As festas juninas aqui no Nordeste são mais que tradição. Ano após ano, reacendem fogueiras, enchem as ruas de cores, música e encontros. É tempo de celebração, de aconchego, de se unir, partilhar e, sobretudo, de cuidar uns dos outros.

Mas, enquanto a mesa farta se arruma e a quadrilha se forma, também mora aí uma reflexão que nem sempre ganha voz. Porque é muito fácil — fácil até demais — entrar no automático de cuidar do outro e, sem perceber, ir se deixando de lado.
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Como psicólogo, vejo isso o tempo todo. Gente que ama, que se entrega, que cuida. Só que, às vezes, quem cuida muito dos outros, esquece que também precisa ser cuidado. E quando percebe, já vem o cansaço, o peso, a exaustão, aquele vazio que não some nem com reza, nem com festa.
Vivemos tempos em que a promessa de soluções rápidas está em toda parte. É botão que resolve, é inteligência artificial que responde, é algoritmo que entrega conforto instantâneo. Mas uma coisa é fato: máquina não acolhe. Código não abraça. Link não segura na mão.

E, assim como na vida, as festas desse tempo também ensinam. O calor da fogueira não existe sem a brisa da noite. A fartura da mesa não apaga as lembranças do que faltou. Felicidade e infelicidade caminham juntas. O cuidado também. A gente cuida, sim. Mas cuida do outro e cuida da gente. Porque se esquecer de si não é cuidado. É abandono.

Por isso, nesse tempo de encontros, música e partilha, que você não se esqueça: o outro importa, mas você também importa. Cuidar de quem se ama é bonito, é necessário, é parte da vida. Mas não faz sentido se, nesse caminho, você se abandona. Talvez seja esse um dos grandes segredos da própria vida, aprender a se dividir entre o cuidado com o outro e o cuidado consigo.

Fabiano Lacerda
Fabiano Lacerda
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