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Pais apelam a escolas privadas para que filhos não percam ano

Com filhos sem aulas por conta da greve de professores, pais de alunos da rede estadual procuram escolas particulares em busca de vagas, mas esbarram justamente no déficit de dias letivos

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12/06/2012 às 8:20 • Atualizada em 01/09/2022 às 8:15 - há XX semanas
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Com o coração em ruínas, Graça Schettini, 50, tem sofrido e chorado dia e noite. Está desesperada diante das inúmeras tentativas frustradas para que filha Briane, 16 anos, retorne aos estudos. A jovem é aluna do Colégio Estadual Thales de Azevedo, no Stiep, e nunca repetiu de ano, mas está há mais de dois meses sem aula por causa da greve dos professores. Para evitar que, em função da paralisação, a filha repita o 2º ano, Graça resolveu recorrer a várias escolas particulares. No entanto, em todas a resposta foi a mesma: ainda que ela conseguisse pagar a mensalidade, a filha não teria como acompanhar o ano letivo. Graça não é a única. Várias escolas particulares confirmaram ao CORREIO que têm recebido pais de alunos da rede estadual. No Colégio Análise, no Bonfim, mais de 50 pais quiseram matricular os filhos. “Eu tenho deixado claro para os pais que não tenho condições de suplantar a carência que esses meninos tiveram. Como trabalhar com curto espaço de tempo? Não surtiria efeito para alunos com nossa proposta de escola”, diz Fátima Franco, diretora pedagógica do colégio Análise. Cerca de 50 pais também procuraram o Colégio Oficina, na Pituba. “Foi uma boa procura, mas não disponibilizamos vagas porque estamos em um período bem adiantado”, explicou Fabiana Barreto, da secretaria da escola. No Colégio Resgate, no Cabula, funcionários informaram que 100 alunos procuraram a escola. Empregados dos colégios Rio Branco e Nossa Senhora da Soledade também confirmaram a procura, mas não disseram a quantidade de pais que os procuraram. Drama“Olho em volta e penso nas coisas que eram para estar acontecendo e não estão. Já usei todas as minhas armas. Não sei mais o que fazer. Isso dói tanto!”, desabafa Graça, entre lágrimas. Graça é assistente financeiro e ganha pouco mais de R$ 700 por mês. Quando a greve foi iniciada, ela tinha a esperança de que rapidamente governo e professores chegariam em um acordo. Mas o tempo foi passando e Briane, uma aluna que nunca sequer fez recuperação, trocou os livros por horas e mais horas de bate-papos na internet. Aflita, a mãe enviou e-mails contando o seu drama. “Colégio Integral, Apoio, Gregor Mendel, São Lázaro, mas o único que respondeu foi o Antônio Vieira”, conta. No e-mail, a mãe implora por uma bolsa de estudos: “...Choro dia e noite pq nunca pensei em vê-la (à filha) sem estudar por conta de falta de condições financeiras e de um governo sem atitude”. Em resposta, a direção do colégio informou que compreende a situação e os motivos do desespero, mas que não há como matricular novos alunos nesta altura do ano.
Pais apelam a escolas privadas para que filhos não percam ano
EstudoLivros ainda com cheiro de novo empilhados no quarto. Das 200 folhas do caderno, pouco mais de dez com algumas anotações. Apesar de atualmente passar o maior tempo na internet, Briane não esconde a decepção por não estar numa sala de aula. A adolescente quer ser engenheira civil e pretende fazer vestibular no ano que vem, mas acha que a chance é remota. “Até agora não vejo como. Já estamos muito prejudicados no calendário escolar. Estou em casa sem fazer nada”, reclama a estudante. A estudante disse que sofre ao ver a mãe chorando pelos cantos. “Me acabo de chorar junto com ela. É muito triste. Minha mãe é uma guerreira e está fazendo de tudo por mim”, diz. Agonia múltiplaA professora Denise Bonfim dos Santos, 34, e a filha Steffany, 14, colega de escola de Briane, vivem o mesmo drama. A mãe procurou várias escolas. “Rodei várias escolas, mas disseram que não tinham mais vagas porque já tinham fechado a primeira unidade e já estavam fechando a segunda”. Só ontem passou em dois colégios e