Gilberto Gil e Gal Costa viajavam em turnê pelo Brasil acompanhados por Dominguinhos. Entre um show e outro, nas noites mais frias, se reuniam para passar o tempo tocando e cantando. Num daqueles momentos de descanso, Dominguinhos tomou a sanfona no colo e atacou com um xote diferente, uma mistura de toada e marchinha. Gil, que ouvia a música pela primeira vez, olhou para os lados e notou que as pessoas em volta ficaram quietas para apreciar a apresentação de Dominguinhos.
“Que falta eu sinto de um bem / Que falta me faz um xodó”, dizia a letra. Pairava em volta um silêncio quase religioso, uma mistura de admiração e respeito. Terminada a canção, Gil quis saber de quem era aquela preciosidade. “Minha e de Anastácia”, respondeu Dominguinhos. “Vou gravar”, completou o baiano.
Leia também:
A música em questão é “Eu só quero um xodó”, uma das duzentas canções feitas pela dupla Dominguinhos e Anastácia. Quando a canção foi composta, nos idos anos de 1960, os artistas eram casados e viviam num pequeno apartamento no centro de São Paulo. Ganhavam dinheiro fazendo músicas sob encomenda.
“Eu só quero um xodó” nasceu na beira do fogão, enquanto Anastácia fritava um peixe para o almoço e Dominguinhos, a seu lado, ensaiava a melodia na sanfona. Marinês gravou a música em 1971, e alcançou relativo sucesso. Mas a explosão como hit nacional se deu, de fato, com a versão feita logo depois por Gilberto Gil. O arrasta-pé original virou reggae e conquistou o Brasil de Norte a Sul. A música é uma das mais regravadas no país, somando mais de 20 diferentes versões, e até hoje ajuda Anastácia, apelidada de Rainha do Forró, a “pagar as continhas”, como ela mesma diz.
“Eu só quero um xodó” em destaque
A versão de “Eu só quero um xodó” gravada por Gil acaba de completar 50 anos e é tema de um dos três episódios especiais do “Arraiá do JM”, projeto especial que o Jornal da Manhã da TV Bahia exibe há anos, sempre às vésperas do São João. As gravações ocorreram na fazenda Retiro da Serra, zona rural de Riachão do Jacuípe, no nordeste do estado, e reuniram vários profissionais, entre cinegrafistas, operadores de áudio, produtores, iluminadores.
Quinze artistas participaram cantando e contando histórias das suas carreiras e do São João, a exemplo de Del Feliz, Ari PB, Jeanne Lima, Virgílio, Norberto Curvello e Jairo Barboza, bem como os sanfoneiros Jó Miranda e Marquinhos Café. Além da homenagem a “Eu só quero um xodó”, os outros dois episódios do programa destacam os 60 anos do disco Sanfona do Povo, de Luiz Gonzaga, e a tradição dos folguedos populares, como as quadrilhas juninas. Outro destaque desta edição, que vai ao ar entre os dias 19 e 21 de junho, é a presença das Marinetes do Forró, grupo musical formado apenas por moradoras de Riachão do Jacuípe.
Ricardo Ishmael
Ricardo Ishmael
Participe do canal
no Whatsapp e receba notícias em primeira mão!