Com quase seis meses de governo, o ministro da Justiça,Sergio Moro , terá uma prova de fogo na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) do Senado a partir das 9 horas desta quarta-feira. Habituado a interrogar durante os 23 anos que foi juiz federal, Moro deverá ser duramente questionado sobre matérias do site The Intercept que atribuem a ele e ao procurador Deltan Dallagnol mensagens trocadas por aplicativos de mensagens sobre casos da Lava-Jato , inclusive sobre o processo do triplex contra o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
A audiência com o ministro, que já era vista como um dos mais fortes embates entre governo e oposição, deve se tornar ainda mais intenso depois das informações divulgadas na noite dessa terça-feira de novos trechos apontando que, em um diálogo com Dallagnol, Moro reclamou de um procedimento que poderia prejudicar o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso , um “apoiador importante” da Lava-Jato.
Moro, no entanto, não estará sozinho. Apesar das fraturas na base governista, alguns senadores estão se articulando para fazer a defesa do ministro. Os dois lados, oposição e aliados de Moro, cantam vitória, mas o resultado do embate é imprevisível. Isto porque, embora a maioria da CCJ não morra de amores pelo ministro, vários senadores tem receio de entrar em choque com Moro que, conforme recentes pesquisas, ainda mantém elevada popularidade.
Um dos mais desembaraçados no campo da oposição é o senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP). O senador diz que, com a mesma ênfase que vinha defendendo a Lava-Jato até recentemente, cobrará explicações do ministro. O senador deverá questionar o ex-juiz não apenas por supostas irregularidades na condução da Lava-Jato, mas também pela escolha que fez ao deixar a magistratura e assumir um dos cargos centrais no governo Bolsonaro.
- Ele tinha duas alternativas. Uma era a história. A outra era a carreira. Ele escolheu fazer carreira no pior governo da história da República. Também não tenho dúvida que as conversas dele (com Dallagnol) tiram toda a credibilidade da Operação Lava-Jato - disse Randolfe.
Parlamentares do PT, PDT e PMDB, entre outros, deverão engrossar o coro das críticas a Moro. O ex-juiz será cobrado por supostas falhas técnicas na condução do processo que levou Lula à prisão e também por suposta atuação política. Para alguns, Moro atropelou regras para condenar o ex-presidente e fez vistas grossas a políticos aliados.
A defesa do ministro estará, principalmente, a cargo dos senadores Major Olímpio (PSL-SP), Álvaro Dias (PODE-PA) e Marcos Rogério (DEM-RO). Para eles, Moro é o maior símbolo do combate à corrupção e está acima das queixas de uma oposição ressentida. Para este grupo de parlamentares, conversas entre juízes, procuradores e advogados são normais e nada, até o momento, indica que Moro tenha cometido uma falta suficiente para comprometer qualquer processo.
- O PT e outros partidos vão atacar o Moro porque ele botou o Lula na cadeia. Mas não vejo motivo para recebê-lo mal aqui no Senado. No geral, acho que ele (Moro) vai ser bem tratado. Ele não é o criminoso nessa história. Ele é um raio de esperança no combate à corrupção neste país - afirma Marcos Rogério.
O senador Telmário Motta (PROS-RR) prevê equilíbrio de forças entre oposição e "moristas".
- Ele vai encontrar um ambiente hostil e, ao mesmo tempo, amistoso. Tem gente que vai bater. Tem gente que vai defender. Acho que ele terá uma enorme oportunidade de dar explicações sobre a atividade dele como juiz - afirmou Mota, que se inclui na bancada favorável ao ministro.
Trechos de conversas que vem sendo divulgadas pelo site The Intercept Brasil há duas semanas indicam que Moro indicou a Dallagnol uma testemunha para ser incluída no processo do "triplex" contra o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. O ex-juiz teria orientado também o procurador Carlos dos Santos Lima a emitir nota para apontar contradições num dos depoimentos do ex-presidente, afirmando que até então a imprensa repercutia apenas o "showzinho da defesa".
Outros trechos mostram que Moro sugeriu a troca de uma procuradora que, segundo ele, não saberia fazer perguntas. O ex-juiz cobrou até mais operações da Polícia Federal e sugeriu a inversão de duas delas.
Na semana passada, surgiram rumores de que as conversas de Moro com Dallagnol teriam sido vazadas por um procurador da Lava-Jato descontente com a suposta atuação política dos colegas. Durante um almoço de quase duas horas com parlamentares da bancada ruralista ontem, Moro disse que essas insinuações são, possivelmente, parte de uma tática para confundir a opinião pública.
- Isso (envolvimento de um procurador) é contra-inteligência. A Polícia Federal está investigando a invasão de aplicativos (do celular de Deltan e outras autoridades da Lava-Jato) por um grupo criminoso - disse o ministro, segundo relato de dos parlamentares presentes na reunião.
Na conversa com os ruralistas, Moro disse que nada fez de errado.
- Ele disse que não está preocupado porque tudo ocorreu dentro da normalidade. Disse que conversas entre juízes, procuradores e advogados são parte do cotidiano - contou o deputado Sérgio Souza (MDB-PR).
Moro teria dito ainda que não se recorda do conteúdo das conversas que teve com Dallagnol. Os diálogos teriam ocorrido há quase dois anos. O ex-juiz argumentou que não se lembra nem mesmo das mensagens trocadas há 30 dias.
Na semana passada, logo depois de acertar o depoimento na CCJ com o presidente do Senado, Davi Alcolumbre, Moro estava preocupado com a animosidade da oposição e, sobretudo, com a falta de unidade na base governista. Mas depois que foi recebido duas vezes no Palácio da Alvorada pelo presidente Jair Bolsonaro, o ministro passou a se mostrar mais confiante. Na segunda-feira, um assessor chegou a dizer que o ambiente no meio político estava menos tenso.
- O ministro está tranquilo porque sabe que não cometeu nenhuma ilicitude. Hoje o cenário está menos tenso. Mas o quadro político é sempre imprevisível - disse um auxiliar do ministro.
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Redação iBahia
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