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CINEMA

Confira a crítica do filme 'Joy' com a atriz Jennifer Lawrence

Inspirado em uma história real, o filme mostra a jornada de uma mulher que se torna fundadora de um bilionário império

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22/01/2016 às 18:15 • Atualizada em 29/08/2022 às 11:25 - há XX semanas
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Cinemáticos Redação Cinemáticos
Dirigido por: David O. RussellCom: Jennifer Lawrence, Dascha Polanco, Robert De Niro, Bradley Cooper, Edgar Ramirez, Isabella Rossellini, Diane Ladd, Virginia Madsen.Gênero: Biografia , Comédia , Drama
Sinopse: Inspirado em uma história real, o filme mostra a emocionante jornada de uma mulher que é ferozmente determinada a manter sua excêntrica e disfuncional família unida em face da aparentemente insuperável probabilidade. Motivada pela necessidade, engenhosidade e pelo sonho de uma vida, Joy triunfa como a fundadora e matriarca de um bilionário império, transformando sua vida e a de sua família.
É frustrante a forma como David O. Russell sabota seus próprios filmes. Ao mesmo tempo em que o diretor tem uma visão clara dos seus objetivos e como alcançá-los, seus excessos e momentos de descuido acabam atrapalhando o que poderia ser uma ótima experiência cinematográfica. Foi assim com Trapaça, e é assim com Joy, seu trabalho mais recente e, também, o mais fraco de sua carreira.O longa começa com um letreiro avisando que esse filme é sobre mulheres fortes, uma em particular; no ano de 1989, a Joy Mangano do título é uma mãe solteira que que busca sua independência dividindo seu tempo entre o trabalho e uma parasita família disfuncional (algo quase sempre presente nos filmes do diretor), inclusive seus ex-marido, que habita o porão da casa. A solução para todos os problemas é uma de suas invenções, um “esfregão mágico” que promete revolucionar a vida doméstica da época.Comecemos pelo óbvio: para que diabos serve o tal letreiro descrito acima? É puramente lúdico? Além de não ter utilidade nenhuma – já que qualquer espectador minimamente pensante conseguiria deduzir algo que o filme demonstra quase o tempo todo – o diretor ainda não dá-se por contente e enfia uma narração entregue pela avó da protagonista absolutamente desnecessária que reafirma constantemente a tenacidade de Joy enquanto mãe, provedora, inventora e tudo o mais. Imagine que você está lendo esta crítica e no exato momento em que isso está acontecendo a voz da sua avó favorita (falecida ou não) surge do alto afirmando que “você está buscando informações sobre o filme ‘Joy’, tentando descobrir se vale à pena assistí-lo, você sempre faz isso quando está curioso sobre um filme”. Faz sentido, mas é inegável que essa voz é uma intrusa inútil e didática, não contextualizando ou complementando e servindo para, basicamente, nada.
Ainda na sua abertura, é quase inegável como o longa causa estranheza para quem está acostumado a ver filmes bem editados/arquitetados e com o mínimo cuidado na utilização de música extra-diegética. Temos uma cena (propositalmente) mal encenada de uma telenovela entre duas mulheres, seguida pela narração concomitante que tenta apresentar Joy quando criança e suas tendências a criar e ser imaginativa. Nesse pequeno interim que dura menos de cinco minutos já passamos por três canções diferentes, cortadas de forma brusca e muita informação com pouco de proveitoso. Quando chegamos a 1989, o filme começa a desenvolver-se de forma um pouco mais orgânica, mas, infelizmente, ainda teremos de lidar com outros flashbacks, cenas editadas de forma grosseiramente bruscas e um imperdoável número musical (!) que serve mais para irritar do que causar qualquer empatia. Ao menos Jennifer Lawrence tem seu tempo de brilhar no papel-título.Mesmo que a estrela tenha uma atuação marcante no longa, segurando diversas cenas que em nada surpreendem ou causem qualquer coisa além de indiferença, é o veterano Robert De Niro que sempre consegue roubar a atenção. O ator surpreende em um papel não muito diferente do pai visto em O Lado Bom da Vida, e suas cenas acabam elevando momentos de um filme irregular que deveria ter seus pontos altos na presença feminina, mas em Joy as personagens coadjuvantes mal conseguem tempo para demonstrar o mínimo de personalidade. Uma das que chegam perto disso é Trudy, interpretada de forma brilhante pela maravilhosa Isabella Rossellini, mas cuja força é evidenciada numa cena relativamente forçada de roteirista tirado a espertinho.É possível relevar a primeira meia-hora de Joy com seu ritmo horroroso e corrido repleto de flashbacks dispensáveis para aproveitar o que vem em seguida. A tentativa de O. Russell em criar uma separação absoluta entre fantasia e realidade e a idealização do sonho americano retratado pela TV é um ponto importante do filme, especialmente levando em conta a inércia da mãe de Joy prostrada em frente ao aparelho de forma quase reverencial. Essa idealização dos seres da TV tornará-se ainda mais importante na segunda metade do longa, quando a própria Joy passará a habitar a tela pequena. Quando isso ocorre, graças ao personagem de Bradley Cooper, é cada vez mais evidente que estamos diante de um filme desconjuntado, ainda que conte com boas ideias, a exemplo do embaraço de Joy como vendedora e uma jovem Joan Rivers hilária afirmando que ela tem de mostrar suas longas pernas.Talvez o maior problema do longa é que ele parece ter sido imaginado como bons momentos isolados enquanto o resto do tempo parece um filme feito de remendos para dar-lhes liga. Seu humor é quase 100% das vezes falho, a família de Joy é inane e a tal avó narradora tem um momento tão constrangedor para tentar emocionar que termina evidenciando as grandes falhas do filme: a falta de cuidado na construção da história, completa ausência de sutileza e um parco desenvolvimento de coadjuvantes que não dá vazão a criar algo com o mínimo impacto. Destaque negativo também para os momentos finais do filme, estranhíssimos, no qual Joy surge como magnata à la Corleone, mas extremamente benevolente.O. Russell já provou que é melhor quando realiza obras mais centradas, nas quais as ações e conflitos dos personagens se resolvem num período menor de tempo ou com mais foco, a exemplo de Três Reis, I Heart Huckabees e O Vencedor. Do lado oposto, Trapaça e Joy evidenciam um cineasta que busca vôos maiores e tem talento para tal, mas que ainda não achou o tom ou a forma correta de realizar o que tanto ambiciona. Talvez voltar aos arroubos de anarquia do passado seja a solução.

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