A Copa do Mundo vem aí, e a Fonte Nova ficando pronta, está tudo certo, não é? Não. Como todo grande evento, a Copa é bem mais que futebol. E se um ônibus com jogadores ficar preso no trânsito do Dique e atrasar o jogo? E se algum dirigente importante sofrer um atentado na Paralela? E se houver uma infestação de ratos por causa da quantidade de lixo não recolhida? Parodiando um comercial de seguros, e se...? Para evitar o vexame diante dos olhos do mundo, é preciso se programar, montar esquemas especiais de trânsito, transporte, segurança, limpeza urbana e tantos outros detalhes que qualquer grande evento requer. Grande evento como a conferência Rio+20, que acontece no Rio de Janeiro desde o dia 13 e, com seus erros e acertos, serve de aprendizado e inspiração para os governantes das cidades sede da Copa não nos deixarem passar vergonha daqui a dois anos. No início da semana, O CORREIO esteve em solo carioca e conferiu como as coisas estão funcionando (ou não). TrânsitoA começar pelo trânsito. Quando a Copa chegar, não dá para continuar com interrupções de tráfego por causa de obras na pista, nem parar em sinaleiras que ficam vermelhas quando não tem nenhum pedestre para atravessar a rua. Na Rio+20, os semáforos são ajustados de acordo com as necessidades ao longo do dia e as obras em via pública foram proibidas até o dia 24, quando acaba a conferência. Além disso, todos os dias é divulgado um boletim com as mudanças no trânsito, para o cidadão não ser pego de surpresa com uma via interditada ou proibições de estacionamento. Nas principais ruas do Rio e nos locais onde acontecem os eventos, 410 câmeras monitoram o movimento e informações atualizadas em tempo real, através de uma central de monitoramento, são postadas nas redes sociais. E se o motorista não é antenado com a internet, não tem problema. Em 44 pontos estratégicos, mensagens variáveis em painéis eletrônicos informam sobre as condições de tráfego. Para dar mais números, são 905 agentes trabalhando (entre controladores de tráfego e guardas municipais deslocados para ajudar na função), 130 viaturas e 39 reboques para remover eventuais veículos quebrados ou acidentados. Legal, né? Mas não foi suficiente.
TransporteE o que dizer de deixar o turista torrando no ponto de ônibus, à espera dos escassos e demorados coletivos para levá-los até o estádio, hotel, restaurante... No período da Rio+20, a prefeitura do Rio disponibilizou uma frota especial com 70 ônibus que fazem as linhas mais procuradas (aeroporto – Riocentro, aeroporto – Barra, Zona Sul – Riocentro e Taquera – Castelo). Além disso, linhas convencionais estão operando com 100% da frota e veículos com final de linha no Riocentro (principal local dos eventos oficiais da Rio+20) estão continuando a viagem até o próximo ponto, para não atrapalhar o fluxo. SegurançaO item segurança é um capítulo à parte. “Eu moro há 26 anos na praia do Flamengo. Quando eu saio de casa tem, à esquerda, uma viatura da Polícia Civil. À direita, uma da Polícia Rodoviária Federal e uns carros da força nacional - do Exército, de boina vermelha. No céu, uns helicópteros que passam pra lá e pra cá, e no mar a Marinha colocou navios patrulhando também”, descreve o jornalista carioca Vinícius Andrade. E não é exagero. Segundo o Comando Militar do Leste, órgão responsável pela segurança, durante o evento, são cerca de 15 mil profissionais das Forças Armadas, Polícia Federal, Polícia Rodoviária Federal, Polícia Militar, Polícia Civil, Corpo de Bombeiros, Guarda Municipal, Marinha, Exército e Aeronáutica que estão atuando para garantir a segurança de cariocas e visitantes durante a conferência. “Eu nem sabia que o estado dispunha de tantos policiais militares. Em dias normais não se vê nem um terço do efetivo que está nas ruas”, observa o advogado carioca Igor Araujo Diniz. O planejamento da Operação Rio+20 também contempla o reforço na segurança de aeroportos e nas principais vias de acesso ao Rio e aos municípios da Região Metropolitana. Estão previstas varreduras eletrônicas e de artefatos explosivos em hotéis e nos locais de eventos, coordenadas pelo Centro de Coordenação Tático Integrado, sob o encargo da Brigada de Operações Especiais do Exército Brasileiro, bem como a instalação de uma Central de Monitoramento Cibernético com o objetivo de coordenar as ações de segurança cibernética durante o evento. A área interna do Riocentro, sede dos principais eventos da Rio+20, foi assumida oficialmente pela Organização das Nações Unidas (ONU), entidade organizadora da Rio+20, no dia 5 de junho. E, antes de adentrar um dos espaços oficiais do evento, o participante tem que se submeter a dois detectores de metais e ter sua bolsa ou sacola revistadas. Limpeza Urbana Andar pelas ruas de Salvador e reclamar da sujeira é uma atitude comum entre os soteropolitanos. E se a prefeitura não dá