No Brasil, o crescimento das separações entre idosos é uma coisa recente, mas, em países da Europa e nos Estados Unidos, já se tem notícia dessa tendência há bem mais de uma década, segundo a professora do Departamento de Direito da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes), Brunela Vincenzi.
“Estudos nesses países apontam que a primeira causa de todas é o aumento da expectativa de vida das pessoas. Elas estão mais saudáveis, então, falam que não querem mais viver com aquela pessoa por mais tempo, se estiverem infelizes, porque o sofrimento pode ser mais longo”, aponta.
O médico geriatra Jonas Gordilho, membro da Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia, concorda com a hipótese da expectativa de vida e ainda a associa à revolução cultural.
"As pessoas que estão entrando nos 60 anos hoje viveram uma revolução cultural, sexual e da independência da mulher. E muitos desses idosos mais jovens estão no meio dessa globalização, do acesso a novas informações, da quebra de tabus religiosos e sociais, ainda que isso varie de indivíduo para indivíduo”, explica ele.Além disso, Gordilho lembra que a menopausa acontece de uma forma diferente da andropausa. “No homem, é progressivo. Na mulher, a queda hormonal é mais abrupta, só que isso envolve alguns fatores da sexualidade. Muitas vezes, a mulher pode perder a libido e a lubrificação”, exemplifica. Assim, é possível que alguns homens procurem mulheres mais jovens. No entanto, em alguns casais, acontece o oposto – são as mulheres que continuam mais ativas e que decidem ir em busca de outra pessoa. Sem contar que os casais podem ter diferenças na forma como envelhecem. Há o envelhecimento normal – quando as pessoas passam a ter cabelos brancos, pele enrugada. Mas há, também, a senilidade, que é um envelhecimento causado por fatores agressores. “A pessoa fica mais dependente de terceiros, mais frágil. Então, o casal pode ter a mesma idade cronológica, mas não tem a mesma idade fisiológica”, explica.
No entanto, a professora Brunela destaca que há, de certa forma, pontos negativos na separação depois dos 60 anos. “O custo de viver sozinho é mais alto. Às vezes, um companheiro ajuda o outro, mas, se está sozinho, você pode precisar de um cuidador, por exemplo. Fica mais caro para a pessoa ou para o estado, mas cada um é livre para fazer o que quiser”, conclui a especialista. VergonhaApesar de estarem mais livres, muitos idosos ainda têm vergonha em dizer que são divorciados. Segundo a psicóloga Niliane Brito, que trabalha com psicoterapia para casais, isso está relacionado ao luto do fim de relacionamento. “É um luto simbólico. Não é porque a pessoa morreu, mas precisamos trabalhar isso quando a pessoa não se reconhece como divorciada”, diz.
Mas, na opinião dela, até mesmo a forma como os relacionamentos ocorrem hoje em outras faixas etárias podem influenciar o aumento do número de divórcios na terceira idade. Segundo a psicóloga, é um reflexo da efemeridade presente na maioria das relações atuais. “Isso pode estar projetando esse aumento nos idosos. Antigamente, a gente ‘consertava’ o que estava errado. Tentava melhorar o relacionamento. Hoje em dia, a gente prefere terminar, porque não condiz com a realidade do primeiro momento”, explica.
Assim, quando as pessoas veem que as impressões do começo do relacionamento, que é de idealização do amor, quando percebem os defeitos da outra parte, nem sempre estão dispostas a continuar. “A gente termina e não resolve isso com a gente. Por isso, sempre vai levar para o próximo relacionamento e pode não dar certo no próximo”, alerta Niliane.
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