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Rita Assemany relembra trajetória e conta novidades para 2023

Com 43 anos de uma carreira de sucesso nos palcos e nas telas, a atriz baiana grava atualmente uma série para o canal Globoplay

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Arlon Souza

14/04/2023 às 18:00 - há XX semanas
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					Rita Assemany relembra trajetória e conta novidades para 2023
Foto: Sora Maia

A atriz e diretora baiana Rita Assemany vibra numa frequência artística em que desde a primeira cena nossa observação racional de espectador se converte em emoção. Traz no olhar, no melhor sentido ficcional e poético, algo da personalidade cigana, oblíqua e dissimulada criada por Machado de Assis para a sua sedutora personagem Capitu, em Dom Casmurro. Emana em sua atuação uma energia de encantamento e inteligência cênica que envolve, seja no drama ou na comédia. É uma artista que já não sabemos exatamente onde começa e onde termina em nós, ao menos, cronologicamente. Atemporal. Visceral. Contemporânea. Multimídia. Etérea!

Me esforcei para lembrar do momento em que a conheci, mas essas memórias se misturam em mim, no meu - e talvez no seu - imaginário. E uma outra constatação, como ela própria comprova, a parceria com a escritora e dramaturga Aninha Franco foi fundamental para a sua carreira. O que é confirmado pela autora, que sempre escreveu já pensando na interpretação que Rita daria para os seus textos. “Talvez, se eu não tivesse Rita Assemany, eu não escreveria para teatro. Rita Assemany é o corpo do meu pensamento”, reconhece Aninha.

A única certeza que tenho é que esse encontro foi no brilhante, memorável e popular Theatro XVIII, que, inclusive, sublimou o papel de um equipamento cultural ou espaço físico, transformando-se numa referência de projeto, programa, pensamento, discurso, estética e política cultural. Verdadeiramente, um legado, inclusivo e democrático, de difusão, formação e produção artística e de conhecimento de diversas linguagens.


				
					Rita Assemany relembra trajetória e conta novidades para 2023
Foto: Divulgação

Aproveitando o ensejo, antecipo aqui uma pista do que está por vir. Na minha entrevista com Rita, ela sinalizou uma novidade que pode fazer a alegria de muita gente: uma ocupação do Theatro XVIII, com seus saraus, espetáculos e oficinas, em algum dos teatros que ainda não morreram em Salvador. Será que teremos a oportunidade de ver novamente uma temporada de Três Mulheres e Aparecida ou de Oficina Condensada?

São tantas memórias e histórias com essa atriz incrível em cena, que me perco nas contas e nas datas. Seja na pele das personagens matrizes étnicas do Brasil, de Três Mulheres e Aparecida, com todo o seu humor, sarcasmo e crítica; ou no manifesto político, poético e musical de “Esse Glauber”; ou mesmo na sua declaração itinerante de amor ao teatro, com a “A Casa da Minha Alma”. Rita Assemany está sempre nos surpreendendo com a sua forma de compor, de construir suas personagens, onde sempre imprime um manancial de cores, nuances e melodias sem fim.

Uma trajetória marcada pelos processos criativos de grandes diretores e autores de naturezas estéticas muito diversas. Fernando Guerreiro (Toda Nudez Será Castigada/Oficina Condensada), Carmen Paternostro (Dendê e Dengo), Paulo Dourado (Os Sete Pecados Captados/Conspiração dos Alfaiates), Hans Ulrich Becker (Medéia), Harald Weiss (Uma Viagem pela Noite), Walter Salles (filmes Central do Brasil/Abril Despedaçado), Fernando Belens (filme Pixaim), entre muitos outros nomes importantes das artes cênicas, da TV e do cinema. Mas, daqui em diante, vamos deixar que ela mesma conte a sua história e as novidades.


				
					Rita Assemany relembra trajetória e conta novidades para 2023
Foto: Divulgação

ARLON SOUZA - Vamos relembrar um pouco do início da sua carreira, em 1980? Foi o diretor de teatro Ricardo Ottoni que a revelou como atriz, né?

RITA ASSEMANY - Isso. Eu fazia magistério, nas Sacramentinas. Veja só, num colégio de freiras... Quando uma amiga, Anita Bueno, me levou para conhecer o grupo do qual fazia parte, o Asas de Teatro. Foi lá nesse grupo que Ricardo Ottoni me viu improvisando umas cenas e, prontamente, me disse: “Menina, você nasceu pra ser atriz”. Assim, estreei em 1980, com a direção dele, o espetáculo infantil “A Fuga das Notas Musicais”, no Cine-Teatro ICBA, onde eu fazia um menino que era uma das notas musicais, a nota Si. Foi Ottoni também quem me levou para conhecer o badalado Beco dos Artistas e que logo no início da minha carreira estampou meu nome num cartaz: “Grupo Asas de Teatro apresenta Rita Assemany e Gláucia Schlang” (risos). Eu sinto falta disso hoje em dia, dos nomes dos atores, diretores e autores nos cartazes.

