A falta de álcool em gel 70% nas farmácias e mercados tem feito com que algumas pessoas procurem alternativas equivocadas para substituir o produto recomendado para evitar o contágio do novo coronavírus. Especialistas alertam que as pessoas devem evitar soluções caseiras. Opções com vinagre e gelatina, por exemplo, são ineficazes e o manuseio de álcool em casa pode ser perigoso.
O presidente do Conselho Regional de Química da 3ª Região (CRQ-III), Rafael Almada, ressalta que a receita caseira para reproduzir um frasco de álcool em gel não funciona e ainda pode ser perigosa. Segundo ele, o vírus é desconhecido e o uso inadequado de matéria prima pode deixar de ser uma arma de proteção e causar efeito contrário, como a potencialização infecções, alergias e erupções cutâneas.
— Não recomendo ninguém a fazer em casa. A pessoa que não tem conhecimento não deve se aventurar em algo que não sabe. Primeiro, a pessoa precisa ter conhecimento para produzir o álcool, saber o fator de assepsia e não criar a falsa sensação de que fará efeito. Outro fator é a mistura, que pode atacar a pele se não tiver o valor do pH controlado — diz.
O Conselho Federal de Química (CFQ) também emitiu uma nota na qual não recomenda a produção caseira de álcool em gel. A instituição alerta que quando se utiliza álcool líquido em elevadas concentrações há maior risco de acidentes que podem provocar incêndios, queimaduras de grau elevado e irritação da pele e mucosas. Além disso, dependendo dos produtos utilizados para aumentar a consistência da mistura, ao invés de eliminar microrganismos uma pessoa pode até potencializar a proliferação.
A recomendação do uso de vinagre como antisséptico é equivocada. O presidente do Conselho Federal de Química, José Ribamar Oliveira Filho, destaca que o produto é praticamente ineficaz na destruição de microorganismos.
— Vinagre, além de ter cheiro, tem uma concentração que varia de 4% a 5% de ácido acético. Para cada 100 ml de vinagre, eu só tenho 5 ml de ácido, o que é infecaz para combater o vírus. O etanol, ao contrário, age rapidamente sobre bactérias vegetativas (inclusive microbactérias), vírus e fungos, sendo a higienização equivalente à lavagem de mãos com sabão comum ou alguns tipos de antissépticos degermantes — explica.
A farmacêutica Amouni Mourad, assessora técnica do Conselho Regional de Farmácia de São Paulo, alerta para que as pessoas tenham cuidado com receitas que podem machucar a pele das mãos.
— Hipoclorito, por exemplo, é só para superfície, é a água sanitária. Até tem antissépticos à base de iodo, mas esses itens podem agredir as mãos — explica.
Para quem não consegue encontrar o álcool em gel, Amouni sugere três opções que podem ser usadas para combater o vírus de forma eficaz e também segura para a pele:
Lenço umedecido com antisséptico
Álcool "swab" — mini lenços usados em laboratórios de análises clínicas, antes de aplicar injeções
Antisséptico em spray com gluconato de clorexidina, ou apenas clorexidina
Atenção aos produtos falsificados
Para ser comercializado, todo álcool gel precisa ter registro na Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e seguir o formulário nacional da Farmacopédia Brasileira, que estabelece os requisitos mínimos de qualidade para fármacos, insumos, medicamentos e produtos para a saúde, por exemplo. Os consumidores, portanto, não devem utilizar produtos sem rótulo e de procedência duvidosa.
— Antes de comprar o álcool gel, ou mesmo líquido, o consumidor deve verificar o rótulo, conferindo informações como a finalidade e se há o registro da Anvisa. A venda de produtos sem rótulo ou fora da embalagem original é proibida. E a população precisa fazer a sua parte não comprando produtos nessas condições e ainda denunciando — alerta Flávio Graça, superintendente de Educação da Vigilância Sanitária.
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Redação iBahia
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