O número de denúncias relacionadas à discriminação religiosa aumentou 70% no ano passado no Brasil na comparação com o ano anterior, chegando a 252, o mais elevado patamar registrado desde a criação do Disque Direitos Humanos, o Disque 100, há quatro anos. Os dados foram divulgados hoje (21), Dia Nacional de Combate à Intolerância Religiosa, pela Secretaria de Direitos Humanos do Ministério das Mulheres, da Igualdade Racial e dos Direitos Humanos. Em 2014, foram 149 denúncias.
Diante do agravamento da intolerância religiosa, líderes de diversas matrizes religiosas que estiveram em Brasília para participar de uma mesa de debates sobre o tema se uniram para criar uma rede nacional de proteção para as vítimas desse tipo de crime. “Hoje foi a primeira discussão de um escopo e dos princípios do que será essa rede”, disse o secretário nacional de Proteção e Defesa de Direitos Humanos em exercício, Fernando Matos, que recebeu os líderes.
Ao comentar o aumento no número de tais denúncias, Matos disse que o acirramento dos ânimos e as manifestações de intolerância observados na esfera digital podem ter contribuído para maior ocorrência de crimes reais. “É uma situação muito complexa. Temos participado de um mundo cada vez mais virtual e digital, o que tem permitido que haja episódios de intolerância descambando para o mundo real." Matos destacou também o crescente reconhecimento da capacidade do Disque 100 de encaminhar essas denúncias às autoridades responsáveis por sua apuração.
Ao longo do ano passado, alguns casos se destacaram no noticiário. Em junho, uma menina de 11 anos foi apedrejada quando saia de um culto religioso em um subúrbio do Rio de Janeiro. Já no Distrito Federal, houve uma série de ataques contra terreiros de candomblé entre setembro e novembro, e um incêndio, que suspeita-se ter sido criminoso, destruiu um terreiro na cidade do Paranoá.
São Paulo tem mais denúncias
O maior número de denúncias foi feito em São Paulo (37), seguindo-se o Rio de Janeiro (36), Minas Gerais (29) e a Bahia (23). Embora haja a impressão geral de que grande parte das vítimas pertence a religiões de matrizes africanas, a Secretaria de Direitos Humanos não apresentou dados destrinchados por religião. “Tivemos quatro assassinatos bárbaros em um período de dois meses”, relatou a mabeto (mãe de santo) Nagentu, representante do candomblé angola, que viajou de Belém a Brasília para apresentar o posicionamento de sua comunidade.
Ela criticou, inclusive, o próprio conceito de “tolerância religiosa”. “Tolerância é uma palavra muito grave. Ninguém quer ser tolerado, quer ser respeitado como ser humano, como cidadão, como pessoas de bem, como pessoas que têm a sua opção de escolha, de sua tradição e de crença. Vivemos num país laico”, afirmou Nagentu.
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