ARLON SOUZA - Foi vendo você em “A Fuga das Notas Musicais” que Fernando Guerreiro te conheceu e te convidou a fazer “Toda Nudez Será Castigada”, de Nelson Rodrigues, em 1981, né?

RITA ASSEMANY - Foi sim. Uma personagem que foi crescendo e ganhando mais cenas. E que resultou numa premiação como Melhor Atriz Coadjuvante pra mim e Melhor Direção para Guerreiro, no antigo Prêmio Martim Gonçalves, promovido pela TV Aratu. Essa temporada foi na época em que o Teatro Gamboa era de Eduardo Cabús. Um teatro sempre com apresentações lotadas. Guerreiro tinha até outro espetáculo em cartaz com sessões à meia-noite.

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ARLON SOUZA - Foi muito difícil esse início? Como foi que você chegou a decisão de que realmente queria e podia viver de teatro?

RITA ASSEMANY - Eu fazia de tudo pra continuar fazendo teatro. Entregava cesta de café da manhã, fazia festa infantil, lembrança de aniversário, tanta coisa... E quando eu estava prestes a completar 30 anos, eu entendi que tinha que dar um rumo mais estável à minha carreira profissional... E assim chegamos a produção do monólogo Oficina Condensada, com texto de Aninha Franco e direção de Fernando Guerreiro. E que deu muito certo.

Foi um sucesso estrondoso, em 1992, e também estreou no Teatro Gamboa. A casa que eu vivo hoje foi comprada com a bilheteria de Oficina Condensada. As gerações que vieram depois desse boom do teatro baiano precisam saber que é possível viver de teatro, que é possível viver da bilheteria... O teatro precisa voltar a esse patamar. Há muita gente que não viu esse boom e talvez por isso não acredita que a gente vivia de Teatro.


				
					Rita Assemany relembra trajetória e conta novidades para 2023
Foto: Robério Sampaio

ARLON SOUZA - O espetáculo “Oficina Condensada” foi realmente um divisor de águas na sua carreira, né... E te levou para outros palcos e teatros maiores, né?

RITA ASSEMANY - Oficina Condensada foi realmente um sucesso. Do Teatro Gamboa, toda noite, chegava a voltar umas 200 pessoas por dia... Depois dessa primeira temporada de quase 1 ano, fomos convidados por Cândido Mendes Filho a ir pro Rio de Janeiro, e fomos com a cara e a coragem. No Rio, sem verba de produção, sem uma estrutura adequada, fomos nós, eu, Virgínia da Rin, a produtora, e Elisa Mendes, a assistente de direção, para uma temporada no Teatro Cândido Mendes. A temporada durou uns 3 ou 4 meses, num horário alternativo, 19h, mas o bom foi que tivemos críticas muito boas do espetáculo.

Quando voltamos para Salvador, a gente foi pro extinto Teatro ACBEU pra poder receber uma plateia maior. Aí foi uma explosão! Além das longas temporadas no ACBEU, com Oficina fizemos de tudo, congressos, seminários, Dia das Mães etc... E até uma temporada no Teatro Crowne Plaza, em 1994, na cidade de São Paulo, a convite de Sérgio Mamberti, que na sequência nos convidou para um teatro de 700 lugares, mas preferimos retornar para uma temporada de verão que já tínhamos na Bahia. 1994 foi também o ano em que fomos para a Suíça com um outro espetáculo, “Dendê e Dengo”.

ARLON SOUZA - Esse período da década de 1990 a gente pode chamar de “A Primavera do Teatro Baiano”, né? Grandes espetáculos nasceram e fizeram sucesso nessa época...

RITA ASSEMANY - Sim! Era uma época de grandes espetáculos, sessões com casas cheias, grandes bilheterias, muitas produções em cena... Eu com “Oficina Condensada”, Paulo Dourado na direção de “Los Catedrásticos”, a Cia. Baiana de Patifaria com a “A Bofetada”, O Bando de Teatro Olodum com “Ó Paí ó”, Carmen Paternostro com “Merlin ou A Terra Deserta”, tanta coisa acontecendo... Nossa estreia com Oficina Condensada, no Teatro ACBEU, por exemplo, aconteceu no mesmo dia que Dona Fernandona (Fernanda Montenegro) apresentava “Fedra” no Teatro Castro Alves, mas mesmo assim lotamos. Era uma época em que éramos procurados por empresas, secretarias, instituições... que vinham em busca de nós atores para negociar apresentações, assim como peças encomendadas para apresentações corporativas.


