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Fernando Guerreiro quer carnaval em Salvador o ano todo? Confira entrevista do presidente da FGM

Folia carnavalesca ainda vem rendendo uma boa ressaca. Dessa vez, o furdunço foi com um artigo escrito pelo presidente da FGM

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Arlon Souza

03/03/2023 às 18:00 • Atualizada em 03/03/2023 às 19:18 - há XX semanas
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					Fernando Guerreiro quer carnaval em Salvador o ano todo? Confira entrevista do presidente da FGM
Foto: Divulgação

O motivo do fuzuê foi uma provocação feita na abertura de um artigo para o jornal Correio 24h, onde pergunta: “por que não prolongar o Carnaval pelo ano inteiro, enquanto potência cultural geradora de riquezas para nossa cidade?” E bem no contrafluxo vertiginoso e nebuloso das redes sociais logo essa questão produziu o efeito de uma pane na leitura de muita gente, que preferiu ficar apenas com essa informação, ignorando o conteúdo real do artigo.

Artista, gestor cultural e comunicador, Guerreiro tinha a partir do artigo a intenção de despertar o interesse do leitor. Mas, em época de cancelamentos e linchamentos virtuais, você já sabe: qualquer faísca pode ser vista como um incêndio de proporções desastrosas.

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Respeitado, reconhecido e premiado como diretor de teatro, o presidente da FGM, órgão vinculado à secretaria municipal de Cultura e Turismo, acumula mais de 60 espetáculos no currículo. Inquieto, criativo e atuante em múltiplas áreas, ele vem consolidando seu legado com a elaboração do Sistema Municipal de Cultura, na requalificação dos Espaços Culturais Boca de Brasa e na recriação de mecanismos importantes, como o programa de incentivo fiscal Cultura Viva, além de uma série de outras ações e criação de editais.

Pois é, nesse arrastão das polêmicas, fui saber de Guerreiro que história é essa de ele querer carnaval em Salvador o ano todo (risos).

ARLON SOUZA - Recentemente, você fez uma provocação num artigo para o jornal Correio 24h onde lançou a seguinte questão: “por que não prolongar o Carnaval pelo ano inteiro, enquanto potência cultural geradora de riquezas para nossa cidade?” Com que sentido você usou carnaval naquele texto?

FERNANDO GUERREIRO - Na verdade, eu quis fazer uma provocação em relação à centralização excessiva de ações e de contratações no carnaval. Eu acho que o carnaval realmente é uma potência e eu acho que ele deve ser um vértice, um ápice das agendas de evento da cidade. Mas, o que eu tô propondo no artigo é justamente que essa potência do carnaval, gerador de riquezas, diversidade, atração de turista, possa se espalhar por outras agendas culturais durante o ano. Agendas essas que envolveriam profissionais das mais variadas áreas e linguagens... Envolvendo o Caminho da Fé, de Irmã Dulce… envolvendo quadrilha junina, o Festival do Sagrado... Ou seja, a gente potencializar durante o ano todo o calendário de eventos que possa atrair também patrocínios e fazer a economia criativa rodar.

ARLON SOUZA - Quando você fala no artigo em potencializar uma agenda de eventos culturais durante o ano inteiro, como se daria a organização desse calendário? E de que forma toda essa cadeia criativa poderia ter acesso e se beneficiar dessas ações?

FERNANDO GUERREIRO - Já existe uma suposta calendarização, que precisa ser potencializada, que eu cito no artigo... E o que eu acho mais importante é que esses eventos aconteçam em períodos

pré-determinados, que se repitam, e a gente possa acessar através de editais públicos, para que as pessoas possam participar.

ARLON SOUZA - Você concorda que a política cultural da Fundação Gregório de Mattos não produz ações continuadas como um programa de resultados mais permanentes? Existem ações da FGM estruturadas como programa?

FERNANDO GUERREIRO - 99% das ações da FGM são calendarizadas. A gente às vezes não consegue realizar todos os anos, mas se você pegar todos os projetos da FGM ele já acontece de uma forma regular, né... O edital Viva Cultura tá aí todo ano. O Arte Todo Dia todo ano abre... Os editais de cinema de dois em dois anos acontecem... E os Bocas de Brasa são pelo menos bianuais. Ou seja, a gente pode ir aperfeiçoando as políticas. E estamos elaborando um edital para projetos continuados. Está no prelo. Só tá esperando ter um fôlego, que pode ser que com a Lei Paulo Gustavo a gente cole isso aí.

ARLON SOUZA - Quando você cita as manifestações da nossa cultura mais tradicional e popular como potenciais geradores de riqueza o ano inteiro para a construção dessa agenda, qual seria o diferencial nessa outra proposta de planejamento desses eventos?

