Vem bombando nas redes sociais a imagem de cinco jovens descalços, sem camisa, de bermuda, com os rostos cobertos por camisetas, em uma escadaria do morro do Turano, na zona Norte do Rio. Em punho, a turma aparece armada...com instrumentos musicais, como saxofone, trompete e trombone. Músicos moradores da comunidade, Matheus Silva, Marcio Santana, Gilson Reis e os irmãos Israel e Misael Silva estampam o registro, clicado pelo fotógrafo Anderson Valentim. A foto faz parte do projeto Favelagrafia, criado pela agência de publicidade NBS.
Em parceria com uma marca de celulares, o Favelagrafia distribuiu aparelhos a nove fotógrafos residentes em nove comunidades espalhadas pela cidade. Coube a Anderson, representante do Borel, ser o autor da imagem que viralizou nos últimos dias.— Tirei a foto justamente uma semana após aquela guerra no Turano. Minha intenção é ir na contramão do que chega aos jornais. A partir de uma referência de imagem que roda na mídia, mudar essa impressão única de guerra e violência colada nas comunidades. Parece que perdemos nossa humanidade, nossa sensibilidade — desabafa Anderson, que também é músico e amigo de longa data dos cinco personagens de sua foto.Casado e pai de um menino de 5 anos, ele trabalha como segurança de uma empresa para pagar sua faculdade de Design. Filho de uma empregada doméstica e órfão de pai (também músico) desde os 13 anos, ele acredita que seu destino poderia ter sido outro, não fossem os cliques inspiradores pelo caminho.— A arte me salvou. E salvou os meus amigos. Há 90% da população nas favelas fazendo coisas legais. Espero que um dia a gente possa viver da nossa arte — confessa o fotógrafo.Projeto vai virar exposição, site e livroPensado pelos publicitários André Havt e Karina Abicalil, o Favelagrafia vem registrando em seu perfil no Instagram, desde julho, imagens peculiares das nove comunidades selecionadas para o projeto.Para Aline Pimenta, comandante da iniciativa, a principal missão do Favelagrafia é conseguir, com os nove fotógrafos que tocam o projeto, simbolizar a infinidade de talentos que mora nestas comunidades e são desconhecidos.— Nossa intenção é colocar holofotes nas aptidões que eles têm. Mostrar o outro lado da moeda. Mostrar que o morro não é só tráfico, arma e perigo — define Aline, que avisa: o Favelagrafia vai virar exposição em novembro (ainda sem data e local definidos), além de ganhar as páginas de um livro e se tornar um site com todas as fotos hospedadas.
A arte como arma: foto no Turano faz parte do Favelagrafia. (Foto: Anderson Valentim/Favelagrafia) |
Veja também:
Leia também:
AUTOR
Redação iBahia
AUTOR
Redação iBahia
Participe do canal
no Whatsapp e receba notícias em primeira mão!
Acesse a comunidade