Há mais de um ano sem a realização do transplante de coração na Bahia, a última paciente a realizar o procedimento relembrou o processo, realizado em 18 de janeiro de 2022.
Ao g1 Bahia, a aposentada Karen Alessandra Arantes contou que estava internada em uma Unidade de Terapia Intensiva (UTI) na Bahia, com o coração em falência. Faltavam poucas horas para os aparelhos que a mantinham viva serem desligado, quando um doador apareceu.
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"Fiquei com oxigenação por membrana extracorporal (ECMO) durante 18 dias. No dia que estava programado para desligar os aparelhos, apareceu um doador e fiz o transplante. Foi um milagre", contou.
Ela foi diagnosticada com doença de Chagas em 2012. Transmitida pelo barbeiro, os casos graves podem causar a insuficiência cardíaca, que foi a situação dela. Nos últimos dias de 2021, Karen fez uma cirurgia nas válvulas do coração.
No entanto, dois dias depois do procedimento, a "Chagas deu o nome" e o coração de Karen praticamente parou de funcionar. No dia 2 de janeiro, o órgão entrou em falência, mesmo dia em que a filha da aposentada, Bruna Arantes, faz aniversário.
A aposentada precisou ficar em ECMO, uma espécie de máquina que faz a circulação e oxigenação artificial do sangue, por mais de duas semanas, período em que também fez hemodiálise contínua e integrou a lista de espera pelo novo coração.
“Foi muito difícil. Todos os dias que eu ia visitá-la no hospital, os médicos falavam para eu ficar um pouco mais, porque poderia ser a despedida”, relembrou a filha Bruna.
Depois de alguns dias, a notícia chegou. Havia um coração para Karen, em Feira de Santana, a 100km de distância, em Feira de Santana.
A cirurgia da aposentada aconteceu no Hospital Ana Nery, em Salvador, e de acordo com os dados da divulgados no site da Secretaria de Saúde da Bahia (Sesab), essa foi o último transplante de coração feito no estado. Segundo a aposentada, ela também foi o único em que a paciente sobreviveu.
Suspensão do serviço
Depois do transplante de Karen, o serviço foi suspenso na Bahia. Segundo o Coordenador de Doação de Órgãos da Sesab, Eraldo Moura, o serviço foi interrompido por uma decisão do hospital Ana Nery.
Os motivos envolvem a redução no número de doadores e os critérios rigorosos que envolvem o transplante do órgão.
"Os outros transplantes foram mantidos até porque é um serviço que tem mais demanda. O transplante cardíaco é bem mais rigoroso no sentido dos critérios de doadores – assim como o pulmonar”, explicou Eraldo Moura ao g1 Bahia.
Atualmente, a lista de espera na fila da doação de coração na Bahia aponta o número zero. Mas, o número indica que nenhum paciente precisa do órgão, e sim que os baianos estão entrando nas listas de outros estados.
Quem precisa de um novo coração na Bahia, é inserido na lista da Central Nacional de Transplantes. Em seguida, uma avaliação nacional é feita para buscar possibilidades de órgãos disponíveis e os estados que poderiam melhor receber esse paciente.
A depender da gravidade do caso, a pessoa é levada para fora da Bahia e fica no aguardo do coração. O processo acontece porque o órgão só pode ficar algumas horas longe do corpo humanos.
A média da lista de espera é de dois meses a um ano e os critérios para decidir quem vai receber o coração primeiro são cheios de variáveis, incluindo a compatibilidade do órgão e a gravidade do paciente.
Para o coordenador de Doação de Órgãos da Sesab, a importância da reativação do serviço na Bahia, um estado com mais de 15 milhões de habitantes, é essencial.
"Com essa reativação do programa, vamos evitar que esses pacientes saiam daqui [da Bahia] para ir para outro estado. Esse serviço só traz vantagens para a sociedade e para o próprio hospital".
Ele finaliza dizendo que o cenário também reforça a importância dos cidadãos se tornarem doadores de órgãos, como aconteceu com Karen, a filha Bruna e o resto da família, que após ser salva pelo transplates, desejam ser doadores no futuro.
Redação iBahia
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