conta da coleta em dias normais, o que vai acontecer quando a Copa do Mundo chegar? Com mais gente na cidade, mais lixo é produzido, o que requer também um esquema especial de limpeza urbana. Segundo a prefeitura do Rio, a Companhia Municipal de Limpeza Urbana (Comlurb) está operando com um maior efetivo de garis, e cada local onde ocorre os eventos conta com um planejamento específico de coleta de lixo. TurismoE, só para finalizar, você já se perdeu em um bairro obscuro de Salvador e se pegou xingando a péssima sinalização da cidade? Então imagine um turista estrangeiro na mesma situação. No Rio, a saída encontrada para salvar os gringos perdidos foi a instalação de oito postos de informações turísticas, em pontos estratégicos, além da distribuição de 97 mil guias e 55 mil mapas turísticos do Rio de Janeiro. O tamanho da Rio+20Quer saber se a Rio+20 é um evento grande? Segundo a organização da conferência, até a manhã de ontem, já haviam sido confeccionados um total de 41.444 credenciais para o Riocentro, local onde se concentra a maior parte das atividades oficiais. São 10.288 para delegações; 8.038 para ONGs e grupos ligados a elas; 3.671 para a imprensa; 1.799 para os participantes dos diálogos (16 a 19); e 4.275 para pessoal de segurança. Os números indicam que este é um dos maiores eventos já realizados no âmbito da ONU, com ampla participação de delegações estrangeiras, chefes de Estado e representantes da sociedade civil. O público estimado para todo o evento é de até 50 mil pessoas. Participam delegações de 193 países e cerca de 5 mil pessoas trabalham no evento diariamente. Ao longo dos nove dias de conferência, serão seis mil eventos acontecendo dentro da Rio+20. A estrutura montada no Riocentro ocupa uma área total de 571 mil metros quadrados, dos quais 100 mil são de área construída. No estacionamento cabem sete mil carros. No Parque dos Atletas tem exposições de 57 países, 16 empresas, 15 municípios, 21 estados, três órgãos do poder Judiciário e três do poder Legislativo. Isso sem citar o Pier Mauá (18.500 m²) e o HSBC Arena (onde acontecem 120 conferências), outros espaços oficiais. Todos os dias, participantes credenciados saem de 350 ônibus nos locais da conferência. De acordo com Associação Brasileira da Indústria de Hotéis no Rio (Abih-RJ), a taxa de ocupação dos hotéis já atingiu 95%. Salvador ainda tem pouca coisa definidaApesar do saldo de experiências como o Rio+20 ser considerado no planejamento para a Copa 2014, as ações de segurança pública serão alinhadas em todas as cidades sede pelo governo federal, através da Secretaria Extraordinária para Grandes Eventos (Sesges). Segundo o secretário da Segurança Pública Maurício Barbosa, será fechado em breve uma Cartilha de Atribuições para definir as responsabilidades do poder federal, estadual e municipal. “A Polícia Federal, por exemplo, apoiará a segurança de chefes de Estado e de algumas delegações. A Polícia Militar fará o policiamento ordinário, a exemplo do Carnaval”, exemplifica. Segundo ele, entre investimentos em novos veículos, concursos de policiais e tecnologia, 12 projetos estão sendo priorizados pela SSP-BA. Um deles é a criação do Batalhão de Polícia Turística. Setenta policiais militares, integrantes da primeira turma de Capacitação em Policiamento Turístico (CPTur), foram incorporados na última segunda-feira (18). Mesmo seguindo um parâmetro nacional, as ações serão adaptadas para as características locais, a partir de uma análise de risco, elaborada pela Agência Nacional de Inteligência. “Em nosso caso, o mais preocupante são crimes cotidianos, como assalto, incluindo a turistas, roubo de veículos e crimes contra o patrimônio. Não temos a mesma possibilidade de um atentado, como em um país europeu, por exemplo, mas não significa que isso não está sendo considerado”, afirma o secretário. Quanto à mobilidade, a velocidade das medidas é variável. A aguardada linha 2 do metrô, que ligará o Acesso Norte a Lauro de Freitas, pela Paralela, terá seu edital de consulta pública lançado hoje. No entanto, a expectativa é que a obra não seja concluída até a Copa. Marcada para o dia 27 de junho, a audiência pública que discutirá a reformulação do Sistema de Transporte Coletivo foi adiada para 6 de julho. O secretário municipal de Transportes Urbanos e Infraestrutura, José Luís Santos Costa, assegura, no entanto, que Salvador estará preparada a tempo para a Copa de 2014. Ele diz, por exemplo, que em até 60 dias serão concluídos estudos para a contratação de uma empresa que vai reformular o sistema de semáforos da cidade. Até 2014, estão previstas obras que pretendem dar fluidez a 22 pontos críticos no trânsito da capital. Colaborou a repórter Luana Ribeiro
Segurança, trânsito e transporte: três pontos fundamentais para o sucesso da Rio+20 |
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