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Mesmo doente, Irmã Dulce fazia questão de ajudar ao próximo

Ela costumava dizer que entregava a obra nas mãos de Deus

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26/05/2014 às 11:51 • Atualizada em 02/09/2022 às 3:59 - há XX semanas
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Quando chegou a Salvador, após o período no convento em Sergipe, Irmã Dulce começou a desenhar as suas realizações sociais, que lhe conferiram a fama de Anjo Bom da Bahia. Em 1936, fundou a União Operária São Francisco, primeiro movimento cristão operário da Bahia. Em 1937, ao lado do frei Hildebrando Kruthaup, criou o Círculo Operário da Bahia, que conseguia manter o funcionamento com a arrecadação de três cinemas construídos com doações - o Cine Roma, o Cine Plataforma e o Cine São Caetano.
Veja também: Memorial de Irmã Dulce será transformado com inovações tecnológicasObra criada por Irmã Dulce vive no prejuízo, mas mantém serviçosDesde a infância, Irmã Dulce gostava de ajudar os pobres e se dedicava à fé Vaticano analisa dois novos possíveis milagres de Irmã DulceFiéis viraram instrumento para reconhecimento de milagre e beatificação de Irmã Dulce Nesse período, ela encontrou com um menino, um jornaleiro, que começou a fazer a mudança de sua vida. Ele ardia em febre, perambulava, com uma esteira embaixo do braço, tentando algum local para dormir. Imbuída do espírito de compaixão, tomou o garoto pela mão e saiu pela localidade Ilha dos Ratos em busca de um abrigo. Ao avistar uma casa, pediu ajuda a um banhista, ordenando que ele arrombasse a porta, mesmo sendo avisada que o imóvel – apesar de fechado – tinha proprietário. Invadiu a casa, acomodou o menino, deu comida e retornou ao seu trabalho no posto médico. No dia seguinte, a casa já tinha outros habitantes. A fama do local já havia se espalhado e logo ficou lotado de doentes. No total, ela invadiu cinco casas na Ilha dos Ratos para abrigar os enfermos. Após o pedido do dono dos imóveis, deixou as casas e levou os doentes para os arcos do viaduto que levavam à Igreja do Bonfim. Os abrigos para os doentes foram feitos com caixotes e folhas de zinco. “Lembro que essa era uma área de muito turista. As pessoas vinham para visitar a Colina Sagrada. Irmã Dulce foi trazendo gente para perto. Encheu aquele pedaço de mendigo. Saiu pedindo dinheiro a todos os comerciantes para dar comida àquele povo”, relembra o comerciante aposentado Carlos Martins. A ação de Irmã Dulce foi alvo de repressão da prefeitura. O então prefeito de Salvador Wanderley Pinho ordenou que ela deveria retirar os “mendigos” de lá, pois era um local turístico. Diante disso, a freira levou a multidão de doentes para o velho Mercado do Peixe, perto do Jardim da Madragoa. Apesar do apoio da comunidade, o prefeito, mais uma vez, ordenou a saída. Diante da perseguição do prefeito, Irmã Dulce invadiu o galinheiro que ficava nos fundos do convento, no Largo de Roma, para abrigar os doentes. Com o consentimento da madre, retirou as galinhas e dividiu o galinheiro em duas partes: um setor para homens, outro para mulheres. “Aí eu fiquei em paz. Ninguém mais reclamou comigo por estar arrombando casas”, dizia . Em pouco tempo, as obras ganharam dimensão na cidade de Salvador e no interior da Bahia como a “última porta”, aquela que nunca se fecha, e nem nega socorro. Porém, Irmã Dulce, em alguns momentos, fraquejou pela falta de recursos e inúmeras dificuldades financeiras. “Todo dia rezo para achar uma substituta. Já falei até com a Madre Tereza de Calcutá, mas ela disse que não, que seu trabalho é diferente. Acho natural que as pessoas tenham receio em assumir a responsabilidade financeira desta obra. Mas Deus nunca faltou e nem vai faltar. É uma questão de fé. Tenho fé em Deus, eu não me preocupo com o dia de amanhã. A obra é de Deus e Ele certamente saberá o que fazer”, disse Irmã Dulce. Na construção da sua obra social, Irmã Dulce cultivou histórias de salvamentos. A encarregada de higienização do hospital Santo Antônio Marlene Teles foi abandonada pela família, mas a freira a salvou. Aos 14 anos, ela morava com uma amiga da mãe dela, mas a senhora morreu e ela passou a sofrer agressões e foi viver na rua. “Sabia que Deus ia colocar uma coisa boa no meu caminho e foi justamente Irmã Dulce. Conheci ela numa segunda-feira de manhã, com fome e a barriga roncando muito. Na época, cheguei até o hospital através de amigos. Não sabia quem ela era. Pensava que Irmã Dulce era Mãe Menininha do Gantois (ialorixá)”. CuidadoRaimundo José Araújo, gerente do setor de Recursos Humanos das Osid, não chegou a conhecer seu pai biológico. Morava com a mãe no bairro da Caixa D’Água até que ela ficou muito doente e morreu quando ele tinha 9 anos. “Minha mãe tinha pedido à família que eu fosse internado no orfanato de Irmã Dulce, em Simões Filho”. Em 10 de janeiro de 1979, quando tinha 10 anos, as tias de Raimundo procuraram Irmã Dulce dizendo que não tinham condições de ficar com ele. “Não conseguimos entender na época e até hoje a gente não sabe o motivo. Acho que ela deve ter ouvido falar de Irmã Dulce. Ela me acolheu como um filho. Passamos a ter convivência de mãe e filho. Ela conseguia identificar por nome e apelido as quase 300 crianças que tinha no orfanato na época”, conta ele que ficou por mais de dez anos vivendo no Centro Educacional Santo Antônio, em Simões Filho, que foi criado pela freira. Irmã Dulce costumava dizer que entregava a obra nas mãos de Deus. “Quando a gente estava no orfanato, as cozinheiras ficavam, às vezes, preocupadas com o que fariam para comer quando acabava a comida. Mas, com as orações de Irmã Dulce, aparecia sempre comida. Às vezes, mandavam a comida já pronta. Nunca ficamos sem comer”, lembra. Matéria original: Correio24hMesmo doente, Irmã Dulce fazia questão de ajudar ao próximo

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