|
Cela onde a jovem de 22 anos era mantida em cárcere;
casal de suspeitos está foragido (Foto: Divulgação/PM)
|
Uma jovem de 22 anos foi resgatada após passar dois anos em cárcere privado e sofrer agressões constantes em Vitória da Conquista, no sudoeste baiano. A vítima, que era mantida acorrentada em uma cela na residência de um casal, sofria agressões físicas e era abusada sexualmente. Em depoimento à polícia, ela relatou que foi apresentada ao casal, identificados apenas como Antônio e Eliana pela Polícia Militar da região, por uma conhecida. "A jovem foi convidada e ao chegar na casa deles, não deixaram ela sair mais", disse a delegada Decimária Cardoso Gonçalves, titular da Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher (Deam), em entrevista ao CORREIO. Durante o tempo que permaneceu presa na residência com o casal e os três filhos adolescentes da mulher, a garota foi forçada a realizar serviços domésticos. "Ela também era abusada sexualmente pelo homem, e era espancada e maltratada pelos dois", revelou a delegada. A vítima também passou por diversas privações durante o período, e entre os maus tratos e agressões que sofria, ela passou fome e chegou a ter que comer as próprias fezes para sobreviver. "Ela falou que eles não lhe davam comida direito, e que quando ela conseguia, tinha de comer escondido". A garota foi resgatada neste último domingo (20), após a polícia ser chamada por vizinhos, que ouviram gritos vindos da casa onde a vítima era mantida presa pela família, informou a 77ª Companhia Independente da Polícia Militar (CIPM/Vitória da Conquista). O imóvel, localizado no bairro Cruzeiro, não pertence aos suspeitos. "Os vizinhos comentaram que eles invadiram a casa há algum tempo", disse a titular da Deam. Ainda de acordo com a Polícia Militar, uma guarnição da Base Comunitária de Segurança (BCS) esteve no local para resgatar a vítima após a denúncia, mas a jovem já havia sido solta por moradores quando a viatura chegou no local. O casal de suspeitos fugiu, acompanhado pelos filhos, e ainda não foram localizados pela polícia. Após ser resgatada, a vítima contou aos militares da Base Comunitária que era estuprada pelo seu "patrão" e espancada pela sua "patroa", que a queimava com ferro de passar roupa. A garota foi socorrida por uma equipe do Samu e encaminhada para o Hospital São Vicente. No relatório médico consta que ela tinha úlceras, desnutrição, desidratação e palidez, segundo informações da 77ª CIPM. Ela já recebeu alta médica e está na companhia de familiares. De acordo com a PM, a mãe da jovem disse que passou os últimos dois anos procurando pela filha, e chegou a aparecer em quadros de desaparecidos na televisão. A mãe também contou aos policiais que fez uma "reza muito forte" no dia anterior ao resgate, pedindo que encontrasse pelo menos alguma informação que levasse ao seu paradeiro. A família, no entanto, não registrou oficialmente o desaparecimento da jovem, informou a delegada Decimária Gonçalves ao CORREIO. "Eles sabiam que ela estava desaparecida, mas não deram queixa na polícia. Eles tinham problemas de relacionamento", disse. A garota passou por um exame de corpo delito a fim de comprovar o estupro e as diversas agressões sofridas durante o cárcere privado. O estado emocional dela é delicado. "Ela tem muitas marcas de agressão pelo corpo, e está muito abalada. O resultado do laudo deve sair em 10 dias", informou a titular da Deam. A Polícia Civil e Militar realiza buscas pelos suspeitos na região, mas nem Antônio nem Eliana foram localizados até a manhã desta terça-feira (22). *Colaborou Lara Bastos, integrante da 9ª turma do Programa CORREIO de Futuro.