dulce cita a vida da santa francesa Santa Margarida Maria, que tentou ser freira várias vezes, mas depois se arrefecia. Margarida Maria Alacoque nasceu em 22 de agosto de 1647. Aos 8 anos, perdeu o pai e, logo em seguida, a irmã. Sofreu ao cuidar da mãe adoentada. Em seguida, foi acometida por uma grave doença durante quatro anos. Foi quando, milagrosamente, a doença regrediu até a cura e, por este motivo, consagrou-se à Virgem Maria, prometendo entrar no serviço religioso. Santa Maria Margarida Alacoque morreu jovem, aos 43 anos, em 17 de outubro de 1690, e foi canonizada em 1920 pelo papa Bento XV. No dia 15 de agosto de 1933 aconteceu a cerimônia de vestição, presidida pelo frei João Baptista e frei Vicente, e Maria Rita se transformou em Irmã Dulce, nome que adotou em homenagem a sua falecida mãe. A solenidade de assunção, onde Irmã Dulce recebeu as vestes de freira, aconteceu no mesmo dia que se comemorava o 25º aniversário da cura na gruta de Lourdes da Madre, que foi a fundadora da Congregação das Irmãs Missionárias da Imaculada Conceição da Mãe de Deus. Dessa forma, a entrada no noviciado de Irmã Dulce tornou-se ainda mais especial. Um ano depois, Irmã Dulce fez sua profissão de fé religiosa, ou seja, podia agora sair do convento e seguir em missão humanitária em algum lugar do mundo.
Por sorte, ou “por intercessão divina”, como ela costumava dizer, ao contrário da rotina de enviar as jovens noviças para outros estados e países diferentes dos seus de origem, Irmã Dulce foi enviada para sua terra natal para estagiar no Sanatório Espanhol, em Salvador, onde ajudava na limpeza e atendia telefone. Com o intuito de servir melhor aos seus próprios doentes, ela fez o curso de Prática de Farmácia, na Farmácia Galdino, onde aprendeu a manipular receitas de remédios. Um ano depois, prestou exame na Secretaria de Educação e Saúde do Estado e fez dissertação sobre o tema Cápsulas e Comprimidos. Terminando o estágio no Sanatório Espanhol, Irmã Dulce passou a lecionar Geografia para as crianças no Colégio Santa Bernadete, do Convento da Penha, onde estava sediada sua congregação religiosa. A partir daí Irmã Dulce não parou mais na sua missão de amar e servir.

1914
26 de maio - Nasceu Maria Rita de Souza Brito Lopes Pontes, à rua São José de Baixo, 36, no bairro do Barbalho.

1932
Se formou professora pela Escola Normal da Bahia (ICEIA Atual).

1933
Ingressou na Congregação das
Irmãs Missionárias da Imaculada Conceição da Mãe de Deus.

1936
Fundou com os operários Ramiro
Mendonça, Nicanor Santana e Jorge Machado, a União Operária São Francisco, Primeira Organização
Operária Católica da Bahia.

1949
Ocupou o galinheiro ao lado do Convento, que depois virou
hospital Santo Antônio

1988
O então Presidente da República José Sarney, indicou Irmã Dulce para o prêmio Nobel da Paz, com o
Apoio da Rainha Sílvia da Suécia.

1992

No dia 13 de março, morre aos 77 anos

1999

Foi iniciado seu processo de canonização

2010

O Papa Bento XVI autoriza a promulgação do decreto que torna Irmã Dulce em Venerável.

2011
Torna-se beata da Igreja Católica como rótulo de Bem-Aventurada Dulce dos Pobres após lhe ser atribuído a cura milagrosa de uma mulher.

Matéria original: Correio24hDesde a infância, Irmã Dulce gostava de ajudar os pobres e se dedicava à fé

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