O ministro das Relações Exteriores, Antonio Patriota, disse que vai conversar ainda hoje (19) com o chanceler britânico, William Hague, sobre a detenção do cidadão brasileiro David Miranda, por nove horas, no aeroporto de Heathrow, em Londres ontem (18). Miranda é companheiro do jornalista do diário inglês The Guardian, Glenn Greenwald, que noticiou sobre o esquema de espionagem do governo norte-americano.
O ministro disse que a detenção do brasileiro por nove horas, com base em uma lei que se aplica a suspeitos de terrorismo, não é justificável. “Espero que não volte a acontecer. Hoje mesmo deverei conversar com o chanceler William Hague, do Reino Unido”, disse.
Antes de conversar com a imprensa, Patriota havia criticado “desmandos e desvios” que vêm sendo cometidos em nome do combate ao terrorismo no mundo, durante discurso em cerimônia de homenagem a Sérgio Vieira de Mello, diplomata brasileiro que morreu há dez anos no Iraque, Patriota disse que o combate ao terror deve respeitar o direito internacional.
Segundo Patriota, há vários exemplos de desmandos cometidos em nome do combate ao terrorismo, entre eles “enquadrar pessoas mesmo sem justificativa alguma para que se haja suspeita de envolvimento com o terrorismo”.
“Continuamos a assistir alguns desmandos e desvios nessa questão do combate ao terrorismo. Reconhecemos que é um combate legítimo, que precisa ser articulado de forma a impedir que vidas inocentes sucumbam a atos de violência gratuita, mas também precisa se inspirar nos ideais de multilateralismo, direito internacional e racionalidade”, disse Patriota.
Em discurso, o chanceler brasileiro criticou o uso indiscriminado de tecnologias militares, como os veículos aéreos não tripulados, que causam mortes de civis. “A comunidade internacional assiste, com certa surpresa, às vezes, a atividade de veículos não tripulados que estão a serviço do combate ao terrorismo, mas também provocam um número elevadíssimo de vítimas civis inocentes, sem que haja um debate sistemático sobre isso”, disse.
Patriota aproveitou para defender a reforma do Conselho de Segurança das Nações Unidas, dizendo que a atual composição do conselho não está em “consonância” com a multilateralidade do mundo moderno.
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