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Homem relata que foi abusado 50 vezes em centro religioso

Líderes religiosos foram denunciados pelo Ministério Público por usar de sua posição para manter relações sexuais com seguidores

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Redação iBahia

23/08/2018 às 18:27 • Atualizada em 30/08/2022 às 20:24 - há XX semanas
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Um homem que frequentou por cerca de dois anos o Centro Espiritualista Semeadores da Luz (CESL), na Ilha do Governador (RJ), relatou ter sido vítima de pelo menos 50 atos libidinosos praticados por um líder religioso do local. Outro frequentador do centro sofreu abusos por 14 anos consecutivos. Uma terceira vítima se submeteu a cinco relações sexuais e, após questionar a prática, foi convencida a manter os atos por mais oito meses, acreditando ser obrigada a cumprir o compromisso de ordem espiritual já assumido.

Foto: Reprodução/Google Maps

Esses são alguns casos relatados na denúncia que o Ministério Público estadual ofereceu à Justiça na terça-feira. De acordo com o documento, os líderes religiosos Marcelo Antonio Marques Prazeres, Leonardo Campello Ribeiro e Jayson Garrido de Oliveira abusaram sexualmente de seguidores no que chamavam de rituais de "iniciação tântrica".

A investigação sobre os abusos começou em julho do ano passado, quando uma das vítimas procurou o MP para denunciar abusos. A primeira denúncia encorajou outros frequentadores do centro a relatarem suas experiências. A Polícia Civil instaurou um inquérito ouviu 25 pessoas ao longo de cinco meses. Ao longo dos depoimentos, constatou-se que Marcelo, Leonardo e Jayson — identificados respectivamente como presidente, vice-presidente e médium do centro — simulavam incorporar entidades e usavam de suas posições para manter relações sexuais com homens e mulheres que frequentavam o local.

Um dos frequentadores que denunciou o caso relatou ter sido submetido a pelo menos 50 atos libidinosos, entre maio de 2014 e agosto de 2016. De acordo com seu relato, Marcelo, autoridade espiritual máxima da seita, sugeriu que ele deveria praticar a iniciação tântrica para trabalhar seus conflitos sexuais. A partir daí, o líder espiritual passou a manter relações frequentes com a vítima, sob o pretexto de que aquele seria um caminho para elevação espiritual e resolução de conflitos internos.

Outra vítima relatou que começou a frequentar o centro em 1997 e, desde aquele ano, foi convencida por Marcelo da importância de realizar prática tântrica e manter o sigilo "iniciático", a fim de alcançar maior evolução espiritual, através do ato sexual, para despertar um chacra. Os abusos continuaram até 2011, quando a vítima descobriu que estava sendo manipulada por Marcelo, após perceber que havia envolvimento emocional por parte do líder espiritual. De acordo com seus relatos, durante os atos sexuais os religiosos usavam vestimentas brancas, repetiam mantras e utilizavam ervas e mel.

Uma terceira vítima chegou a questionar as práticas, após ter cinco relações sexuais com uma das autoridades religiosas do centro, mas foi convencida a continuar. As práticas começaram em maio de 2006 e duraram até o final daquele ano. Ao todo, foram 14 atos. De acordo com seu relato, os denunciados, que se diziam instrutores tântricos fidedignos e de confiança, o incentivaram a continuar a manter relações para alcançar maior evolução espiritual.

Foram colhidos depoimentos de 12 vítimas que sofreram abusos por parte dos três denunciados. A maioria delas afirmou, em depoimento, que os líderes religiosos ludibriavam e manipulavam os frequentadores com seus conhecimentos sobre diversas vertentes religiosas.

A denúncia do MP trata Marcelo e Leonardo como "pessoas inteligentes, com profundos conhecimentos religiosos e alto poder de persuasão". No centro, que alega pregar o universalismo como filosofia, reunindo vertentes religiosas de umbanda, candomblé, Igreja Gnóstica Cristã e correntes orientais, os três, de acordo com a denúncia do MP, diziam estar possuídos por entidades como "Caboclo Pena Branca", "Preta-Velha Maria Conga", "Vovô-Rei Congo de Aruanda" e "Boiadeiro Urubizara" para coagir os fiéis a ter relações com eles.

— Essas pessoas estavam sendo induzidas a praticar um ritual religioso e no final eram verdadeiros abusos sexuais. Tem vítima que tentou suicídio. Tem vítima que até hoje se submete a tratamento psiquiátrico. Tem vítima que nunca mais se acertou na vida profissional. Para o criminoso, a melhor vítima é sempre a pessoa que não tem a consciência de que é vítima. Quando ela descobre meses, anos depois, as sequelas são enormes — diz o promotor de Justiça Sauvei Lai, da 30ª Promotoria de Investigação Penal do MP, que assina a denúncia.

ACUSADO FINGIA SER PSICÓLOGO
A Promotoria denuncia ainda que Leonardo, identificado como vice-presidente do centro, sabia dos abusos e não os impediu, inclusive incentivando as vítimas a obedecerem à vontade de Marcelo. Ele também é denunciado por praticar atos sexuais com fiéis, afirmando que uma entidade havia determinado.

Leonardo foi denunciado ainda por fingir ser psicólogo e exercer irregularmente a profissão ao menos 67 vezes com diferentes vítimas, cobrando pelas sessões realizadas em um consultório dentro do próprio centro - ele chegou a ter um filho com uma das vítimas, segundo o documento. Em um dos depoimentos à polícia, uma suposta vítima, que trabalhava como secretária no centro, afirma que Leonardo uma vez afirmou que seu problema de insônia era causado por abstinência sexual.

O terceiro denunciado, Jayson, apontado como médium antigo do centro, praticou ato libidinoso com duas vítimas, de acordo com a investigação. Uma delas tinha 15 anos de idade quando ocorreu o abuso, em 2011. Na ocasião, ele alegou estar sendo possuído por "Exu Caveira" em um ritual chamado por ele de "magia vermelha". Durante o ritual, ele teria beijado a boca e passado a mão nas partes íntimas da menor de idade, além de masturbar uma segunda vítima.

O trio foi acusado dos crimes de violação sexual mediante fraude, com pena prevista de reclusão de 2 a 6 anos, e por estelionato, com pena de 1 a 5 anos. Em depoimento à polícia, Jayson Garrido de Oliveira negou os abusos. Marcelo Antonio Marques Prazeres admitiu ter mantido relações sexuais com seguidores. Segundo ele, a maioria dos atos aconteceu fora do centro, e os praticados dentro da instituição só ocorreram por insistência da vítima.

Já Leonardo Campello Ribeiro admitiu ter mantido relações com duas frequentadoras do centro, às quais prestava supostos serviços de psicologia, mas afirmou que foram relações pessoais.

A reportagem tentou entrar em contato por telefone diversas vezes com o Centro Espiritualista Semeadores da Luz (CESL), sem sucesso. Na tarde desta quinta-feira o centro estava trancado e ninguém atendeu à campainha. Vizinhos dizem que o movimento na casa, que costuma ser intenso à noite, foi silenciado nos últimos dias, desde que o escândalo veio à tona.


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