Querido diário? Nem tanto... Nas cartas expostas nesta reportagem não há nenhum segredo. São apenas relatos de estudantes que, há 100 dias, foram obrigados a trocar a sala de aula e os estudos por horas a mais na cama, na internet, na praia ou no shopping. Hoje, no centésimo dia da maior greve na história da Educação na Bahia, será assim para Nicole Moura, 11 anos, Briane Schettini, 16, Maiara Oliveira, 17, e Yure Peterson, 18. Em seus relatos, os alunos da rede estadual falam sobre suas tediosas (ou nem tanto) férias forçadas. Desde o início da paralisação, já se perderam 60 dias letivos.
A contagem dos estudantes é outra. Eles contam o tempo para voltar às aulas. “Essa greve tem que acabar. Passou dos limites”, diz Maiara, que sonha em ser atriz. Já que a greve se desenrola como um filme sem fim, o jeito é esperar a próxima cena. Com tanto tempo livre, o estudante Yure Peterson, 18 anos, tem aproveitado para se divertir como nunca. “Vou para shows de pop-rock com a galera. Até de PVTs (do inglês ‘private’ – festa particular) na casa de amigos participei. Fui ao clube, curti a piscina e, claro, fico no Facebook”, conta ele, que é aluno do 3º ano no Colégio Landulfo Alves, quer cursar Biologia, mas não tem gostado das aulas emergenciais oferecidas pelo governo. Para compensar, faz pré-vestibular na ONG Pierre Bourdieu. A mãe de Briane, Graça Schettini, já chegou a escrever a escolas particulares pedindo uma bolsa de estudos para a filha. O drama da jovem, que cursa o 2º ano no Colégio Thales de Azevedo, foi mostrado pelo CORREIO. Ela ocupa o tempo como pode. “Passo o dia na internet, no Facebook, leio livros e faço cursos profissionalizantes. Tenho saudades da escola. Às vezes, encontro colegas e saio para dançar. Sem as aulas, fica muito difícil. A gente só tem acumulado prejuízos”, lamenta.
Sem aula, meio-dia é o horário em que Nicole Moura, 11 anos, consegue sair da cama. Aluna da 5ª série do Colégio Antonio Carlos Magalhães, na Vasco da Gama, com aulas sua rotina era bem diferente. “Levantava 5h30 até nos domingos. Agora, só acordo quase na hora de ir pra banca. Nas horas vagas, fico nas redes sociais, no videogame. Com as aulas, a gente tem mais responsabilidade”, diz a garota. O tempo ocioso também é gasto em frente à TV. “Assisto Malhação, Cheias de Charme e Tapas e Beijos. Só estou fraca em Matemática e Português”. Entre os sonhos que ela pretende realizar, a formação em Medicina ou ingresso na Polícia Federal.
No 2º ano do ensino médio do Colégio Mário Augusto Teixeira de Freitas, em Nazaré, Maiara Oliveira, 17, aproveita os dias sem aula para ensaiar sobre o futuro. “Quero ser atriz e escrever peças. Aproveitei esse tempo e escrevi sobre a história de uma amiga que foi traída pela outra na adolescência. Uma roubou o namorado da outra, essas coisas de adolescente”, revela o roteiro. Admitindo que não gosta muito de sair, ela prefere ficar em casa, na TV ou na internet. Já até viajou para visitar a avó em Valença. “Quero voltar para a escola. Sinto falta das aulas, das resenhas nos corredores e do MSN de papel na sala, com os colegas”, desabafa a estudante.
Matéria original do Correio Greve dos professores da rede estadual completa 100 dias
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