A Vinícola Aurora, uma das três que usaram mão de obra análoga à escravidão durante a colheita de uva em Bento Gonçalves, no Rio Grande do Sul, pediu desculpas aos trabalhadores resgatados. A empresa disse estar envergonhada.
"Os recentes acontecimentos envolvendo nossa relação com a empresa Fênix nos envergonham profundamente (…) Gostaríamos de apresentar nossas mais sinceras desculpas aos trabalhadores vitimados pela situação. Ninguém mais do que eles trazem, nos ombros curados pelo sol, o peso de uma prática intolerável, ontem, hoje e sempre", diz um trecho da nota.
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Dos 207 trabalhadores, 198 eram baianos. Eles relataram, em depoimento ao Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), terem ficado sujeitos a situações de agressão com choques elétricos e spray de pimenta, cárcere privado e agiotagem.
Na terça-feira (28), a Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (ApexBrasil) suspendeu a participação da Aurora, além da Cooperativa Garibaldi e Salton, de suas atividades.
A ApexBrasil é um serviço social autônomo vinculado ao Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC), que promove os produtos brasileiros no exterior.
Em nota, a Cooperativa Garibaldi disse que "repudia qualquer prática que afronte o respeito ao ser humano ou comprometa sua integridade".
Já a Vinícola Salton, em nota, afirma que “repudia, veementemente, qualquer ato de violação dos direitos humanos".
Relembre o caso
Cerca de 200 homens, que viviam em condições análogas à escravidão, foram resgatados pela Polícia Rodoviária Federal (PRF) em Bento Gonçalves, na Serra do Rio Grande do Sul. Segundo informações da corporação, a localização das vítimas foi feita na noite de quarta-feira (22).
Inicialmente, o Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) informou que eram 150 pessoas. No entatnto, o número foi atualizado no fim da tarde da quinta-feira (23) pelo g1 Rio do Rio Grande do Sul. No momento, os homens estão alojados temporariamente no ginásio Darcy Pozza.
Tudo começou quando 3 trabalhadores fugiram do alojamento em que eram mantidos e buscaram ajuda policial em Caxias do Sul. Eles contaram que vieram da Bahia para trabalhar na colheita da uva com promessa de salários superiores a R$ 3 mil, além de acomodação e alimentação. Porém, nada foi cumprido.
Na prática, os trabalhadores relataram atrasos nos pagamentos dos salários, violência física, longas jornadas de trabalho e oferta de alimentos estragados. Em entrevista à RBS TV, um dos homens detalhou as condições em que ele e os colegas viviam na acomodação oferecida pelos empregadores e a relação com a empresa responsável pela contratação.
“Todos os dias, a gente amanhece com o pensamento de ir para casa. Mas não tem como a pessoa ir para casa, porque eles prendem a gente de uma forma que ou a gente fica ou, se não quiser ficar, vai morrer. Se a gente quiser sair, quebrar o contrato, sai sem direito a nada, nem os dias trabalhados, sem passagem, sem nada. Então, a gente é forçado a ficar”, contou.
As vítimas apontarm ainda casos de coação para permanência no local, sob a pena de pagamento de uma multa por quebra do contrato de trabalho. E casos de violência com choque elétrico e spray de pimenta.
Operação policial
A operação de resgate foi realizada por PRF, MTE e Polícia Federal (PF). O responsável pela empresa, que mantinha os trabalhadores, foi preso e encaminhado, inicialmente, para a delegacia da Polícia Federal (PF) em Caxias do Sul.
Na sequência, ele foi transferido para um presídio em Bento Gonçalves. E na quinta (23), foi liberado após o pagamento de fiança de cerca de R$ 40 mil. O homem tem 45 anos de idade e é natural de Valente, na Bahia.
Segundo a PF, a empresa tem contratos com diversas vinícolas da região, presta serviços de apoio administrativo e os trabalhadores teriam sido contratados para atuar na colheita da uva.
O MTE diz que vai analisar individualmente os direitos trabalhistas de cada trabalhador para a buscar a devida compensação.
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Redação iBahia
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