Vinte anos se passaram desde a Conferência Rio 92, e até agora os avanços ambientais conseguidos no mundo ficaram mais no campo da teoria. "Avançamos muito no sentido de elaborar documentos importantes como as convenções do Clima, da Biodiversidade e a Carta da Terra. A conferência também sensibilizou a sociedade e provocou um maior engajamento das empresas", contabiliza o vice- presidente do Instituto Ethos, Paulo Itacarambi. Mas ele mesmo emenda que "muitos compromissos implementados não foram cumpridos". De lá para cá, a emissão de carbono na atmosfera aumentou e o desmatamento também, apesar do Brasil ter conseguido contê-lo. Um documento divulgado semana passada pela ONU ressalta que, nos últimos 30 anos, das 90 metas ambientais estabelecidas em acordos globais, apenas quatro tiveram progresso significante: eliminação do uso de algumas substâncias químicas, remoção do chumbo dos combustíveis, acesso à água e incentivos a pesquisas para a redução da poluição marinha. Hoje, com a abertura oficial da Rio+20, o desafio é justamente colocar em prática soluções para os problemas ambientais do mundo. E é bom que os líderes de governo presentes consigam algo de concreto, porque o evento está custando caro aos cofres federais do Brasil: o orçamento previsto é de R$ 430 milhões.
O desafio é grande porque os problemas não são poucos, conforme se pode perceber pelo mapa acima. Principalmente se for considerado que ali estão listados apenas os principais problemas de cada país, o que não significa que eles não tenham outros. A começar pelo Brasil que precisa aprender a combater a poluição dos rios e diminuir a produção de lixo. A questão dos resíduos também é um problema para a maioria dos países desenvolvidos, por causa do consumo exagerado. "Os produtos são feitos para não durarem e irem logo para o lixo. Quando quebram, é mais barato comprar outro", explica Emerson Tales, da Ufba. Segundo ele, esse é o caso da maioria dos países europeus e dos Estados Unidos. Só que alguns gestores destes países não participarão da discussão porque não estarão na conferência. O presidente dos EUA, Barack Obama, já avisou que não vem. "Ele não gosta de se meter, acha que vão apertá-lo porque ele não assinou o tratado", lembra o professor da Uneb Joaquim Soares Neto, especialista em geotecnia ambiental. Ele se refere ao protocolo de Kyoto, no qual os países desenvolvidos se comprometem a diminuir a emissão de gases poluentes no ar. A chanceler alemã Angela Merkel também não estará na Rio+20. Deveria, pois a Alemanha é um dos poucos países europeus que ainda utilizam carvão mineral como matriz energética. O material é o que mais libera partículas de carbono na camada de ozônio. Ali pertinho, no Norte da Europa, Finlândia, Suécia e Dinamarca são exemplos do bem. "Eles conseguiram um bom nível de desempenho ambiental", elogia o coordenador de Engenharia Ambiental da Unifacs, Paulo Sérgio Araújo, explicando que a pequena dimensão territorial destes países, aliada ao alto grau de educação da população influenciam no resultado positivo. Já o Canadá e a Holanda são os que menos produzem lixo no mundo. No outro extremo, estão os países pobres, onde a desinformação e a falta de condições básicas de higiene são os principais problemas. "Há uma falta de consciência das pessoas", destaca Emerson. Governo gasta R$ 430 milhões só com eventoEm um evento que discute a economia verde e o desenvolvimento sustentável, o governo brasileiro dá o mau exemplo por conta de suas questões burocráticas. O governo federal vai gastar R$ 7 milhões só para alugar 22 mil itens de mobiliário para a Rio+20. As empresas que participaram do pregão garantem: o valor é três vezes mais alto do que se esses itens fossem comprados. Só para ter ideia, na época da Eco-92, os móveis foram comprados pelo governo e até hoje são utilizados em órgãos públicos federais. Em sua defesa, a assessoria da Rio+20 garante ter sido feita “pesquisa de mercado”, diz que o aluguel saiu “mais barato”, mas não mostra comprovantes. No total, serão empregados no orçamento planejado R$ 430 milhões pelo governo brasileiro. Quando comparado ao encontro do G20 (grupo das potências em desenvolvimento) de 2010, no Canadá, que custou por volta de US$ 800 milhões (aproximadamente R$ 1,6 bi), o evento pode ser considerado barato. Uma estimativa do governo brasileiro espera cerca de 50 mil pessoas, mas o número ainda é incerto. Porém não são apenas as autoridades que irão para o Rio de Janeiro. Três grupos vão sair de diferentes estados em direção à conferência de bicicleta. O bonde Sul, com ciclistas de São Paulo, Santa Catarina e Rio Grande do Sul, viaja em uma rota de 650 quilômetros de extensão. O bonde Centro-Oeste, com 11 integrantes, fará uma rota de 1.200 quilômetros. No bonde Nordeste, apenas dois integrantes farão a mais longa das viagens, 2.200 quilômetros.
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