Os Banshees de Inisherin se passa na Irlanda dos anos 1920, quando a Primeira Guerra Mundial estava em curso, e conta a história de Pádraic (Colin Farrell, Batman), um gentil homem que tem a sua rotina abalada pela abrupta mudança de comportamento de seu melhor amigo, Colm (Breendan Gleeson, A Tragédia de Macbeth). Com cenários belíssimos da ilha fictícia de Inisherin, acompanhamos o desenrolar curioso e chocante desta história de amor fraterno.
Começamos com a leveza e curiosidade de um homem que tem o hábito diário de beber num pub local com o seu amigo de longas datas. Quando de repente esta estrutura muda, o protagonista fica perdido e sem rumo. Seu único objetivo é recuperar a amizade querida. Doce, simplório e cuidadoso, ele acredita que a insistência levará ao sucesso. Porém, ele não poderia imaginar que encontraria do outro lado a intransigência e amargor de um velho sem muita perspectiva de vida.
Leia também:
Em meio a um ritmo que mescla a melancolia com a diversão, o roteiro de Martin McDonagh (Três Anúncios para um Crime) vai nos apresentando personagens agradáveis e bons de acompanhar. Com sutileza, adentramos um pouco mais nas suas histórias, o suficiente para se envolver e criar empatia. Iniciamos o longa como uma comédia e seguimos na melancolia e tristeza de um drama que propõe reflexões.
O mote principal de Os Banshees de Inisherin é, no entanto, a aceitação da falta de controle que temos sobre o mundo ao nosso redor. Ainda que possamos fazer diversos esforços em prol de algo, não há garantia alguma que o objetivo será alcançado, pois ele não depende apenas de nós. E isso é igualmente frustrante e libertador. E vemos essa frustração nos olhos de Pádraic. Não há nada que ele possa fazer sobre aquela amizade, por mais que ele sinta falta absurdamente e por mais que ele não tenha feito especificamente nada.
A libertação vem quando entendemos que a única coisa que podemos fazer e controlar são as nossas próprias atitudes e, a partir daí, pensar em alguma mudança no mundo ou no comportamento das pessoas que nos cercam. Focar em si mesmo, entender as suas ânsias e angústias e propor uma mudança interna. Isso é um tanto libertador.
A medida que o filme avança, vemos a transformação dos personagens, através dos seus limites sendo testados. O completo surto da parte de Colm para provar seu ponto, revelando a sua falta de empatia e incapacidade de se colocar no lugar do próximo. O desespero de Pádraic em tentar resolver a situação, simplesmente piorando tudo a cada instante. A aldeia que acompanha o caso perplexa e chocada com o avançar das escolhas.
Com atuações incríveis da dupla principal (e também dos coadjuvantes), Os Banshees de Inisherin honra todas as suas 9 indicações ao Oscar deste ano. Na verdade, poderiam até ser 10, pois considero um absurdo este filme não ter sido indicado na categoria de Melhor Fotografia. É cada cenário de tirar o fôlego. Envolto em sorrisos, abraços, lamentos e melancolia, o longa é um presente ao telespectador despretensioso e vale cada minuto de sua atenção.
Leia mais sobre Cinema no iBahia.com e siga o portal no Google Notícias.
Veja também:
Marcela Gelinski
Marcela Gelinski
Participe do canal
no Whatsapp e receba notícias em primeira mão!