Um vídeo divulgado recentemente nas redes sociais mostra um dos últimos relatos e aparições públicas de Mãe Bernadete, assassinada na noite de quinta-feira (17) na cidade de Simões Filho, Região Metropolitana de Salvador. Na ocasião, em julho de 2023, a líder quilombola fazia um discurso sobre a violência na Bahia, sobre os ataques que o Quilombo Pitanga dos Palmares vinha enfrentando, sobre a morte do filho dela e também sobre a falta de atenção das autoridades sobre a situação.
A ministra Rosa Weber, na época presidente presidente do Supremo Tribunal Federal e do Conselho Nacional de Justiça, estava presente na ocasião. "Acho que quando chega até à morte...porque a revolta já é muito grande. O descaso das autoridades. O descaso, principalmente quando se trata de povo negro, povo preto. Pra senhora ter uma ideia...até hoje, não sei o resultado do assassinato do meu filho", disse Mãe Bernadete do relato.
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Falando sobre a violência na região e na Bahia, ela continuou: "É injusto. Recentemente, perdi um outro amigo...e amiga num quilombo também. É o que nós recebemos. Ameaças, principalmente de fazendeiros, de pessoas da região. É o que nós recebemos."
Além de Rosa Weber, a comitiva era formada pelo ministro do Tribunal Superior do Trabalho e conselheiro do CNJ, Luiz Phillippe Vieira de Mello, e os juízes Luís Lanfredi, Edinaldo Santos Júnior, João Felipe Lopes, Jônatas Andrade e Karen Luise Pinheiro.
Veja o relato completo abaixo:
O crime
A yalorixá e líder do Quilombo Pitanga dos Palmares, Maria Bernadete Pacífico, foi morta dentro do terreiro no dia 17 de agosto.
Homens armados invadiram o local, fizeram familiares reféns os colando em um quarto, atiraram em Maria em outro cômodo e fugiram levando celulares.
A yalorixá foi assassinada há quase 6 anos da morte do filho, Flávio Gabriel Pacífico dos Santos, que era mais conhecido como Binho do Quilombo. Os casos podem ter relação, como pontua Denildo Rodrigues, da Coordenação Nacional de Articulação das Comunidades Negras Rurais Quilombolas (Conaq).
Inicialmente, a suspeita da polícia é de que o caso esteja ligado a tentativas de invasão e ocupação de terras na região.
Ainda de acordo com Denilson, as lideranças das comunidades quilombolas e terreiros de Simões Filho são ameaçadas com frequência por grupos ligados à especulação imobiliária, interessados em ocupar os territórios.
Vale lembrar que a cidade fica a menos de 30 km de Salvador, que recentemente foi identificada pelo Censo Quilombola do Instituto Brasileiro de Geografia Estatística (IBGE) como a capital com a maior população quilombola do país, tendo quase 16 mil quilombolas e 5 quilombos oficialmente registrados.
Investigação
Em nota, divulgada após fala do Governador Jerônimo Rodrigues, a Secretaria de Segurança Pública (SSP-BA) informou que "repudia o homicídio da liderança quilombola Bernadete Pacífico, se solidariza à família e informa que as Polícias Militar, Civil e Técnica, após tomarem conhecimento do fato, iniciaram de imediato as diligências e a perícia no local para identificar os autores do crime. Informações preliminares indicam que dois homens, usando capacetes, entraram no imóvel da vítima, na cidade de Simões Filho, e efetuaram disparos com arma de fogo. Detalhes sobre a dupla de homicidas podem ser enviados, com total sigilo, através do telefone 181 (Disque Denúnica da SSP)"
A Polícia Civil, por sua vez, informou que "a 22ª delegacia territorial de Simões Filho investiga a morte de Maria Bernadete" e que "A autoria e motivação são apuradas. Guias periciais foram expedidas."
Atuação de Mãe Bernadete
Bernadete Pacífico era uma liderança quilombola e coordenadora da Coordenação Nacional de Articulação de Quilombos (Conaq). Ela foi ainda ex-Secretaria da Igualdade Racial de Simões Filho e mãe de Flávio Gabriel Pacífico dos Santos, conhecido como Binho do Quilombo, morto em 2017.
Redação iBahia
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