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Maternidade Albert Sabin tem parto realizado no chão

Em denúncia enviada ao CORREIO, a mulher, negra, aparece nua e deitada sobre um lençol branco no chão, após o parto

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02/05/2016 às 19:17 • Atualizada em 27/08/2022 às 18:01 - há XX semanas
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A superlotação que atinge as maternidades públicas da Bahia chegou a um nível preocupante na noite do último domingo (1º), em Salvador. Uma mulher, que não teve a identidade revelada, deu à luz uma criança no chão da Maternidade Albert Sabin, no bairro de Cajazeiras. A diretoria da unidade confirmou a situação e disse que, no domingo, “a superlotação superou tudo o que já se passou no hospital”, que tem 23 anos de funcionamento, completados em março.A denúncia foi feita ao CORREIO por um profissional integrante da equipe da maternidade. A reportagem recebeu imagens de mulheres sendo atendidas nos corredores e também do parto realizado no chão. Na imagem, a mulher, negra, aparece nua e deitada sobre um lençol branco no chão, após o parto. Instrumentos cirúrgicos também aparecem na imagem, sobre o lençol, além de sangue e placenta. O CORREIO optou por não publicar a foto.
Situação da maternidade é alvo de denúncias (Foto do Leitor)
O parto aconteceu por volta das 20h do domingo. “A superlotação está sendo algo diário. Ontem extrapolou. Essa mulher que pariu no chão chegou num período expulsivo. O chão foi forrado e a equipe toda atendeu, porque não tinha nenhuma maca vazia e ela precisava parir. Parto não espera. Eu não vou dizer que não aconteceu, porque aconteceu, mas foi nessa circunstância, assistida por toda a equipe e depois ela foi acomodada em uma maca”, disse a diretora da Maternidade, Maria da Conceição Santos de Jesus.Segundo ela, o parto foi normal e, assim que a criança nasceu, a mãe foi acomodada em uma maca que estava sendo ocupada por outra mulher. Esta, por sua vez, foi levada para uma poltrona. Mãe e filho passam bem, segundo a diretora. No entanto, até o início da tarde desta segunda-feira (2), eles ainda permaneciam na unidade e a mulher continuava na maca. “Temos hoje os 62 leitos ocupados e 17 extras: 17 mulheres que pariram e estão em macas porque não há leitos”, disse a coordenadora de Obstetrícia da Maternidade, Jussara Chastinet.O superintendente José Raimundo Mota de Jesus, da Atenção Integral à Saúde da Secretaria estadual (Sesab), afirmou que, apesar da insuficiência de leitos, há uma demanda maior por atendimento aos finais de semana, quando os municípios vizinhos à Salvador encaminham suas pacientes para as unidades da capital. O superintendente disse ainda que o estado vem ampliando a rede e citou a construção de uma nova maternidade em Camaçari, que já tem recursos disponibilizados, e também as reformas no Instituto de Perinatologia da Bahia (Iperba) e na maternidade Tsylla Balbino."Precisamos , no entanto, que o município de Salvador dê uma resposta (com relação à ampliação do número de leitos). Os municípios devem se envolver nisso, já que a mulher necessita de acolhimento", falou o superintendente.AumentoDe acordo com a diretora Maria da Conceição, a maternidade de Cajazeiras faz, em média, 300 partos por mês. Mas o número tem aumentado desde o mês de março, quando foram feitos 418 partos. Até o dia 10 de abril, as equipes já tinham trazido ao mundo 182 crianças – se a média tiver continuado a mesma, é possível que a unidade tenha realizado 546 partos no mês passado. A maternidade tem atendido, em média, 60 mulheres por dia.“Aqui é demanda espontânea, é porta aberta, a gente não fecha nunca. A gente entende que, se eu tenho aqui uma equipe completa, com quatro obstetras por dia, equipe de enfermagem, equipe de neonatologia, anestesiologista, toda a equipe que precisa ter num hospital, é melhor eu ter porta aberta e uma paciente precisar parir num colchão no chão assistido pela equipe do que eu mandar voltar e ela parir na rua”, avalia a diretora.
(Foto do Leitor)
