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Estou prestes a parir de novo!

Reflexões sobre os bloqueios criativos às vésperas de lançar um novo livro infantojuvenil

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Ricardo Ishmael

03/11/2023 às 7:30 • Atualizada em 03/11/2023 às 7:50 - há XX semanas
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Sempre que estou para lançar um livro, e isso acontece desde 2017, vivo períodos de “baixa criativa”. É o que ocorre agora. Neste exato momento sentado diante do computador, a cabeça pilhada, não tenho a menor noção do que escrever.

Tento puxar uma ideia daqui, outra dali, mas nenhuma delas me parece minimamente interessante. Nada que valha um conto, uma crônica, um textinho simples que seja. Instantes de apagão total. Notebook e eu não nos entendemos.

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					Estou prestes a parir de novo!
Foto: Divulgação/Anderson Glover

Passo o olho na minha biblioteca, revisito os meus autores preferidos, folheio obras aleatoriamente, como se esperasse que viesse delas uma inspiração. Nada. Nadica. Fico aqui, patético, como um insone girando na cama, digitando e apagando e reescrevendo para, logo depois, deletar tudo novamente. É sempre assim. Trabalho isso na terapia faz tempo, e a conclusão a que chegamos, terapeuta e eu, é que sofro de TPL: Tensão Pré-Lançamento.

Grandes autores (eu, ainda que pretensioso, não ouso me incluir entre eles, por razões óbvias) já sinalizaram essa mesma tensão, a perda produtiva às vésperas de uma nova obra, o que me conforta de certo modo. Se os grandes têm bloqueios, posso eu, um autor meia-boca, também experimentá-los. Porém, diferentemente de alguns, não posso me dar ao luxo do isolamento numa linda casa na praia ou nas montanhas, um bucólico autoexílio até que a bendita inspiração, enfim, decida reaparecer. Tenho prazos a cumprir. Tenho esta coluna a entregar. E o farei, isso é certo. Algo brotará desse vazio em que me encontro; a questão, aqui, é outra: terá valor? Interessará aos meus leitores e leitoras?

Refletindo sobre tudo isso me veio à lembrança, agorinha mesmo, um episódio ocorrido dia desses. Numa descontraída entrevista a um amigo jornalista, fui perguntado sobre o fato de escrever para crianças e não ter filhos. “Como assim? Quem disse que não os tenho? Livros também são filhos!”, rebati de imediato. Então me vi pensando nessa parição.

Em 2017 lancei “O curioso destino de Rita Quebra-Cama”, um livro de contos para adultos. A partir de 2020, quando comecei a me dedicar à literatura para as infâncias, tenho dado à luz um filho por ano. Um novo rebento nasce a cada 12 meses, esse é o meu tempo de gestação. Dessas minhas férteis entranhas nasceram, então, de três anos para cá, “A Princesa do Olhinho Preguiçoso”, “O Menino de Asas Invisíveis”, “Deu a Louca na Bicharada” e, o mais recente deles, “O Pequeno Príncipe das Águas e a Terrível Baleia Branca”.

Colocar um livro no mundo dá trabalho, vocês podem imaginar. A ideia, o argumento, o desenvolvimento da trama, a construção dos perfis psicológicos de cada personagem, a busca por uma editora, por um bom ilustrador, os custos (enormes!) envolvidos no processo. E não acaba quando o livro chega da gráfica. Temos, então, os preparativos para o lançamento, as entrevistas, visitas às escolas, participações em feiras, festas e semanas literárias.

No dia do lançamento propriamente dito, a ansiedade galopante: será que terá público? As pessoas gostarão? A editora conseguirá vender? E depois? O que virá? Ufa! Diante de tudo isso, concluo que escrever um livro é sim dar à luz... E eu já pari muitas vezes! Agora me deixem voltar ao texto – e ao bloqueio criativo. Até semana que vem.

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