A vida de Caetano Veloso rende inúmeros capítulos, repletos de histórias. Prova disso é que existem pelo menos oito livros dedicados à biografia do cantor. Um deles, o “Outras palavras: Seis vezes Caetano”, de Tom Cardoso, que foi lançado no dia 25 de julho, expõe as contradições do baiano, que completa 80 anos no dia 7 de agosto.
A biografia não autorizada, escrita por Tom, é dividida em seis capítulos, que contam diferentes versões e momentos da vida de Caetano. O autor já havia escrito sobre figuras marcantes do Brasil, como o ex-jogador Sócrates e a cantora Nara Leão.
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Quando decidiu escrever mais uma biografia, o jornalista queria que o personagem principal fosse alguns dos grandes nomes da música brasileira que completam 80 anos em 2022: Caetano Veloso, Gilberto Gil, Milton Nascimento e Tim Maia, que comemoraria oito décadas se estivesse vivo.
Caetano venceu a “disputa” por ser, nas palavras do autor, “onipresente na cultura brasileira”. “Eu acho que nenhum outro artista se posicionou de uma forma tão veemente - e às vezes polêmica - sobre todos os assuntos, de política, artes plásticas, cinema, música, comportamento. Escolhi um personagem rico, controverso e que participou de quase todos os acontecimentos políticos, culturais dos últimos 60 anos. Esse é Caetano”, defendeu.
Se o personagem não é convencional, a obra também não é. Segundo Tom, seu livro é uma “biografia não tradicional”. Para escrever os capítulos - o homem de Santo Amaro, o polêmico, o líder, o vanguardista, o amante e o político - o autor não conversou com Caetano. Não porque não conseguiu, mas porque preferiu assim.
Ele defende que para mostrar todas essas contradições, imperfeições e onipresença do “camaleão” Caetano, uma entrevista dada longe do “calor da emoção” não teria as mesmas declarações que já foram dadas dentro de determinados contextos.
“Caetano muitas vezes é escancarado, mas existe um Caetano muito associado a uma coisa de ‘Odara’, ‘Leãozinho’, uma coisa doce e fraternal, só que na verdade ele é uma figura muito impulsiva, colérica, e em alguns momentos a gente não o reconhece”, pontua o jornalista.
A obra de Tom Cardoso busca mostrar este outro lado do artista, que sempre “deu a cara a bater”. “Um Caetano muito veemente, muito impulsivo e falando as coisas sem pensar. E talvez surpreenda os fãs porque ele diz coisas que parecem não sair da boca do Caetano, mas saíram”, define.
Gigante
Entre contradições e posicionamentos, é inegável que Caetano Veloso é um dos maiores nomes da música brasileira. Ao lado de Gilberto Gil, Tom Zé, Capinam, Torquato Neto, Gal Costa, Nara Leão, Os Mutantes, Rogério Duprat e o artista gráfico Rogério Duarte, o baiano criou o tropicalismo, movimento de ruptura musical.
Tom defende que dentro do tropicalismo, Caetano se destacou pela liderança, e esse é o maior diferencial dele para a música brasileira.
“Fica evidente que o tropicalismo não seria sem ele. Caetano comprou briga com todo mundo pra fazer o tropicalismo acontecer. Se você olhar, o Gil tem uma tendência a contemporizar as coisas, Tom Zé tinha um comportamento mais difuso. Caetano, não”, comenta.
O autor relembrou também as críticas que o baiano recebeu pela defesa do tropicalismo. “Ele foi abrindo as portas na porrada. Ele comprou briga com todo mundo para gestar o tropicalismo. Ele comprou briga com os puristas, que defendiam o que o samba não podia ser misturado com nada. Ele comprou briga com a esquerda brasileira que achava o tropicalista alienados, porque não faziam canções de protesto”.
Outros nomes da geração de Caetano, Milton Nascimento, Jorge Ben e Chico Buarque, além do próprio Gilberto Gil, por exemplo, têm, para Tom, o mesmo valor musical que ele. O diferencial do filho de dona Canô está na postura.
"Eu acho que o tamanho do Caetano é ainda maior, porque a música dele já é um legado importantíssimo, mas nenhum outro cara da geração acho que tem uma posição de liderança tão forte quanto o Caetano", conclui.
Caetano... ou não?
As opiniões de Caetano Veloso geraram até bordões - ou memes, como definiríamos atualmente. Criou-se a ideia de que após as frases, o cantor comumente acrescentava um “ou não”.
Em entrevista ao Altas Horas, da TV Globo, em 2012, ele negou que tenha essa “mania”. “Eu sou assertivo. Eu não falo 'ou não'. Quer dizer, posso até falar, porque pode caber em alguns momentos, mas não é um bordão meu. Isso foi um equívoco cultural. Os humoristas mais novos achavam que isso era Caetano Veloso e quando iam me imitar botavam um pouco de sotaque baiano e botavam o 'ou não' no final. Mas não tem negócio de 'ou não' comigo, não", se defendeu.
Piada ou não, a expressão foi lembrada por Tom Cardoso, que pensou em intitular o livro dessa forma. Segundo o autor, a frase se justifica pelo fato dele “ter isso de sustentar uma tese que depois ele mesmo derruba”.
Mesmo que se arrependa ou mude de opinião, uma coisa é certa: o cantor não deixa de falar – seja cantando, dando entrevista ou discursando.
“Não tem um ano na vida brasileira que Caetano não tenha se posicionado sobre um determinado assunto. Ele nunca ficou à margem de nenhum acontecimento. Nunca deixou de se posicionar em nenhuma fase desde que ele que ele começou a dar entrevista”, conclui o escritor.
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Cláudia Callado
Cláudia Callado
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