A clássica queixa do calor excessivo em Salvador pode piorar ainda mais até o final do século. A longínqua, porém preocupante previsão, foi apresentada ontem no relatório do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC, na sigla em inglês), na Suécia. Segundo o texto, a temperatura mundial ficará entre 2,6°C e 4,8°C mais quente em comparação no período 2081-2100 frente à média observada entre 1986 e 2005. Sob uma ótica mais otimista, a elevação da temperatura varia entre 0,3°C e 1,7°C na mesma comparação. A maior responsabilidade ou, segundo a pesquisa, “extremamente provável”, é a influência da atividade humana como a principal causa do aquecimento global. Os especialistas calculam essa certeza em 95% contra os 90% do relatório anterior, divulgado em 2007, que considerava “muito provável” a responsabilidade do homem. “Para limitar a mudança climática, é necessário reduzir substancialmente e de forma duradoura a emissão de gases do efeito estufa”, afirma Thomas Stocker, vice-presidente do painel. BrasilA primeira parte do novo relatório do IPCC não traz projeções específicas por países – esses detalhes deverão aparecer na segunda parte, que será divulgada em abril do próximo ano–, mas dá para tirar algumas conclusões para o Brasil. Os modelos climáticos que avaliam a temperatura para todo o globo apontam para uma elevação muito provável (probabilidade superior a 90%) da temperatura em toda a América do Sul, com os valores mais altos para o sul da Amazônia. A projeção é de um aumento da temperatura média de 0,5°C (centro-sul) a 1,5°C (Norte, Nordeste e Centro-Oeste) no país até o final do século no cenário mais otimista de emissões de gases de efeito estufa; e de 3°C (sul e litoral do Nordeste) a 7°C (Amazônia) no pior cenário. Também é provável (probabilidade de mais de 66%) que ondas de calor se tornem mais frequentes na Amazônia e no Nordeste. O IPCC afirma ainda que é muito provável que o nível de precipitação vai subir na bacia do Prata e cair no Nordeste e na porção oriental da Amazônia. A tendência é a mesma apontada há pouco mais de duas semanas no 1º relatório nacional de avaliação dos impactos das mudanças climáticas no Brasil. O trabalho focado na nossa realidade foi compilado pelo Painel Brasileiro de Mudanças Climáticas, a versão nacional do IPCC. “Os dois estudos vão na mesma linha. Talvez não nos mesmos números, porque os modelos climáticos usados diferem um pouco, mas a tendência é a mesma”, comenta o pesquisador José Marengo, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), membro tanto do IPCC quanto do PBMC. Mar O órgão também revisou para cima as previsões sobre o aumento do nível do mar, uma das principais consequências do aquecimento global. Os 259 especialistas de 39 países diferentes disseram ter aperfeiçoado a medição do fenômeno do degelo das geleiras da costa da Groelândia e do Antártico, que eleva o nível do mar. Agora, o grupo do IPCC informa que a elevação das águas pode ficar entre 26 cm, no melhor cenário, e 82 cm, na pior estimativa, durante o século 21, contra a projeção de 2007, muito criticada por anunciar elevação entre 18 cm e 59 cm. “Nosso trabalho é apresentar conclusões científicas. No relatório, reafirmamos a urgência de reduzir as emissões. Espero que esta seja a mensagem que o mundo aprenda”, afirmou Rajendra Pachauri, presidente do IPCC. O relatório afirma ainda que a mudança climática afetará os processos do ciclo do carbono, impulsionando o aumento de CO2 na atmosfera e, por sua vez, a acidificação dos oceanos - que já absorveu 30% das emissões geradas por atividade humana. A concentração de gases cresceu a níveis “sem precedentes”, especialmente a de CO2, que é 40% maior agora do que na era pré-industrial devido às emissões de combustíveis fósseis. Além disso, esse provável aumento de temperatura também vai provocar fenômenos extremos com mais frequência. “As ondas de calor acontecerão com mais frequência e durarão mais tempo. Com o aquecimento da Terra, acreditamos que acontecerão mais chuvas nas regiões úmidas e menos nas regiões secas, mas teremos exceções”, disse Stocker. IPCCCriado há 25 anos pela Organização das Nações Unidas (ONU), o IPCC tem por objetivo estabelecer um diagnóstico para orientar as decisões das autoridades políticas e econômicas, mas não propõe medidas de ação concretas. Serão publicados também dois outros volumes que discutirão os possíveis impactos divididos por região do planeta e o último, que sairá até o mês de outubro do ano que vem, vai apresentar a síntese do estudo. O relatório servirá de base para as negociações internacionais sobre o clima que pretendem alcançar um acordo em 2015. Os países participantes querem limitar a 2°C o aumento da temperatura na comparação com a era pré-industrial. Matéria original do Correio Temperaturas globais podem aumentar até cinco graus até o fim do século
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