Nem-Nem é um termo que entrou recentemente em voga no Brasil, originalmente cunhado para expressar o status de uma parte da população, especificamente jovens na faixa dos 15-24 anos que “nem trabalham” e “nem estudam”. Na verdade, este termo foi abrasileirado a partir do termo global NEET´s, que no original em inglês rotula aqueles jovens classificados como “not in employment, education, or training” ou, seja, que não estão empregados, nem na escola, universidade ou treinamento. Curiosidades à parte, o fato é que o fenômeno é global e tem sido apurado e recebido mais atenção por parte de organizações como a ILO (International Labour Organization), mais conhecida como OIT, Organização Internacional do Trabalho, aqui no Brasil.
A crescente preocupação não tem sido motivada, evidentemente, pelo índice de desemprego e total e completa inatividade que acomete boa parte das populações jovens dos países subdesenvolvidos, mas devido ao alarmante e crescente desemprego, conjugado com falta de atividade, registrados entre os jovens de países mais desenvolvidos, onde a Espanha é o caso mais proeminente. O fato de uma geração perdida estar sendo gestada nestes países, onde o sistema educacional é muito mais bem estruturado do que o nosso, por exemplo, acendeu o sinal de alerta global. Afinal, se nem os jovens de países “resolvidos” estão conseguindo emprego facilmente e, o que é pior, muitos estão desistindo de procurar qualquer outra atividade – nem trabalham e nem estudam - qual será a perspectiva para a população de jovens de países menos desenvolvidos e, como é do nosso interesse, do Brasil ?
É por isto que cada vez mais se tem falado da geração “Nem-Nem” no Brasil. Apesar do propalado “pleno emprego”, largamente alardeado por nossas autoridades, onde ostentamos níveis de desemprego baixos quando comparados com os países desenvolvidos em crise aguda – ainda que acima da média mundial, causa espanto termos uma geração de Nem-Nems que corresponde a quase 20% do jovens, segundo o IBGE, que nem trabalham e nem estudam. As estatísticas, como sempre, servem a quem as propaga...
A maior dificuldade encontrada ao se comparar a situação de emprego no Brasil com o de economias como as da União Européia, por exemplo, reside justamente na qualidade das vagas que são ofertadas e também no estágio cultural e social em que se encontra cada país. Mesmo assim, algumas comparações com estes países desenvolvidos podem ajudar a decifrar em parte o fenômeno Nem-Nem aqui no Brasil.
Nas economias mais avançadas, não existem todos os empregos de baixa qualificação que estão largamente disponibilizados aqui no Brasil, visto que estes empregos foram massacrados pela automação em estágio mais avançado. Não por acaso, não existem, praticamente, “frentistas” trabalhando em postos de gasolina, assim como diversas ocupações relacionadas ao trabalho de trocador de ônibus, bilheteiros diversos, empacotadores, dentre outras que requerem menos qualificação. Estes empregos simplesmente não existem mais nestes países, o que torna a comparação assimétrica. O perigo para países como o Brasil, portanto, é que de uma forma ou de outra terminaremos por seguir a tendência mundial caracterizada pela automação crescente de atividades e perda de postos de trabalho que requerem qualificação reduzida, o que deve tornar o problema do desemprego e do Nem-Nem ainda mais agudo, ainda que mais à frente.
Por ora, tem sido identificado que uma das causas desse fenômeno pode ser atribuída à defasagem do aprendizado. Uma parte significativa e cada vez maior dos jovens tem percebido que o que aprenderam na escola, até o final do curso universitário, é insuficiente para dar o próximo passo educacional, o que os desqualifica para um mercado de trabalho sequioso de profissionais cada vez mais bem formados e informados e interrompe seu processo de aprendizado. Muitos destes jovens, ainda que carreguem uma bagagem de estudos razoável, porém insuficiente, não se sente motivada a procurar empregos de qualificação inferior. Se houver alguma retaguarda familiar ou benefícios sociais à disposição, preferirão ser Nem-Nem´s. Isto tem ocorrido com frequência nos países desenvolvidos e podemos observar que este fenômeno é igualmente observado por aqui.
Outro dado interessante é que uma parcela significativa de Nem-Nems é composta por mães precoces ou muito jovens. A precária infraestrutura social de serviços, algo que vai um pouco mais além de bolsas de auxílio básicas, caracterizadas pela mera distribuição de dinheiro, também contribui para condenar estas jovens mães a uma vida Nem-Nem. A falta de serviços propiciados pelo Estado, como creches, condena parte expressiva das jovens mães a uma permanente desqualificação para o mercado de trabalho, o que também é incentivado pelos programas sociais de auxílio garantido. Não por acaso, entre os Nem-Nems, encontremos quase 80% das mães jovens.
Uma consequência gravíssima de ser um Nem-Nem é que os estudos realizados em países desenvolvidos mostram que quanto mais tempo se leva para ingressar em uma carreira após o final dos estudos, maior será a defasagem salarial ao longo de toda a vida profissional. Isto significa que, ao se tornar um Nem-Nem, quanto mais tempo permanecer nesta situação, menores serão as chances de sucesso profissional, assim como progressões e remunerações ao longo da vida.
Pode-se inferir que, em muitos casos, o desempenho escolar insuficiente acaba contribuindo para a redução de oportunidades de trabalho e estudo, levando a opções mais restritas e em direção a empregos de menor qualificação. Para o jovem que ficou no meio do caminho, uma armadilha perigosa estará armada. O jovem de média qualificação não se contentará facilmente com empregos de baixa qualificação ou considerados braçais e exaustivos, e tão pouco estará apto a assumir postos que requeiram um maior um maior nível de qualificação.
Uma nova classe emergente de jovens de classe média também começa a contribuir para a geração Nem-Nem. Para muitos, as opções não parecem claras nem estimulantes e a motivação para o mercado de trabalho é bastante reduzida. Quando aliamos uma bagagem de estudos limitada ao conforto propiciado pela longevidade dos pais, que agora podem trabalhar, e sustentar a família, por muito mais tempo, muitos jovens sentem-se confortáveis em ser Nem-Nems. Esta condição pode ser disfarçada por uma eterna indecisão nos estudos universitários, constante troca de cursos, ou simplesmente no caso daqueles que ficam estudando eternamente para concursos, sonhando com o emprego público ideal.
Embora esta fatia de jovens “estude”, na prática são estudos que não capacitam para o mercado de trabalho. O fenômeno dos Nem-Nem deve ser melhor compreendido, mas é fato que existe uma geração de jovens que tem se deparado com uma barreira, muitas vezes psicológica, que os impede de progredir. O remédio, agora e sempre, é estudar muito, buscar a capacitação, conversar e se informar com outros profissionais acerca das melhores profissões e oportunidades, informando-se bastante antes de empreender estudos efetivos que de fato contribuam para uma melhor formação profissional. Lembre-se, se você não estiver estudando algo que desafie a sua mente e seu tempo estiver sendo dedicado unicamente a interações nas redes sociais e joguinhos na Internet, baladas e hedonismo puro, algo vai mal e o preço pela falta de ambição será pago, cedo ou tarde.
Sergio Sampaio |
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