FERNANDO GUERREIRO - Eu acho que é cada vez mais é trazer a diversidade, como já trouxemos para o carnaval. Uma diversidade de manifestações e linguagens. Eu acho que quanto mais a gente potencializar isso, melhor... Envolvendo da cultura popular ao audiovisual, a música, o teatro... Pode ser que tenha um evento que tenha mais ações para uma linguagem do que para outra, mas tudo isso tem que ser aplicado a eles.

ARLON SOUZA - A Bahia é reconhecida, entre outras expressões e linguagens artísticas, como um grande polo de criação em artes cênicas e talentos do teatro. Como essa e outras artes seriam contempladas nessas agenda?

FERNANDO GUERREIRO - Olha, o teatro é a minha linguagem. A linguagem onde eu cresci, a linguagem onde eu me formei, né... Eu sou basicamente um diretor teatral. Então, o que eu percebo é que o teatro precisa de alguma forma voltar a se conectar com o contemporâneo e com as outras linguagens. E, principalmente, com o público. Então, a gente está sempre abrindo espaço nessas agendas para o teatro.

ARLON SOUZA - Qual a sua percepção sobre os efeitos da política de editais para a criação e produção artística? Algumas pessoas dizem que a política cultural do município se basta nisso. Qual o seu entendimento?

FERNANDO GUERREIRO - Olha, eu acho que a política de editais é a mais democrática. Claro que a gente está sempre discutindo e tentando aperfeiçoar essa política, mas hoje é o mais democrático que a gente tem. E a gente, além das políticas de editais, tem uma série de intervenções que não passam por aí. Então, não é baseada só na política de editais a política da FGM. Os editais são um marco, um pilar, mas a gente tem uma série de ações que não envolvem diretamente os editais.

Estou inclusive abrindo uma discussão e me colocando à disposição para quem quiser me sugerir políticas públicas nesse perfil, que possam prescindir de editais. Me mandem sugestões.

ARLON SOUZA - Quais são os pilares de atuação da FGM? E que resultados vocês vêm alcançando nesses mais de 10 anos de gestão?

FERNANDO GUERREIRO - Olha, o primeiro e grande pilar da Fundação Gregório de Mattos é reestruturar uma política de Cultura para o município. E quais são os nossos grandes avanços? A gente tem hoje um Plano Municipal de Cultura, ligado a um Sistema de Cultura, que tem um conselho, que agora a gente vai produzir, inclusive, o primeiro mapeamento cultural do município de Salvador. Então, a primeira questão é sistematizar as políticas culturais e descentralizar. E democratizar essas ações. Muita gente se queixa, principalmente o segmento mais profissional, especificamente o de teatro, que não é contemplado, que os editais só pensam na periferia... A gente tem consciência disso e a gente está tentando aumentar esses aportes para criar editais específicos. A gente continua trabalhando muito nessa política de democratização, inclusão e sistematização.

ARLON SOUZA - Há uma crítica de que os espaços culturais da FGM, citando inclusive o Teatro Gregório de Mattos, estão com o funcionamento perto de zero. Corresponde à realidade desse e de outros equipamentos culturais do município?

FERNANDO GUERREIRO - Vamos lá a crítica de que os espaços da FGM não estão funcionando. Nós estamos com um problema sério com o Espaço Cultural da Barroquinha, onde a gente teve um processo de cabos roubados... o que acabou gerando uma grande pane elétrica. E qualquer pessoa, que tem um mínimo de noção do que é trabalhar em serviço público, sabe que é uma burocracia infernal você resolver questões técnicas dentro de equipamentos públicos. Mas, o Espaço Cultural da Barroquinha volta no máximo agora em abril. Já o Teatro Gregório de Mattos continua rodando e os Bocas de Brasa não param... Eu não sei de onde partiu essa maluquice de que os espaços estão vazios.

ARLON SOUZA - No dia 29 de março iremos comemorar mais um aniversário de Salvador e o prefeito Bruno Reis anunciou um grande show com grandes artistas. De que forma a FGM irá compor essa programação? Já é possível adiantar alguma coisa?

FERNANDO GUERREIRO - No aniversário da cidade nós estaremos com uma média de oito ações, envolvendo várias linguagens. Inclusive, teatro. Só que a gente não pode divulgar ainda. O que o prefeito falou foi de uma base, de uma coisa que vai ser especial, um grande show... mas existem muitas outras ações. O Festival da Cidade, como sempre foi feito, vai contemplar várias linguagens, em vários bairros da cidade.

ARLON SOUZA - Qual o grande sonho a realizar na sua gestão? Já realizou?

FERNANDO GUERREIRO - Bom... O primeiro sonho já realizado foi sistematizar a política cultural. Eu já posso dizer que deixo um legado para a cidade de uma organização, de uma sistematização dessa política. E um plano de Cultura implementado. E um grande sonho eu acho que vou conseguir realizar agora, que é a criação do memorial do 2 de Julho, que vai tá lá na Lapinha, no local onde fica os caboclos, aberto o ano inteiro para visitação. Esse é um sonho que eu acho que finalmente vou conseguir realizar.


				
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