O processo para credenciamento dos ambulantes para trabalhar no carnaval - assim como foi na Lavagem do Bonfim, Iemanjá, Furdunço e Fuzuê -, foi marcado por tumulto e reclamações por parte dos trabalhares.
No decorrer do período, muitos ambulantes acamparam na frente da Secretaria Municipal de Ordem Pública (Semop), responsável pelo cadastro, para garantir a licença para poder trabalhar. Para o carnaval, a prefeitura, seguindo recomendação do Ministério Público do Trabalho, fez o procedimento todo de forma online. No entanto, a instabilidade do site e a dificuldade de acesso à internet manteve a reclamação dos trabalhadores.
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Na frente da Semop, um grupo de manifestantes, na quarta-feira (8) e quinta-feira (9), relataram que a Guarda Municipal havia jogado bombas de efeito moral na direção deles.
No Fuzuê, ambulantes que conversaram com o iBahia narraram a dificuldade para conseguir as licenças no carnaval. Alguns, inclusive, ficaram sem o documento. Para Adenice Maria Santana, de 55 anos, todo o processo foi "constrangedor".
"Foi muito constrangedor, a gente sofreu muito. Desde o dia 1º de janeiro eu estou na fila. Bonfim, 2 de fevereiro, Furdunço e Fuzuê eu consegui de boa. Mas para o carnaval foi tudo online, travou tudo. É constrangedor a gente dormir na fila. A gente dorme e eles não têm um pingo de amor pela gente. Eu botei 20 pessoas para tentar e não consegui", lamentou.
A ambulante afirmou, no entanto, que dormirá na rua durante todos os dias de carnaval para conseguir vender os produtos que garante a renda da família. "Minha filha está grávida, depende do meu trabalho, tenho netos que eu dou pensão, filhos de minha filha que é moradora de rua", explicou.
Janeide Souza Carneiro, de 50 anos, e Dagna Gomes, 41, não são de Salvador, mas viajam para a capital baiana nos períodos de festa para trabalhar. Elas moram em Feira de Santana e Serrinha, respectivamente. As duas, que passaram cerca de 10 dias na fila na frente da Semop para conseguir a licença, definem o tratamento dado como "desumano".
"Foi desumano, aquilo não existe. Não há ajuda para o ambulante trabalhar. A gente compra mercadoria, paga licença e somos tratados como se estivéssemos vendendo drogas. Por que fica a polícia em cima da gente?", questionou Janeide.
Dagna diz em todos os anos houve problema para conseguir a licença, mas que neste ano, a situação piorou. "Várias pessoas dependem do trabalho, três filhos e um neto. Sempre trabalhei no carnaval e sempre foi muito humilhante, mas esse ano foi pior do que os outros anos. Humilharam a gente na fila da Semop. E para mim é o último, é muita humilhação", finalizou.
Confusão
O cadastramento dos ambulantes para a folia começou no dia 8 de fevereiro. Desde então, muitos vendedores permanecem na frente da Semop. Vale destacar que boa parte do público já estava na região há semanas, por conta do cadastro para outras festas pré-carnavalescas realizadas presencialmente.
Apesar do pedido da população, o diretor da Semop disse que cadastramento on-line iria ser realizado desta forma por conta de uma recomendação do MP.
A confusão em torno dos ambulantes começou quando o site apresentou instabilidades ainda na quarta-feira. Um grupo de ambulantes se revoltou com a situação e fechou a via principal do bairro Jardim Santo Inácio. Pneus foram queimados e a forças policiais precisaram atuar. Bombas de efeito moral e spray de pimenta foram jogadas contra o grupo e o protesto só encerrou com a retomada do site às 14h.
A situação perdurou até a quinta-feira pela manhã, mesmo com o fim o cadastro às 10h.
Investigação sobre venda de licenças
A prefeitura de Salvador apura uma denúncia sobre possível vendas de licença para ambulantes trabalharem no carnaval. A informação foi dada pelo ecretário de Ordem Pública de Salvador, Luciano Ribeiro, na manhã desta quinta-feira (9).
“Ontem, por coincidência, eu próprio abri o Facebook e vi em um dos sites de vendas alguém oferecendo uma licença para ser vendida. Imediatamente encaminhei para minha equipe para se apurar”, disse o gestor.
“Eu não sei, acredito até que seja fake news, porque todos sabem que essas licenças são intransferíveis e haverá fiscalização para que essas pessoas não façam isso”.
Luciano Ribeiro afirmou que as denúncias são de que as licenças vendidas seriam de pessoas que já fizeram o credenciamento e não de servidores da prefeitura. Se houver confirmação do crime, o documento será caçado.
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Nathália Amorim
Nathália Amorim
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