Quem faz sucesso com a música — sucesso de verdade, daquele de arrastar povo — acaba tendo que viver uma vida que a maioria dos mortais sequer pode conceber. São dias que não acabam nunca, nos quais as tarefas mais corriqueiras levam horas por causa das exigências da celebridade. Dias em que os momentos de descontração, as horas de sono e a atenção à família e à vida pessoal deixam de ter importância — há que se tirar todo o proveito possível da maré de popularidade antes que ela baixe.
E mesmo nos tempos em que os discos ainda vendiam aos milhões e garantiam uma boa renda ao artista, cair na estrada era inevitável. O ídolo vive do público, e este quer ver o ídolo de perto. Num país de dimensões continentais como o Brasil, isso significa enormes deslocamentos, que os grandes nomes da música popular brasileira venceram pelo ar e pela terra, em estradas nem sempre em boas condições, às vezes guiando seus próprios carros, exaustos depois de apresentações e cumprimentos no camarim.
Claudinho (da dupla com Buchecha), João Paulo (do Daniel) e Gonzaguinha foram alguns dos astros que sucumbiram a acidentes automobilísticos em deslocamentos pós-show. Na realidade da música das multidões de 2019, eles deveriam ser exemplo de um tempo que acabou. Mas a nova realidade, como foi tragicamente demonstrado com a morte de Gabriel Diniz, não parece ser muito diferente ou tampouco oferecer menos riscos a quem entra na roda viva do estrelato.
Três shows em cidades diferentes no mesmo dia
O maior acesso a jatos velozes permite com que um artista com grandes equipes leve ao limite a sua capacidade de estar presente em vários lugares — há aqueles que conseguem fazer até três apresentações, em três cidades, num mesmo dia. Os shows respondem hoje pela maior parte da receita dos grandes astros da música. E a concorrência, especialmente no campo do sertanejo, é cada vez maior. Ou seja: artista de sucesso que não tiver uma grande disponibilidade de pular de um palco para o outro, com rapidez, não se cria.
O transporte aéreo particular é fundamental não só para a construção de grandes carreiras mas também para que o artista possa desfrutar de algumas — poucas que sejam — horas em casa, com a família ou entes queridos, antes de começar uma nova semana. Caso de Gabriel, que se deslocava para encontrar a namorada, aniversariante do dia .
Para que a máquina da música continue girando, há que se garantir que os transportes respeitem os requisitos mínimos de segurança, a fim de evitar novas tragédias. Ou então, tentar reconhecer a hora em que se deve parar e respirar um pouco.
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Redação iBahia
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