Algum dia você já parou pra pensar qual a relação entre o carnaval e o teatro? Não? Pois saiba que muita coisa. A começar pela formação e trajetória de muitos artistas da música baiana de diversos estilos e sonoridades. A própria cantora Margareth Menezes tem nas suas origens as artes cênicas e ainda hoje é convidada a trabalhar como atriz. Embora, pela agenda corrida como artista e ministra da Cultura, não tenha conseguido nos enviar a tempo um depoimento sobre o assunto.
Mas, há no nosso casting de artistas cantores, cantoras, atores, atrizes, atuadores, nomes como Ana Mametto, que vem consolidando uma carreira também como atriz. Em 2019, por exemplo, ela protagonizou o musical “Sonho de uma Noite de Verão na Bahia”, interpretando a Rainha Titânia, com direção de João Falcão; Gerônimo Santana, que atuou e compôs a trilha sonora do espetáculo "De Um Tudo" (dir.: Fernando Guerreiro/2017), premiado com o Prêmio Braskem de Teatro pelo trabalho. Este é apenas um de seus trabalhos para essa linguagem.
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Sem falar nos caminhos do ator e cantor Lui (Luiz Antônio Sena Jr.), que em quase 20 anos como ator e cantor e diversos espetáculos encenados com "A Outra Companhia de Teatro", segue desbravado espaços na música baiana e no carnaval da Bahia. Falam ainda dessa relação Márcia Castro e Pedro Pondé, que também percebem as diversas nuances e influências do teatro em suas carreiras e processos artísticos. Confira abaixo o que eles disseram.
Ana Mametto
"Há uma grande semelhança do Teatro com o Carnaval. Uma versão bastante conhecida é a de que o teatro nasceu em meio às Dionisíacas, louvor para o rei grego Dionísio, uma festa bastante semelhante ao Carnaval. Eu vejo a festa momesca como um evento teatral gigante. Máscaras, fantasias, figurinos, luz, e muita alegria preenche o cenário desse grande espetáculo que é o carnaval. O teatro tem uma grande contribuição nesse grande espetáculo, ele traz pra festa histórias, personagens, manifestações artísticas, música, canto, dança, arte".
Gerônimo
"O carnaval já é um teatro a começar pelas pessoas se mascararem com alguma coisa e se vestirem daquilo que elas não são. Quando eu era criança, eu assistia umas cenas de duas caretas, uma grávida e uma fazendo papel de velho, e saia da barriga da careta grávida penico, mangueira de jardim… coisas esdrúxulas… que era o parto que a careta fazia… isso faz parte da manifestação do carnaval, que é alegria, é palhaçada, é interpretação também… A interpretação dramática depende de quem tá curtindo o carnaval"
Lui
"Eu tenho quase 20 anos de carreira como ator e cinco como cantor, e posso dizer sem medo: o carnaval é um evento que naturalmente converge muitas linguagens, sendo o trio elétrico o palco mais revolucionário que pode haver na interação com o público. Uma vez nele, é preciso estar inteiro, em pleno estado de presença, com a sensibilidade ativa, jogando com as pessoas que estão em todos o lugares e imersas em contextos diversos, e, à disposição para improvisar diante dos acontecimentos inusitados que só o carnaval é capaz de mobilizar!"
Márcia Castro
Cantora e compositora, que é uma artista muito presente no carnaval, nos ensaios de verão e até gravou um álbum dedicado ao Axé Music ("Axé"), não estabelece essa relação, mas descreve como o teatro influencia a sua vida artística e a sua carreira musical.
"Eu comecei minha trajetória musical muito colada com o teatro. Não foi no teatro, mas foi muito colada. Porque o meu primeiro show autoral eu realizei quando eu estava muito próxima da escola de teatro da UFBA. Eu tava substituindo lá Luciano Salvador Bahia, que fazia parte musical de algumas peças. Então, comecei a interagir muito com as pessoas de teatro e aí as linguagens se cruzaram. Comecei assim a ter muitas vivências e experiências que eu fui inserindo dentro da minha performance musical, tanto que a primeira pessoa que dirigiu um show meu foi Hebe Alves, uma diretora de teatro. Nessa época, ganhamos três troféus Caymmi. E desde então eu assumi o teatro como uma linguagem dentro da minha proposta musical, no sentido de trazer dramaturgia para os meus shows e ter cuidado com figurino, com o cenário e com a própria narrativa do meu show, no sentido de contar uma história. Assim, a presença cênica da cantora surgiu e o teatro contribuiu muito para esse surgimento. Foi fundamental"
Pedro Pondé
Cantor, compositor e ator, que no palco tem muita visceralidade e teatralidade, faz um paralelo muito perceptível e visível entre teatro e carnaval. O artista começou a cantar na peça "Os Saltimbancos", na sua passagem pela Companhia de Teatro Popular da Bahia.
"O Carnaval já é por si só uma representação ampliada da nossa cultura e da nossa sociedade. O Carnaval é teatral por essência. Temos figurinos, personagens, cenógrafos, artistas plásticos, dançarinos, iluminadores… Como no teatro, várias artes se encontram para criar e potencializar um efeito, pra passar mensagens, pra gerar o transe"
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Arlon Souza
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