Dezenas de fazendeiros do Sul da Bahia se reuniram em assembleia realizada pelo Sindicato dos Produtores Rurais da cidade de Pau Brasil na manhã desta segunda-feira (23) e descartaram a possibilidade de interromper os confrontos com os índios até que seja julgada pelo Supremo Tribunal Federal (STF) a questão da posse das terras na região. Em entrevista ao Correio24horas, o fazendeiro Marcos Vinícius, dono da Fazenda Santa Marina e diretor do sindicato, disse que as tentativas para retomar as terras serão feitas até que os "invasores" deixem, pelo menos, as 12 fazendas ainda ocupadas na cidade de Pau Brasil. A Polícia Federal mediou a assembleia e pediu que os agricultores não protagonizem novos confrontos nas fazendas invadidas até que a questão seja julgada pelo STF. Por outro lado, os fazendeiros teriam a possibilidade de retirar o gado e outros pertencem que ainda estão nas fazendas ocupadas. "Só na Fazenda Indiana foram roubadas mais de 3.500 cabeça de gado", disse Marcos Vinícius, que se referiu aos índios como bandidos. "Nessas ocupações, você encontra de tudo, foragidos de outros estados, traficantes de favelas do Rio de Janeiro, enfim, são verdadeiros bandidos. Eles usam armas de uso restrito das Forças Armadas e são uma ameaça à economia da região", desabafou o agricultor. "Até mesmo a polícia tem medo de entrar na área", acrescentou o diretor do sindicato, que agora aguarda a resposta dos índios após o envio, através da Polícia Federal, da proposta de desocupação pacífica das fazendas na cidade. Reforço da Polícia FederalA Polícia Federal reforçou neste domingo (22) o efetivo na região do sul da Bahia onde, desde janeiro, índios disputam terras com fazendeiros e já invadiram 68 fazendas nos municípios de Pau Brasil, Itaju do Colônia e Camacan. Os pataxós reivindicam 54 mil hectares nessa região que seriam área de reserva indígena. Funcionário morto e índio baleadoNa tarde de sexta-feira (20), Júlio César Passos Silva, 32 anos, funcionário da fazenda Santa Rita, que fica na zona de conflito, foi morto com um tiro na cabeça durante um tiroteio. Um índio também foi baleado na perna no confronto. O corpo do funcionário só foi encontrado por volta das 14h de sábado (21), quando agentes da Polícia Federal, Polícia Militar e Polícia Civil estiveram na região onde teria ocorrido o tiroteio. Já o índio Ivanildo dos Santos, baleado na perna, foi socorrido por outros índios da tribo pataxó hã-hã-hãe e encaminhada para o Hospital de Base, também em Itabuna. Equipe da Folha de S. Paulo ameaçadaTambém na sexta-feira, o repórter fotográfico da Folha de S. Paulo Joel Silva, de 46 anos, e o motorista Igor Correia, de 25, foram ameaçados por dois grupos de homens fortemente armados na zona rural de Pau Brasil. Sem olhar para o grupo, obedecendo a ordem dos homens armados, o fotógrafo e o motorista foram perguntados sobre a razão pela qual estavam na cidade e depois de sete minutos foram liberados, sob a ameaça de serem baleados caso olhassem e identificassem os agressores. Antes, o grupo inspecionou o equipamento fotográfico e guardou no porta-malas do carro. Segundo o policial civil Sagro Bonfim, a equipe da Folha estava em um carro de locadora, sem plotagem do jornal, dentro de uma área ocupada pelos índios, o que pode ter gerado a desconfiança dos supostos seguranças. "É uma área de conflito e eles não estavam acompanhados pela Polícia Federal, correram risco de vida", relatou o policial. Em reportagem publicada na sexta (20), a Folha de S. Paulo denunciou a presença de homens fortemente armados na segurança da fazenda Santa Rita, pertencente ao ex-prefeito de Pau Brasil Durval Santana. A polícia civil não confirmou se as ameaças sofridas pela equipe da Folha na cidade tem relação com a reportagem publicada no jornal. DisputaAs invasões são estratégia dos índios pataxós para garantir a posse da terra uma vez que aguardam julgamento, pelo Supremo Tribunal Federal (STF), de ação de 1982 para retirada dos fazendeiros que ocupam terras que os índios consideram como parte de reserva indígena. Com informações da Agência Brasil.
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