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Entenda o procedimento estético que levou à morte uma bancária

Conhecida como bioplastia, a técnica não é indicada por cirurgiões plásticos

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Redação iBahia

17/07/2018 às 16:11 • Atualizada em 31/08/2022 às 18:52 - há XX semanas
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No último sábado, a bancária Lilian Calixto, de Cuiabá, no Mato Grosso, veio ao Rio para realizar um procedimento estético nos glúteos. O preenchimento, entretanto, teve sérias complicações e Lilian teve de ser atendida em um hospital com taquicardia, sudorese intensa e hipotensão. Ela não resistiu e morreu na madrugada deste domingo.
O caso chama atenção para os perigos de procedimentos estéticos realizados com profissionais não qualificados. No caso de Lilian, ela fez o preenchimento com Denis Cesar Barros Furtado, conhecido nas redes sociais como "Doutor Bumbum". Ele não tem CRM no Rio e está foragido.
Além disso, o grave episódio levanta dúvidas sobre a segurança do procedimento conhecido como bioplastia, geralmente feito com uso de polimetilmetacrilato (PMMA), um material sintético.
— A bioplastia é um preenchimento de uma região por algum material sintético para devolver volume àquela área do corpo que tenha algum tipo de flacidez ou um tipo de depressão que precise ser reposta. As regiões onde é feito o procedimento são glúteo e face — explica o cirurgião plástico André Maranhão, Presidente da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plastica — Regional do Rio de Janeiro.
Ele ressalta que, para esses fins, a bioplastia não é a opção escolhida pelos cirurgiões plásticos em geral, que preferem implantes de silicone ou um procedimento conhecido como lipoescultura, que é a retirada de gordura de alguma área do corpo que é transferida para onde está faltando. A liposcultura pode custar entre R$ 10 mil e R$ 20 mil.
USO SÓ DEVE SER FEITO EM QUANTIDADE ´ÍNFIMA'
Outra questão importante é que o PMMA é um produto autorizado pela Anvisa para pacientes com HIV que tenham uma espécie de atrofia na face, conhecida como lipodistrofia facial. A aplicação, nesses caos, é em pequena quantidade.
— Para o glúteo, precisaria de um alto volume, o que não é seguro. O procedimento deve ser feito em locais como clínicas e hospitais onde exista uma estruitra para socorro médico em casos de emergência — ressalta Maranhão.
Para Elvio Bueno Garcia, presidente da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica, regional São Paulo, o que provavelmente foi feito por Denis foi, com a paciente deitada em uma maca, a injeção do produto na região glútea. Não se sabe se a aplicação foi subcutâneo ou intramuscular.
— A região glútea tem um certo volume de gordura e massa muscular e, para se promover um impacto no volume dessa área, é preciso injetar grandes volumes de material. Ainda não se sabe, nesse caso, o que foi feito e qual o volume aplicado, mas o procedimento recomendado pela Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica é que se faça enxerto de gordura e que isso seja feito nos espaços subcutâneos — afirma o especialista.
Garcia acrescenta que há uma regulamentação sobre o local onde o procedimento foi feito. O médico precisa ter um consultório regulamentado, tanto na prefeitura, quanto na Anvisa. E procedimentos assim só podem ser feitos em clínicas credenciadas ou hospitais.
O médico Ricardo Cavalcanti Ribeiro, chefe da divisão de Cirurgia Plástica e Reconstrutiva do Hospital Universitário Gaffrée Guinle, da Unirio, conta que, nos últimos quatro anos, ele mesmo atendeu 15 casos de pessoas com graves complicações após realizarem bioplastia. Duas delas morreram. Em algumas situações, a substância injetada foi a PMMA, mas o mesmo problema pode ser gerado por diversos outros produtos, como hidrogel, óleo comum, silicone líquido e até cimento.
— O grande problema desses produtos é que, uma vez injetados, não tem como serem totalmente retirados. Então, se der algum problema, o problema será enorme. Essas substâncias podem se espalhar por todo o corpo. Muito diferente de uma prótese de silicone, que pode ser retirada a qualquer momento — diz o cirurgião plástico. — As pessoas que se injetam essas substâncias são geralmente muito jovens, e isso é preocupante. O uso só pode ser feito, em pacientes com HIV que tenham atrofia facial, em quantidades ínfimas. Jamais para preencher todo o bumbum.
PERGUNTAS E RESPOSTAS
Como a substância PMMA age no corpo?
Uma vez que ela é líquida, ao ser injetada no bumbum, por exemplo, ela se espalha pela região e adere aos músculos. Isso faz com que ela seja impossível de ser completamente retirada. Em geral, a substância acaba entrando nos tecidos e, se caírem dentro de um vao sanguíneo, podem levar a embolia.
Quais são os riscos?
Um dos principais riscos a partir da realização do procedimento é ter uma embolia. Em alguns casos, o problema pode levar à morte. No caso da bancária, considerando a área onde foi feita a aplicação, o volume que foi aplicado e a rapidez do óbito, acredita-se que possa ter sido embolia. Outras intercorrências não são tão rápidas. Outro risco é de infecção. Além disso, a substância pode atingir outras partes do corpo.
Como evitar complicações em procedimentos estéticos?
Para qualquer procedimento estético, deve se procurar um profissional habilitado. Para isso, o paciente pode pesquisar pelo médico nos sites da Sociedade Brasileira de Dermatologia ou da de Cirurgia Plástica. É possível conferir os profissionais registrados no estado onde a pessoa fará o procedimento.
Outro cuidado é prestar atenção no tipo de divulgação que os profissionais fazem de seu trabalho. Publicações com fotos de "antes e depois" e registros com artistas, por exemplo, podem ser consideradas antiética.
A estrutura do local onde será feito o atendimento deve ser observada. O procedimento não deve ser feito em um apartamento, por exemplo. Deve ter os alvarás da prefeitura e da vigilância sanitária para funcionar. Outra questão é desconfiar de preços muito baixos.
RECOMENDAÇÕES SOBRE PROCEDIMENTO
O vice-presidente do Conselho Federal de Medicina e coordenador das Câmaras Técnicas de Cirurgia Plástica e de Produtos de Procedimentos em Estética, Antônio Gonçalves Pinheiro, fez um alerta público sobre bioplastia em razão da morte da bancária. Ele lembrou da reunião por integrantes das Câmaras Técnicas de Cirurgia Plástica em 17 de março de 2006, que decidiu pela emissão de um comunicado com cinco recomendações sobre o procedimento.
Entre os avisos está o de que não há estudos sobre o comportamento a longo prazo do produto usado, o PMMA (polimetilmetacrilato), para preenchimentos, principalmente em grandes volumes e intramuscular. Outro alerta é sobre "a constatação de que não-médicos aventuram-se de maneira irresponsável em procedimentos invasivos de preenchimentos, expondo pacientes a riscos inaceitáveis".

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