Um misto de saudade, celebração do povo preto, resistência, tradição e muita beleza! Todos os caminhos neste sábado (18) levaram baianos e turistas a um dos bairros mais negros de Salvador: o Curuzu. Com o tema “Agostinho Neto - Kilamba, Manguxi, 100 anos do herói nacional de Angola” o primeiro bloco afro do Brasil, Ilê Aiyê, deu início ao seu carnaval após a tradicional cerimônia religiosa em frente ao terreiro Ilê Axé Jitolu.
O Ilê finalmente colocou seu bloco na rua após um hiato de dois anos devido a pandemia da covid-19. O ritual sagrado que saúda todos os orixás e que pede para que os santos de religião de matriz africana abram os caminhos do bloco e também dos foliões foi comandado pela ialorixá Hildelice Benta dos Santos.
Leia também:
No rito, bacias de milho, pipoca e pó de pemba foram jogados em meio ao público para pedir boas energias aos orixás Oxalá e Obaluaê. As tradicionais pombas brancas também foram uma beleza à parte. Os animais são soltos em reverência também a Oxalá. No meio do povo, a percussão acompanhou com groove, ritmo e swing todo o processo.
Da sacada das imediações da residência da eterna Mãe Hilda Jitolú (1923-2009), a atual Deusa do Ébano Dalila Oliveira, se emocionou ao dar início ao todo o seu reinado. Ela esteve acompanhada das princesas eleitas na 42ª Noite da Beleza Negra, Carol Xavier e Larissa Valéria e também do presidente do bloco, Antônio Carlos dos Santos, o Vovô.
#Carnaval2023 - A saída da Ilê é um dos momentos mais aguardados do Carnaval de Salvador!
— iBahia (@iBahia) February 19, 2023
📽️ Lucas Sales / iBahia pic.twitter.com/sN4fJCWqVN
Numa fala potente e cheia de significados, Vovô criticou a falta de patrocínio aos blocos afro. “Antes de serem capitalista, os empresários são racistas. Eles preferem perder dinheiro do que juntar o dinheiro dele com o povo preto”, disse.
Vovô afirmou que o Ilê “é um bloco internacional” e que mesmo assim não é patrocinado da mesma forma que outros blocos do carnaval soteropolitano. Segundo o músico, é difícil manter a tradição de pé.
“É muito bonito de se ver, mas é muito complicado de fazer. hoje o carnaval se chama ‘carnanegócio‘. Uma série de taxas que tem que pagar, contratação de equipamentos, se não tiver recursos, fica difícil".
Autoridades como o governador do estado Jerônimo Rodrigues (PT), o vice, Geraldo Jr. (MDB), secretários do estado, deputados estaduais e vereadores marcaram presença na festa. Anônimos e celebridades como a rapper e escritora Preta Rara, Zeca Camargo e Bela Gil também participaram do cortejo.
“Eu já tive oportunidade de acompanhar como cidadão, folião, mas esse ano tem uma emoção a mais. Estar governando a Bahia, ao lado do meu povo, vendo a resistência e história que o Ilê Aiyê tem. E celebrar no ano que celebramos 200 anos de independência. Dá mais satisfação subir essa ladeira a pé, celebrar o carnaval, por mais difícil que seja o ano, de desemprego, perder sua família, ter força para celebrar o carnaval”, disse o governador Jerônimo Rodrigues.
Com a tradição feita, o mais belos dos belos segue desfilando até o Plano Inclinado, na Liberdade. De lá, os musicistas e os associados fazem uma pausa e se dirigem até o Circuito Osmar (Campo Grande).
Vale destacar que o homenageado do bloco afro, Agostinho Neto, foi um médico, escritor e presidente do Movimento Popular de Libertação de Angola e responsável pela libertação do povo angolano. Ele é carinhosamente, conhecido como Manguxi, o pai da nação angolana que, em 2023, completaria 100 anos.
Um dos destaques da noite foi a homenagem feita pela secretária de Igualdade Racial e dos Povos Tradicionais do estado, ao idealizador da noite da Beleza Negra, Sérgio Roberto dos Santos. Ele faleceu em janeiro vítima de um aneurisma cerebral. Atualmente, a pasta fica sob o comando de Ângela Guimarães, sobrinha do produtor cultural e pioneiro nas pautas e lutas LGBTQIAPN+ no estado.
"Hoje a gente celebra a imortalidade e o legado da contribuição do meu tio Sérgio e a responsabilidade de ser a continuidade de muitos que estiveram antes da a gente. A possibilidade de descortinar caminhos, mesmo que não fossem vividos pra geração dele pra que hoje a gente pudesse viver. É um momento de muita emoção. O meu papel é seguir a missão dele. Eu bebi dessa fonte desde que era criança. Ele deu essa régua e compasso", disse a secretária.
Esse ano, o bloco afro traz nos vocais os cantores Jauncy Oju Bará, Valter França, Juarez Mesquita, Iana Marucha e Graça Onasilê. O Ilê Aiyê completou 49 anos. O primeiro desfile do bloco foi no carnaval de 1975.
Nairobi Aguiar, de 38 anos, é nascida e criada no bairro da Liberdade. Ela saiu pela primeira vez no bloco quando ainda era menor de idade. “Ave Maria, sou apaixonada pelo bloco”.
Desfile dos mais belos dos belos
Além do sábado de carnaval, o mais belos dos belos volta ao circuito Osmar na próxima segunda-feira (20). Na terça (21), o dia é dedicado ao folião pipoca. O desfile realizado também no Campo Grande.
Leia mais sobre Carnaval 2023 no iBahia.com e siga o portal no Google Notícias.
Veja também:
Lucas Sales
Lucas Sales
Participe do canal
no Whatsapp e receba notícias em primeira mão!