Aqui pensando se fôssemos preparar uma receita com as cores, tons e sabores da atriz Maria Menezes, qual ingrediente não poderia faltar? A resposta é muito óbvia. Desde sempre, e sem sombra de dúvidas, o humor. Categoria na qual deita e rola, desde o início de sua carreira, há mais de 30 anos, esbanjando talento, sensibilidade e competência.
O marco profissional de sua trajetória é o icônico grupo Los Catedrásticos e o espetáculo “Recital da Novíssima Poesia Baiana”, criado em 1989, com direção de Paulo Dourado. A montagem, juntamente com outras de grande sucesso, como “A Bofetada” (Cia. Baiana de Patifaria, 1988) e “Ó Paí Ó” (Bando de Teatro Olodum, 1992), são grandes representantes da primavera do teatro baiano, na década de 1990.
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Contudo, o tempero que mudou o paladar da vida de Maria Menezes foi a maternidade, aos 47 anos de idade, com a chegada do seu filho Zakir (7 anos), cujo nome árabe significa lembrar com gratidão. Gratidão pela bênção de engravidar após algumas tentativas de inseminação artificial, numa idade considerada de risco.
Essa experiência transformadora da maternidade para a artista se tornou, inclusive, matéria-prima para a construção do seu primeiro espetáculo solo: “Maria AO VIVO! (ou Mamãe tá aqui)”, em cartaz aos sábados deste mês de maio, às 20h, no Teatro Módulo.
A montagem do monólogo é um desejo da atriz desde que ela completou 30 anos de carreira, em 2020. Na época, investiu numa primeira construção do texto, mas não se sentiu representada pelo conteúdo e resolveu adiar a encenação. A fase caótica instalada pela pandemia de Covid-19 também foi uma das razões.
Dois anos depois, resolveu retomar o projeto e começou um novo processo de escrita, que durou um ano, em coautoria com o diretor de teatro e dramaturgo João Sanches. O texto autobiográfico tem como metáfora os ciclos de uma máquina de lavar, fazendo um paralelo com as fases de sua vida, num trânsito entre ficção e realidade. Uma comédia interativa, materna e muito feminina.
Sergipana de nascimento, Maria costuma dizer que é uma baiana que nasceu em Aracajú. Do público, já virou rotina ouvir que ela tem cara da Bahia. Nesse aspecto, já passou da hora de receber um título de cidadã baiana. Quando será? Maria deixou a sua terra-natal muito jovem.
Tinha 18 anos quando decidiu morar em Salvador e prestar vestibular para Processamento de Dados, na UFBA. Até se encontrar na carreira de atriz, experimentou o ciclo dúvidas que sempre paira sobre a juventude, fazendo com que ela cursasse ainda Engenharia Civil, Sociologia e Psicologia. Num certo momento, em busca de autoconhecimento e descontração, se inscreveu na VI edição do Curso Livre de Teatro da UFBA, em 1990. E aí, pronto! Descobriu a sua verdadeira vocação: ATRIZ!
Na mesma faculdade, a artista cursou o Bacharelado em Interpretação Teatral. Dona Margarida, sua mãe, quando soube da notícia que Maria seguiria a carreira de atriz, não gostou nada, nada... Seu pai, o falecido comerciante Antônio Carlos, foi aceitando aos poucos. A família de irmãos engenheiros, também.
Hoje, aos 55 anos, nem é preciso dizer que Maria é o orgulho da família. Uma das únicas vezes que a sua mãe a viu em cena foi no espetáculo “Uma Vez, Nada Mais” (Dir.: Hebe Alves, 2009), durante uma passagem por Aracajú. E muitos anos depois, hoje aos 91 anos, na estreia de “Maria AO VIVO! (ou Mamãe tá aqui)”, no Teatro Módulo. Dona Margarida abriu mais o coração e teceu diversos comentários sobre a peça.
Entre os projetos no teatro, na TV e no cinema, Maria Menezes já trabalhou com uma série de diretores da cena local e nacional. A parceria de longa data com a diretora Hebe Alves - “O Homem Nu: suas Viagens” (1992), “Isso Assim Assado no Inferno” (1997), “Uma vez, Nada Mais” (2009); Luiz Marfuz - “O Casamento do Pequeno Burguês” (1994); “Alvoroço - Uma Comédia Feita por Você” (2004); e, lógico, o divisor de águas de sua carreira: o “Recital da Novíssima Poesia Baiana”, em que esteve em cartaz por mais de dez anos, em diferentes versões, em turnês na Bahia e no Brasil, até 2015.
Também integrou o grupo “Cereus”, criado em 1991, sob a direção de Hebe, no qual foi contemporânea de um elenco de nomes importantes da artes cênicas, como Aícha Marques, Osvaldo Mil, Wagner Moura, Zeca de Abreu, entre outros atores. Destacando ainda que a artista recebeu o prêmio de Melhor Atriz nos Festivais de Florianópolis (SC) e de Guaramiranga (CE), além de três indicações ao Prêmio Braskem de Teatro (BA).
No cinema, atuou nos filmes “Central do Brasil” (Walter Salles, 1998) “Cidade Baixa” (Sérgio Machado, 2005), “O Céu de Suely” (Karïm Ainouz, 2006) “Quincas Berro D’Água” (Sérgio Machado, 2010). Sem falar que na TV Maria brilhou no programa Fantástico (TV Globo), dirigida por João Falcão, nos quadros “Brasil 500 anos” (2000), “E eu com isso?” (2006) e na pele da personagem Dona Encrenca, quadro do Inmetro, de 2007 a 2018. Na TV Bahia (afiliada da Rede Globo), apresenta desde 2007 o quadro “Mapas Urbanos” (hoje “De Passagem”), no programa “Mosaico Baiano”. Para coroar tudo isso, agora só falta uma novela.
E agora, respondendo à pergunta “De qual matéria-prima é feita a atriz Maria Menezes?”, respondo: É do olhar para a vida pelo prisma do humor, mas sempre consciente de sua condição humana, em que ninguém é alegre e bem-humorado o tempo inteiro. É da sua astrologia aquariana com ascendente em sagitário e lua em peixes.
De ser moradora de Brotas, apaixonada pelo mar, por MPB, por cinema argentino e espanhol e pelo caranguejo de Aracaju. De se comover e se emocionar com as realidades com as quais se depara nas comunidades de Salvador. É de se encantar com a capacidade do baiano lidar com as adversidades e o talento que o nosso povo tem para ser feliz. Por fim, é de ser “plateia do mundo”
Maria Menezes na comédia “Maria AO VIVO! (ou Mamãe tá aqui)”
- Data: Todos os sábados, a partir do dia 6.
- Horário: às 20h
- Local: Teatro Módulo, anexo ao Colégio Módulo. Av. Prof. Magalhães Neto, 1177 - Pituba, Salvador - BA
- Ingressos: R$ 30 (meia) e R$ 60(inteira).
- Ingressos à venda na bilheteria do teatro e no site da Sympla: https://bit.ly/3MitsQo
- Classificação: 14 anos
- Mais informações: (71) 2102-1300
Redação iBahia
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