Segundo ela, uma possível explicação para o agravamento da superlotação, que já existia, pode estar no fluxograma criado pela Secretaria da Saúde do Estado (Sesab) na tentativa de organizar os atendimentos. Ou seja, antes, era comum que mulheres grávidas que moravam em Cajazeiras procurarem outras maternidades, também lotadas. Agora, a Albert Sabin atende, prioritariamente, grávidas de toda a região de Cajazeiras, de Pau da Lima, Itapuã e, ainda da Região Metropolitana de Salvador.“A gente tem um fluxo muito grande, Cajazeiras tem, em média, 700 mil moradores e quase 70% da população está em idade fértil”, diz Maria da Conceição. “Aumentou a procura, mas os nossos leitos ainda são os mesmos”, completa a coordenadora Jussara Chastinet.A Sesab foi procurada para falar sobre as mudanças no fluxo de atendimento e sobre a superlotação nas maternidades e prometeu se manifestar ainda nesta segunda-feira.Leitos Maternidade Albert Sabin é uma das quatro unidades estaduais que funcionam em Salvador. As demais são a José Maria de Magalhães Netto (no Pau Miúdo), a Tsylla Balbino (Baixa de Quintas) e o Instituto de Perinatologia da Bahia, o Iperba (Brotas). Os 62 leitos obstétricos vivem ocupados e no período da tarde, normalmente, acontecem as altas médicas. É quando outras mulheres podem ser internadas para dar à luz.O problema é que nem todos os leitos são liberados diariamente. Há os casos das mães que chegam à unidade com infecção urinária e precisam ficar mais tempo, há os leitos dedicados às mulheres em situação de aborto e, ainda, o caso dos bebês que já nascem com sífilis por conta da falta de pré-natal ou de um acompanhamento defasado. Estes precisam ficar pelo menos dez dias na unidade ao lado da mãe.A falta de leitos vem obrigando dezenas de mulheres a fazer uma peregrinação diária por maternidades da cidade. O cozinheiro Genildo dos Reis, 22 anos, levou a esposa, Aline Passos, 19, para a maternidade Tsylla Balbino. Com nove meses e duas semanas, ela foi mandada para a Albert Sabin na última quinta-feira (28).“Desde quinta eu não sei o que é trabalhar, ninguém sabe se o parto dela é cesariana ou normal, ela está sangrando e só passou pela triagem”, contou Genildo. Ela, Aline, a mãe dela e o pai aguardavam atendimento debaixo de uma árvore. “Na minha época já não era fácil, agora eu já disse a Aline que esse vai ser o primeiro e último filho. Não é pra engravidar mais”, disse a mãe da jovem, Andréa Passos.Josilene de Castro, 18, e o marido Anderson Neves, 20, esperam desde a sexta-feira passada (29). Chorando, Josilene andava de um lado para o outro do lado de fora da unidade já com nove meses de gestação. Ela também não conseguiu atendimento, apenas dos nove meses. Do lado de fora da maternidade, a dona de casa Edilene Conceição Santos, 41, aguardava aos prantos notícias da filha, Amanda, que entrou para uma cesariana por volta das 10h após sofrer uma convulsão na sala de espera.A diretora Maria da Conceição Santos de Jesus disse que Amanda e o bebê passavam bem e que ela foi a segunda grávida a sofrer uma convulsão na maternidade na manhã desta segunda-feira (2). Em relação às pacientes que estão sendo orientadas a aguardar, a diretora disse que, nesses casos, elas são triadas e colocadas na espera por não ser ainda o momento do parto. Mesmo assim, a orientação é que elas não deixem a unidade para não correr o risco de entrar em trabalho de parto na rua. "Se tiver qualquer complicação, elas estão aqui", disse.O presidente da Associação de Obstetrícia e Ginecologia da Bahia (Sogiba), Carlos Lino, disse que “a situação das maternidades aqui na Bahia vem complicada há bastante tempo” e que “a superlotação não é nenhuma surpresa”.No início do ano, o Sindicato dos Médicos da Bahia (Sindimed) apresentou à Secretaria de Saúde do Estado (Sesab) um estudo sobre a situação das maternidades de Salvador e Lauro de Freitas e recomendou a ampliação e reestruturação da rede. “Com esse quadro de superlotação, não é novidade a paciente parir na rua, no carro. Infelizmente, situações assim vão acontecer”, disse.
Correio24horas

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