Viúva de Chorão, Graziela Gonçalves relata no livro "Se não eu, quem vai fazer você feliz" possíveis motivos que levaram o vocalista do Charlie Brown Jr. à depressão. Lançada este mês, a biografia traça um perfil do cantor pelo olhar da companheira e explicita a relação do artista com a dependência química, que o marido — batizado Alexandre — vivia um período de extrema angústia e não conseguia recuperar sua autoestima profissional. Em 2012, o estopim para a desestabilização emocional foi a frustração por não poder realizar um antigo sonho: tornar-se bombeiro. Chorão morreu aos 42 anos, em 2013, em decorrência de uma overdose em cocaína.
"Nos últimos anos, a preocupação com o humor dele já tinha se tornado uma constante na minha vida. Apesar do retorno recente e bem-sucedido da formação antiga do Charlie Brown Jr. (depois de uma briga que se tornou pública), com uma agenda cheia de shows para cumprir, o estado de espírito dele era a insatisfação permanente (...) 'Quero fazer alguma coisa que me preencha, que me faça sentir vivo de novo', ele tinha me dito poucos dias antes (...). Com essa ideia na cabeça, o Alê saiu naquela tarde e foi até o Corpo de Bombeiros, perto do prédio onde moramos em Santos (...) Ele voltou para casa depois de algum tempo, com o rosto molhado das lágrimas que ainda caíam. O Alê descobriu que existe uma série de procedimentos e exigências para ser bombeiro. Uma delas era a idade, que ele já tinha ultrapassado (...) O Alê, que todos conheciam como Chorão, tinha alcançado tudo o que um dia sonhara para a sua vida. No entanto, nunca havia se sentido tão infeliz", diz Graziela em trechos do livro.
A viúva relembra a história do amor do casal, a trajetória artística de Chorão, e relata que o casal perdeu um bebê no fim da década de 90. Graziela engravidou e sofreu um aborto espontâneo em 1997, semanas depois de contar ao marido que estava grávida e ouvir:
"Tiri, eu te amo e quero construir um mundo ao seu lado. Mas eu não acho que agora seja a hora de a gente ter um filho. Tô começando a minha carreira e ainda tem muita coisa para acontecer. Mas, se você quiser ter, sei lá, tudo bem".
A autora da biografia relata que passou mal por todos os dias da gravidez. Um dia, enquanto Chorão fazia shows fora de sua cidade, a companheira sentiu fortes cólicas e teve a notícia de que havia sofrido um aborto espontâneo. Por conta deste episódio, o casal deixou de cogitar aumentar a família. Alexandre Abrãao, único filho do cantor, é fruto do relacionamento de Chorão com Thais Lima, sua primeira companheira.
Num período brando, o interesse por doutrinas religiosas
Passada a fase difícil, em 1998, quando o cantor despontava no cenário artístico, o casal ascendeu financeiramente e se mudou para a capital de São Paulo. Eles trocavam declarações de amor e viviam um bom momento da vida a dois. Graziela lembra que, junto com mais um casal de amigos, Chorão estudava livros do espiritismo de Allan Kardec.
"Alê começou a sentir necessidade de mudar alguns padrões de comportamento para alcançar o que desejava. Ele começou a se interessar cada vez mais pela lei de causa e efeito e passou a acreditar em reencarnação. Em meio a tudo isso, a mudança nas suas letras ficava evidente".
Breve separação e reconciliação
Graziela Gonçalves, que é estilista, relata que Chorão demonstrou ciúme quando ela decidiu estudar a profissão. "Lidar com tanto ciúme e a falta de apoio era desgastante. E, diante da minha escolha, a separação acabou se concretizando". Um mês depois, no entanto, o casal voltou a se relacionar e o cantor pediu a namorada em casamento. A união se concretizou em 2003, mesmo ano em que a banda Charlie Brown gravou o "Acústico MTV".
Primeiro fim do Charlie Brown Jr.
Graziela relembra que, após um período de brigas com a imprensa, com bandas como Los Hermanos e entre os próprios integrantes do Charlie Brown Jr, o grupo decidiu desfazer a parceria. "O anúncio de que Marcão, Champignon e Pelado estavam deixando o CBJr. veio no início de 2005". No fim do mesmo ano, porém a banda se refez. No ano seguinte, "Te levar" foi para na trilha sonora de "Malhação", e o grupo voltou a ascender.
Crise com as produções artísticas
Em 2012, Chorão começou a entrar em crise com o que vinha produzinho musicalmente, drogava-se e tinha variações de humor. "Apesar de não admitir, ele já tinha se tornado um dependente químico há muito tempo".
Graziela lembra que nas turnês da banda se preocupava, de longe, com o estado de dependência de Alexandre. "O vício trazia à tona seu lado mais sombrio. Ele ficava muito paranoico, tomado por pensamentos ruins o tempo todo (...) As crises eram tão intensas que ele sofria com surtos e mania de perseguição".
O cantor começou a frequentar tratamentos médicos acompanhado da companheira, mas as visitas não duraram muito tempo e o artista voltou ao vício.
"Certo dia, ele chegou a nossa casa completamente transtornado (...) Percebi que ali era o fundo do poço, e eu tinha que tomar alguma providência", escreve Graziela.
A morte
Dias depois dos surtos mais graves de Chorão, a autora do livro diz que eve um sonho: "Alexadre estava diante de mim e atrás dele havia um vulto bem alto e escuro. Ele me diz que iria viajar, que não aguentava mais e que precisava partir (...) Despertei de repente, com o som da campainha tocando sem parar (...) Quando abro, dou de cara com minha mãe e Mariela chorando. 'O Alê, filha'."
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Redação iBahia
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