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Célia e Neto estão juntos na disputa eleitoral |
A escolha da professora Célia Sacramento (PV) para vice do deputado ACM Neto, pré-candidato a prefeito de Salvador pelo DEM, era um lance fora da bolsa de apostas sobre composição de chapas majoritárias para as eleições. Menos para os partidos envolvidos nas negociações sigilosas que culminaram na aliança entre as legendas, oficializada ontem. De um lado, foi parte da vontade dos verdes de integrar uma chapa majoritária com chances de vencer em outubro e de participar da criação de um programa de governo que contemplasse suas principais bandeiras. Do outro, é resultado da busca do candidato democrata por um nome com trajetória na vida e na política bem diferente da sua. Célia Sacramento, 44 anos, é negra, nascida em São Paulo, mas criada no Subúrbio Ferroviário de Salvador; estudou em escola pública, é militante ativa de movimentos sociais em defesa das mulheres e dos afro-brasileiros. De quebra, traz para o arco de alianças do DEM um partido tradicionalmente alinhado a siglas tradicionalmente ligadas à esquerda, como PT, PSB e PCdoB. Minutos antes de iniciar o ato de formalização da aliança, ACM Neto deixou claro que a escolha pela professora universitária estava sendo preparada há tempos no forno democrata. “Muita gente acha que foi uma decisão tomada de última hora, mas a gente já vinha debatendo essa hipótese exaustivamente. Queríamos alguém que tivesse a complementariedade que ela traz. Não representaríamos a diversidade que Salvador possui tendo um vice do meu partido ou com a mesma trajetória que a minha”, destacou.
DefesaEm um ato com participação maciça de figurões do DEM e de representantes de duas outras legendas que apoiam a pré-candidatura de ACM Neto - PPS e PSDB -, os líderes do PV usaram o palanque do Teatro Caballeros de Santiago para defender uma aliança que não era cogitada há pelos menos cinco meses, quando começaram as negociações partidárias para compor as chapas. “A luta contra o preconceito se forma aqui, com a escolha de Neto. O resto é pura discriminação”, alfinetou o ex-deputado Edson Duarte, vice-presidente nacional do PV. Ele se referia às críticas que chegaram aos gabinetes do partido, acerca da guinada histórica dos verdes, consolidada após a aliança. Visivelmente emocionada após lembrar sua história como aluna de escola pública, professora universitária de Ciências Contábeis, militante política e membro do Conselho Regional de Contabilidade da Bahia, coube a Célia Sacramento historiar o processo que a fez aceitar a proposta de se candidatar a vice-prefeita. E, sobretudo, explicar o porquê de marchar junto a uma sigla com a qual o PV sempre se bicou em eleições passadas. “Nunca tivemos nossas bandeiras atendidas, mesmo por gente sentada aqui nessa mesma mesa. Aí vem um jovem, com um trabalho fantástico, propor a nós uma aliança programática. Aceitei na hora o convite, quando, ao invés de aceitar nossas propostas para construir seu programa de governo, ele (ACM Neto) nos perguntou por que não o construíamos juntos”, afirmou.
AssinaturaComo parte do pacto que uniu as duas legendas, o democrata assinou uma carta de intenções, se comprometendo, em caso de vitória, a encampar as diretrizes históricas do PV. A principal, o compromisso com metas de sustentabilidade e de transparência. Em seguida, admitiu as diferenças entre os dois partidos e reconheceu o fosso que separa o DEM dos movimentos sociais, que compõem grande parte da militância verde. “Muita gente questiona (a aliança), acha estranho, diz que somos como água e óleo, nunca se misturam. Mas em 2002, o PT com Lula, foi buscar um vice do PR, José Alencar, para fazer uma aliança vitoriosa. É com esse espírito que estamos aqui”, destacou.
PolêmicaO anúncio da composição da chapa majoritária saiu em meio à decisão da executiva municipal do PSDB de indicar, como vice do democrata, o presidente da legenda em Salvador, José Carlos Fernandes. O gesto, que surpreendeu o DEM, não contou com o aval dos integrantes da direção estadual dos tucanos, a exemplo do deputado federal Jutahy Júnior. “A escolha foi compartilhada com os líderes do PPS e do PSDB, e chegamos à conclusão de que a professora Célia Sacramento seria o melhor nome”, afirmou. Independente dos arranjos internos, Neto deixou no ar a certeza de que gostou de poder subir em um palanque no qual nem sempre foi visto com bons olhos.