Três suspeitos de envolvimento no esquema que ficou nacionalmente conhecido como golpe do Pix da Record TV foram indiciados pela Polícia Civil por estelionato, lavagem de dinheiro e associação criminosa.
Em coletiva realizada nesta terça-feira (20), o delegado Charles Leão, responsável pelo caso, não informou os nomes dos suspeitos, no entanto, deu detalhes sobre a linha que segue a investigação. Em nota, a corporação informou que dois jornalistas e um terceiro homem foram indiciados.
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"É uma apuração demorada, mas reforço que o nosso compromisso é somente com a verdade. Já ouvimos 61 pessoas, fora as análises de documentos e a formatação da investigação em si. Há várias pessoas envolvidas, e precisamos estabelecer qual o nível de envolvimento delas. Esse cuidado na prestação da informação é por esse compromisso: para que inocentes não venham a ser responsabilizados", declarou.
Ainda segundo a Polícia Civil, a emissora de TV é tratada como vítima da fraude da qual seus ex-empregados são suspeitos. Em nota, a empresa informou que apurou os fatos e tomou "todas as medidas legais cabíveis", "assim que recebeu as denúncias".
Leão afirmou que, embora existam mais pessoas sendo investigadas, já foram coletadas provas suficientes para o indiciamento dos dois jornalistas e da terceira pessoa – um amigo de infância de um deles. O delegado disse ainda que não entende ser necessário, neste momento, a solicitação de prisão preventiva.
"Se houver qualquer tipo de obstrução, de interferência ou de ameaça, faço o pedido. Inclusive, neste caso, seria caracterizado outro crime, o de coação no curso do processo. Se alguma das vítimas se sentir ameaçada ou intimidada, pode me procurar na delegacia", explicou.
Ainda na coletiva, o delegado falou sobre as alegações dos envolvidos. "Até o presente momento, todas as alegações trazidas pelos investigados não foram alicerçadas por qualquer documento. Isso me dá uma convicção para acreditar nas vítimas, que são pais, mães, pessoas com doenças", disse o delegado de acordo com informações do Correio.
O terceiro investigado
O delegado Charles Leão explicou ainda que, em seus depoimentos, os dois jornalistas tentaram imputar à terceira pessoa toda a responsabilidade pelos crimes.
De acordo com a alegação da dupla que trabalhava na TV, o terceiro indiciado, sozinho, realizava acordos de divisão de dinheiro com as pessoas que pediam ajuda no programa. As investigações, entretanto, mostram que estas pessoas eram vítimas – e não partícipes – do esquema.
O inquérito que investiga a fraude ainda não foi concluído, mas deve ser remetido em breve ao Ministério Público, a quem cabe decidir ou não pela denúncia dos suspeitos. As investigações prosseguem, com a participação de equipes do Departamento de Crimes Contra o Patrimônio e do Departamento de Inteligência Policial (DIP).
O que diz a defesa dos jornalistas
O iBahia entrou em contato com o advogado Marcus Rodrigues, que representa os jornalistas Marcelo Castro e Jamerson Oliveira. Ele informou inicialmente que teve conhecimento das novas informações por meio das redes sociais e iria na Delegacia de Repressão aos Crimes de Estelionato por Meio Eletrônico (DreofCiber), responsável pelo caso, para ter ciência real das informações na tarde desta terça (20).
Por sua vez, à tarde, eles emitiram uma nota evidenciando que irá aguardar o encaminhamento do feito ao Ministério Público. Confira a nota completa abaixo:
"Infelizmente as declarações proferidas pela Autoridade Policial, sem o cunho formal, não representam integralmente a complexidade dos fatos, tampouco a verdade apresentada pelos os meus clientes desde o princípio. Impende ressaltar que, o Inquérito Policial é um ato precário e administrativo, onde garantias e princípios constitucionais e processuais penais são relativizados e violados, e por tais motivos não produz provas, apenas elementos de informação. Pelo exposto, a Defesa aguardará o encaminhamento do feito ao Ministério Público, e caso passe pelo crivo da Douta Promotoria, a verdade será novamente produzida em sede judicial, onde acreditamos FIELMENTE na absolvição."
Entenda o caso
Funcionários da Record TV Itapoan são investigados de ter desviado dinheiro de doação para o tratamento de uma criança com câncer. Um editor e dois repórteres estariam envolvidos no esquema, que começou em setembro de 2022.
Ao todo, o grupo teria arrecadado R$ 800 mil, que foram doados para a mãe de uma menina que precisava fazer um tratamento contra o câncer. Ela havia pedido ajuda durante o Balanço Geral Bahia, jornal da TV Itapoan apresentado por José Eduardo Bocão. A Polícia Civil investiga o caso.
Durante a exibição do apelo, foi exibido uma chave pix que não era a da mulher, mas sim de um dos envolvidos no golpe. O ex-jogador do Bahia, Anderson Talisca, que está atualmente no Al-Nassr, doou cerca de R$ 70 mil para o caso.
Em fevereiro, o jogador e a equipe dele entraram em contato diretamente com a mãe da menina, para abater o valor doado no Imposto de Renda. A mulher, no entanto, informou que havia recebido nenhum valor da emissora. Neste momento, o apresentador José Eduardo foi alertado.
Na época, foi divulgado que, revoltado com o roubo, Bocão repassou as informações para alta direção da Record e cobrou ações. A executiva de Salvador repassou o caso para São Paulo, que, após investigação interna, determinou a demissão de todos os envolvidos.
Mais de vinte pessoas foram ouvidas durante as investigações. Na apuração do caso, foram recolhidos depoimentos, matérias jornalísticas, vídeos e prints de redes sociais.
Ainda segundo a polícia, aparelhos celulares de familiares de uma das pessoas que figuram como vítima foram encaminhados para perícia, no Departamento de Polícia Técnica (DPT).
Redação iBahia
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