				
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Foto: Sora Maia

ARLON SOUZA - Como é que você vê o cenário do teatro baiano hoje?

RITA ASSEMANY - O teatro baiano foi minguando, se tornando dependentes dos editais. E o edital fazendo recortes temáticos que nos limita, cerceia nossa liberdade artística, aprisiona ideias, porque assim os artistas são induzidos a criar dentro desses recortes. Democratizou? Sim. Mais gente tem acesso? Pode ser que sim. Mas, cadê a resposta disso? Cadê a presença e a participação desse público das comunidades periféricas no teatro? É triste ver teatros fechando... É muito triste ver os meninos da Cia. Baiana de Patifaria entregarem a sede deles. É muito triste ver o Theatro XVIII fechado. É muito triste ver o Teatro ACBEU se acabar.

O Teatro ISBA... Isso não pode acontecer. Tá cada vez mais difícil conseguir pauta para ficar mês em cartaz aos finais de semana. A dificuldade de se estabelecer uma temporada. Sinto falta também das oportunidades de criação e trabalho que eram promovidas pelo extinto Núcleo de Teatro do TCA. Época em que se faziam grandes intercâmbios, com grandes diretores de teatro. E outra coisa que não tem cabimento é esse valor imoral, acho que de uns R$ 500,00, cobrado por pauta na Sala do Coro do TCA, um espaço cultural público que é mantido com o nosso dinheiro. O Teatro precisa receber incentivo, para voltar a ser forte como ele era.


				
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Foto: Divulgação

ARLON SOUZA - Como é que foi atravessar a fase crítica da pandemia?

RITA ASSEMANY - A pandemia foi caótica para muitos artistas. Alguns amigos que não tinham nem o que comer. Eu estava fazendo espetáculo para 20 pessoas, na República (AF), no Pelourinho. Fazia o espetáculo “Surf no Caos” durante a pandemia, um espetáculo solo com projeções, mapeamento gráfico, onde a relação entre artista e espectador nessa peça fez muita gente do público chorar de soluçar...

Tenho muita vontade de voltar a fazer ele para um público maior, expandir para outros espaços. E o que me ajudou muito nessa época da pandemia foi um espectador que resolveu patrocinar dois espetáculos meus on-line. Com a apresentação de um, eu pagava o músico, com o outro, eu pagava o técnico. Tinha que revezar, senão não dava. Tentamos patrocínio pra fazer a programação da República on-line, mas não conseguimos. Concorrer com o mundo virtual não é fácil.

ARLON SOUZA - Que outros planos e desejos você tem para este ano de 2023?

RITA ASSEMANY - Quero muito fazer “Chiquita cim Dendê” com um tratamento mais irônico e com inserção de outros textos. Tenho vontade de voltar com o espetáculo “A Casa da Minha Alma”, que fala dessa minha paixão pela atuação e pelo teatro, explorando outros espaços, outros teatros... Espera poder conversar com possíveis patrocinadores sobre oassunto. Se possível, a preço popular.

Eu adoro poder fazer teatro para todo mundo. O maior presente para um artista é poder fazer teatro pra todo mundo. É muito bom ver o brilho nos olhos das pessoas.

O Teatro ocupa todos os poros do meu corpo.

ARLON SOUZA - E que notícia empolgante é essa de retornar com a programação do Theatro XVIII num outro teatro de Salvador? Já estou ansioso...

RITA ASSEMANY - Isso. Seria maravilhoso poder fazer a programação do XVIII num outro teatro, Uma ocupação de uns 4 ou 5 meses, onde pudéssemos fazer nossos espetáculos, nossos saraus, nossas oficinas... Imagine voltar com “Três Mulheres e Aparecida” hoje, faria ainda mais sentido. Ou poder reaproximar as pessoas no teatro com “A Casa da Minha Alma”. Espero que isso aconteça no segundo semestre deste ano.


				
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Foto: Emanoel Castro

ARLON SOUZA - Vamos falar dos seus projetos mais recentes na tv e no cinema? Eu sei que vem aí uma série no canal globoplay... E o que mais?

RITA ASSEMANY - Isso. Eu tive essa sorte de ser chamada para fazer a série “Justiça 2”, da roteirista Manuela Dias, onde atuo ao lado de Júlia Lemmertz e Murilo Benício e que está sendo gravada no Rio e em Brasília, em Ceilândia. Até julho, eu estou à disposição das gravações. Gravei também um curta-metragem, que se chama “Ode”, com direção de Diego Lisboa, acompanhada dos atores Harildo Déda e Ricardo Castro. Mais não posso falar... (risos). A previsão de estreia é no segundo semestre deste ano. No mais, depois de julho volto aos palcos… Estou negociando também uma nova temporada de “Chiquita com Dendê”. Aguardem!


				
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Imagem ilustrativa da coluna De Resenha
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