Religiosidade, comidas típicas e samba de roda marcam o mês de agosto na cidade de Cachoeira, à 110km de Salvador. É no oitavo mês do ano que acontece a tradicional Festa de Nossa Senhora da Boa Morte, que une catolicismo e candomblé e atrai turistas e moradores para as festividades que seguem até este sábado (17).
No início dos festejos, as irmãs da Boa Morte saem em procissão da igreja de Nossa Senhora D'ajuda, em direção à Igreja de Nossa Senhora da Boa Morte, com suas velas posicionadas em cetros característicos que iluminam a cidade, marcando assim, a abertura da comemorações.
Após a procissão chega o momento da mesa branca, aberta ao público, onde as irmãs fazem a primeira refeição especial. Uma das responsáveis pelo banquete é Mércia Santos, que vestida com um torço branco e com as mãos ainda sujas de leite de coco, explica, minutos antes de começar a ceia, como funciona as preparações.
"É muita correria, estamos preparando tudo desde julho, é peixe, bacalhau, siri... Tudo para mesa branca do primeiro dia. A gente fica ainda mais na correria nos dias que preparamos a feijoada (distribuída no terceiro dia), depois o cozido (quarto dia) e o Caruru (para o último dia)", diz.
As missas de corpo presente de Nossa Senhora e da assunção de Nossa Senhora acontecem, respectivamente, no segundo e terceiro dias de festividade, que incluem ainda as procissões, valsa e samba de roda, além da distribuição de comidas típicas no Largo D'ajuda.
Primeira vez
Apesar de ser uma tradição secular, a festa ainda rompe barreiras territoriais todos os anos. E nem precisa ir muito longe para achar pessoas que participam pela primeira vez, característica que é comum entre a estudante Beatriz de Carvalho, de 18 anos, e da aposentada Ângela Leonildes dos Santos, de 62.
A primeira é de Cachoeira e soube da festa há quatro anos atrás, sendo a edição de 2019 a sua inicial. Já Ângela, é de Salvador e conheceu a festa através de um grupo no qual faz atividades físicas.
"É a primeira vez que venho na Festa da Boa Morte, é legal conhecer a cidade, a tradição e o samba de roda que é muito forte na região. De início, o que mais me chamou atenção foi a parte de entretenimento", disse a aposentada.
Já para Bia, o reconhecimento da importância da festa se torna muito mais nítido, após visitá-la pela primeira vez: "Além da importância histórica pra Cachoeira, é muito boa para o turismo e deveria ser mais valorizada pelas pessoas da própria cidade, justamente por movimentar a economia e promover essa união de diferentes pessoas".
Empreendedorismo
Já pensou ir prestigiar a Festa da Boa Morte e sair sem uma lembrancinha? Nem pensar! Com muita facilidade, encontra-se de brincos à camisetas personalizadas com temáticas religiosas e também da cidade.
A artesã Jose Suzart, que trabalha na Festa da Boa Morte há quatro anos, produz peças customizadas com desenhos da cidade e dos orixás. As peças custam a partir de R$35 e são únicas.
"Produzo todas as peças, trabalho com peças customizadas, lembranças de Cachoeira. Além dos orixás, tem a ponte da cidade, o presépio, os saveiros do Paraguaçu. As camisas que têm tecido africano custam R$60 e as dos orixás saem por R$35", completa.
A grande movimentação de turistas e moradores de regiões próximas são a garantia de boas vendas na época da festa. "Neste ano o movimento começou a crescer no terceiro dia de festa e a gente espera que seja que nem no ano passado, que pra mim foi bom", explicou.
Um sorriso negro, um abraço negro
Considerado Patrimônio Imaterial da Bahia desde 2010, o evento celebra a força e a religiosidade da Irmandade da Boa Morte, que com suas vestes, acessórios, cânticos e rituais mantidos até os dias de hoje pelas mulheres que integram a Irmandade, representam as ancestrais que deram os primeiros passos deste que é considerado o primeiro grupo de mulheres negras do Brasil.
A jornalista Cachoeirana, Camilla Souza, acredita na importância da Festa da Boa Morte, como significativo da luta travada dia a dia pela igualdade racial e de gênero.
"A manutenção dessa manifestação religiosa e cultural, com fortes relações com um triste e longo episódio da nossa história, já que a Irmandade surge com um dos objetivos principais de arrecadar fundos através da venda de quitutes, por exemplo, para a compra das cartas de alforria de negros escravizados, representa também a luta contra as opressões e desigualdades centrada na força das mulheres negras", ressalta.
*Sob orientação e supervisão do repórter Guinho Santos
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Redação iBahia
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