nada. “Ela vai se prejudicar devido a um problema do governo do estado. Vai repetir o ensino médio sem necessidade”, diz, preocupada. A também professora Gricélia Gomes de Matos, 36 anos, que dá aula de Educação Física em uma escola de ensino básico, sabe bem o que representa os alunos ficarem tanto tempo longe das salas de aula. “É um período que não se recupera mais. Mesmo que reponha as aulas, não vai ter nem de longe a qualidade que desejamos”, afirmou. Ela é mãe de Perla de Matos, 16, que estuda no Colégio Estadual Thales de Azevedo. Moradora de Cajazeiras, tentou matricular a filha em dois colégios particulares, mas teve o pedido negado porque a filha não recebeu nenhuma nota na primeira unidade do ano. “Não aguento mais esse negócio dessa greve. A gente fica de mãos atadas sem saber o que fazer”, resignou-se. Aulas vão até janeiroAs aulas seguem até janeiro para pelo menos 518 escolas da rede estadual. A avaliação da Secretaria Estadual de Educação (SEC) leva em conta os colégios que estão em greve há mais de 20 dias. “Mas isso não descarta as outras escolas. Cada diretoria regional fará um calendário de reposição dependendo de sua situação”, afirma a superintendente de Avaliação e Acompanhamento Escolar da SEC, Enir Bastos. Ela diz que há três possibilidades de repor as aulas: utilizar os sábados, extinguir as férias de julho e usar o período de dezembro e janeiro. De acordo com a SEC, das 1.412 escolas estaduais na Bahia, 542 (38%) ainda estão em greve e 176 funcionam parcialmente (13%). Ao todo, 732 mil estudantes continuam sem aula, o que corresponde a 66% de todos os alunos da rede. A greve começou no dia 11 de abril e 45 dias letivos foram perdidos. A legislação obriga o estado a cumprir, no mínimo, 800 horas de aula distribuídas em 200 dias. Pais lutam sozinho“Sejam bem-vindos à Bahia, o estado sem educação. Nossos filhos estão sem aula há mais de 60 dias”. O cartaz, exibido em quatro idiomas - português, inglês, francês e espanhol – no desembarque do Aeroporto Internacional Luis Eduardo Magalhães, é a nova forma de protesto da Associação de Mães e Pais de Alunos de Escolas Públicas da Bahia (Amap). O presidente da entidade, Antônio Moura, diz que o intuito é chamar a atenção do mundo para a greve dos professores. “O Ministério Público está assistindo a tudo inerte. Há agravantes demais e ele poderia entrar com uma ação. Está preferindo fazer vista grossa. Então, vamos recorrer a quem?”, reclama. Nesta terça (12), às 9h, está prevista uma reunião do Sindicato dos Trabalhadores em Educação do Estado da Bahia (APLB) na Assembleia. Mas o presidente da categoria, Rui Oliveira, diz que não há indicativo de fim da greve. “Toda semana fazemos uma assembleia. O governo nunca esteve presente. Não posso dizer que amanhã (hoje) podemos terminar a greve. Isso só será decidido lá”, diz. Se o impasse continuar, a Amap diz que entrará com uma ação civil pública na Justiça. “Vamos protocolar o documento na quarta-feira. Algo tem que ser feito já que estamos sozinhos”, diz Moura. Por enquanto, a única ação em trâmite é a da Procuradoria-Geral do Estado (PGE), que alega falta de comunicação prévia da paralisação por parte dos professores. No dia 13 de abril, o juiz da 5ª Vara da Fazenda Pública de Salvador, Ricardo D’Ávila, concedeu uma liminar declarando a ilegalidade da greve e determinou multa diária de R$ 50 mil se a categoria não retornasse à atividade. O MP informa que tem atuado extraoficialmente como mediador e não ingressará com uma ação já que emitirá parecer caso a Justiça solicite no processo movido pelo estado. A assessoria de imprensa do Tribunal de Justiça (TJ) diz que não há prazo para que o caso seja julgado e que a lei diz apenas que qualquer processo não pode ficar parado por mais de 90 dias. O Ministério da Educação (MEC) entende que a negociação deve ser realizada sem interferência da União. O Tribunal Regional do Trabalho (TRT) e a Superintendência Regional do Trabalho e Emprego (SRTE) dizem que só cabe a eles mediar quando o caso envolve o setor privado. Com informações da repórter Florence Perez

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