Documentário narra vida e impactos de Môa do Katendê na cultura baiana

Uma das figuras mais impactantes e misteriosas da história de Salvador, o capoeirista, músico e instrumentista Mestre Môa de Katendê marcou a memória da capital baiana. E nesta quinta-feira (3), além de ser comemorado o Dia do Capoeirista, estreia nos cinemas brasileiros um documentário dedicado à vida e trajetória daquele que se tornou um dos maiores símbolos da luta contra a violência.

Intitulado de "Môa Raiz Afro Mãe", o longa é um trabalho dirigido pelo paulista Gustavo MacNair, que conheceu Mestre Môa pouco antes do assassinato, no estado de São Paulo. O filme reuniu diversos artistas e importantes figuras do cenário cultural de Salvador.

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Entre eles estão Gilberto Gil, Letieres Leite, Lazzo Matumbi, Fabiana Cazzo, Márcia Short, Roberto Barreto e Russo Passapusso, todos tocados pela sabedoria do capoeirista.

Responsável por uma das maiores revoluções do Carnaval soteropolitano, Mestre Môa estabeleceu uma nova forma de se construir um afoxé - também conhecidos como Candomblé de Rua - através da criação do Badauê. Surgido em um momento de efervescência dos cortejos afro e afoxés, o Badauê apresentou uma maneira completamente diferente de se fazer carnaval.

O grupo foi o primeiro afoxé a sair no carnaval com um carro de som e, já em seu primeiro ano, reunir mais de mil pessoas durante um desfile de Carnaval na capital baiana.

Sempre apoiado no que aprendeu no Candomblé e na capoeira, Môa ensinava a partir de uma lógica cíclica e espontânea, traços marcantes da sabedoria africana construída na vivência diária. Ele entendia a realidade através de conexões e com isso tocou diferentes segmentos da cultura, não só na Bahia mas como em outros estados do Brasil.

Mestre caminhou ao redor dos quatro cantos do Brasil, levando música e todo o conhecimento adquirido na capoeira. Misterioso, ninguém sabia os motivos que levaram Môa a se afastar da folia baiana, mas as sementes e ensinamentos que ele aplicou no país, mudaram a vida de incontáveis brasileiros.

"Conhecemos o Mestre Môa no início de 2018, quando ele estava começando a gravar o disco que também se chama Raiz Afro Mãe. Ficamos impactados com ele e com as histórias que ele contava, [além] de perplexos por não o conhecê-lo. O fato nos motivou a fazer o filme e querer que ele fosse mais conhecido", pontuou o diretor do filme, que conheceu Môa.

Legado

Devido ao estilo de vida de Môa, o filme foi estruturado através de fragmentos da vida do saudoso mestre. Todo esse mistério ao redor do capoeirista ficou ainda mais forte depois da morte em outubro de 2018, após uma briga política. O filme começa com uma entrevista feita com o capoeirista, que veio a ser a última que gravou em vida.

"Nós conhecemos ele e abriu-se um campo enorme de conhecimento, pesquisa, descoberta e aprendizado. Depois que recebemos a notícia do [assassinato] ficamos muito revoltados e tristes, mas revisitando esse material [a entrevista] percebemos como ele era visionário de já aproveitar aquele espaço para falar o máximo possível, porque não houve direcionamento", destaca Gustavo sobre a importância deste último registro.

Os ensinamentos de Môa são atemporais, assim como os impactos de seus atos em vida. Essa grandeza é abordada em diferentes níveis de subjetividade no longa: passando pela cidade, movimentos afro e questões sociais como o racismo, até detalhes pessoais da vida do mestre, como a relação dele com amigos e família. "Até hoje convivemos com Môa e continuamos aprendendo com o que ele fala", afirma Gustavo.

Môa Raiz Afro Mãe estreou no Festival Panorama Coisa de Cinema 2022, além de ter sido exibido em outros festivais nacionais e internacionais como no Festival de Cinema de Alter do Chão 2022, Festival du Cinéma Brésilien de Paris 2023 e também na 15ª edição do In-Edit Brasil. Confira abaixo o trailer do filme: