A diferença entre cansaço e exaustão

Passei anos confundindo cansaço com exaustão. Um parecia apenas a evolução do outro — como se esticar a corda um pouco mais fizesse parte do jogo. Só que não é. Cansaço é um convite para parar. Exaustão é o corpo gritando porque você não ouviu.

Como psicólogo, vejo muita gente — e me incluo nessa lista — que só considera o descanso legítimo se ele tiver alguma utilidade. Veja, um livro, pra valer a pena, precisa ensinar algo. Um filme tem que gerar insight. Uma viagem, precisa render conteúdo para redes sociais. É como se o ócio tivesse que ser criativo. E se não for, nasce a culpa.

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Esses dias, me pediram para escrever um texto A demanda chegou numa sexta-feira, às nove da noite. Até aí, tudo bem — não tinha data de entrega. Mas a mensagem trazia aquela urgência disfarçada no famoso “o quanto antes”. Entreguei na quarta-feira e ouvi que tive cinco dias para fazer.

Logo pergunte mi: Cinco? Na conta de quem? Porque entre a sexta à noite e a quarta de manhã, só existiram duas manhãs úteis. Sábado e domingo não entram na conta. Ou pelo menos, não deveriam. Mas nessa lógica em que a vida pessoal vira apêndice do trabalho, tudo entra. Tudo é tempo disponível.

E eu mesmo já me vi respondendo e-mails no aeroporto, ajustando pauta do podcast no meio de um date, resolvendo detalhes de roteiro de palestra entre um café e outro — tudo isso em momentos que deveriam ser respiro. O mais perigoso é quando isso começa a parecer normal. Quando você perde a medida do que é extra e do que é essencial.

Hoje, assim que eu terminar de escrever esse texto, vou me permitir o ócio. Não vou fazer mais nada. Ficar em silêncio, olhando a paisagem. Desmarquei tudo o que dava. Não porque eu não podia, mas porque eu precisava. É o tipo de escolha que, se a gente não faz por bem, o corpo um dia cobra por mal.

Descansar não é desistir. É sustentar o ritmo da vida sem perder a si mesmo no processo. Cansaço avisa. Exaustão derruba. E você, tem conseguido parar antes que seja tarde demais?