O novo viral criado por mim (e por minha colega de jornal) responde pelo nome de “Camilinha Boca de Afofô”. Nasceu como nascem os melhores e mais divertidos memes: da combinação entre o improvável e o inusitado.
Estávamos apresentando as mensagens do público do "Jornal da Manhã", ao vivo, quando, de repente, Camila Oliveira decide me aconselhar a levar um “capote” para enfrentar o frio de Serrinha no feriado de Corpus Christi. “Ricardo tá indo aproveitar o feriado em Serrinha”.
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O que ela não sabia, pois que não havia sido advertida por mim previamente, é que ninguém na minha família tinha conhecimento (até ali) da minha ida à cidade natal. Era para ser uma surpresa. Babou a surpresa.
Camilinha, então, caiu na gargalhada, me arrastando consigo. Foi o bastante. Em minutos, tão rápido como rastilho de pólvora, um trecho do vídeo da gargalhada já estava no X, o antigo Twitter, e nas várias páginas de humor do Instagram.
'Camilinha Boca de Afofô'
Começamos, ela e eu, a receber as notificações das postagens ainda com o jornal no ar, e assim que ele acabou nos demos conta de que havíamos viralizado. Foram algumas centenas de milhares de visualizações, comentários e curtidas.
Naquele mesmo dia, à tarde, fui participar de uma roda de conversa sobre literatura e jornalismo com jovens assistidos pelo Instituto João Carlos Paes Mendonça (IJCPM). Tão logo desci do táxi, ouvi a frase de um segurança: “Cadê Boca de Afofô?”.
Na saída do evento, já na porta do instituto, alguém gritou: “Rapaz, Camilinha estragou a surpresa, heim!?” E no condomínio onde moro, assim que pisei os pés à noite, o porteiro já me aguardava com ar brincalhão. “Tá bombando na rede!”
O poder dos memes
Bombar nas redes parece ser, hoje em dia, o desejo de muita gente. Há quem busque viralizar a todo custo, de modo a “criar” ou “produzir” situações potencialmente geradoras de memes.
Porém, como fenômeno da cultura digital, o sucesso do meme está justamente no contrário disso, isto né, no seu caráter espontâneo.
Tempos atrás, durante uma visita ao Rio de Janeiro, conheci um grupo de pesquisadores do Departamento de Estudos Culturais e Mídia da Universidade Federal Fluminense (UFF). Um daqueles pesquisadores, o professor Viktor Chagas, coordenava o curioso #MUSEUdeMEMES.
Sim, minha gente, existe um "Museu de Memes"! O objetivo dele é “preservar a memória efêmera dos memes e construir acervo de referência sobre o universo digital”.
O professor Viktor defende que por trás desses fenômenos existem elementos da cultura popular que refletem o debate cotidiano. Ele é, aliás, o organizador do livro “A cultura dos memes”, laçado em 2020 pela Editora da Universidade Federal da Bahia (Edufba) e considerado leitura obrigatória para quem pretende compreender melhor os aspectos sociológicos e políticos os virais.
Ricardo Ishmael
Ricardo Ishmael
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