Depois de dois séculos desde que nos tornamos independentes, sigo acreditando que existem gritos que ainda não demos.
Gritos por tempo, por pausa, por uma vida onde descanso não seja tratado como fracasso.

O 2 de Julho, que marcou a Independência da Bahia na prática e não só no papel, foi um grito coletivo. Um ato de coragem, de resistência e de ruptura. Hoje, o que vejo nos meus atendimentos e nas redes sociais revela outro tipo de opressão: o cansaço sem nome. A aceleração como normal. A produtividade como identidade.
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A promessa era simples: a tecnologia iria nos poupar tempo. Mas o que vejo são pessoas com cada vez menos tempo para si.
Observe um fato: você já deve ter visto pelo menos um vídeo inteiro feito por inteligência artificial. Impressiona, né?! O que levava semanas agora pode ser feito em horas ou talvez minutos. Só que isso não está virando descanso. Está virando padrão.

E quem entrega rápido demais, ganha o quê? Mais demandas, mais urgência, mais cobrança. Não estamos trabalhando menos. Só estamos sendo cobrados mais. E mais rápido.
E isso não se restringe ao trabalho. Essa lógica entrou nos afetos, nas amizades, na forma como a gente se mede e se compara. A velocidade virou o novo valor. E o descanso, o novo pecado.

Como psicólogo, não falo disso com distanciamento. A escuta clínica mostra: o mal-estar atual tem ritmo. E ele acelera. Até nos tirar do centro.
A Independência da Bahia nos lembrou que a liberdade é uma conquista. E talvez o nosso desafio agora seja outro: conquistar o direito de existir para além do desempenho.

Hoje, deixo essas perguntas:
- Por que produtividade virou urgência, e não equilíbrio?
- Quem ganha quando a gente se esgota?
- Por que nos sentimos culpados por parar?
- Se a tecnologia nos prometeu liberdade, por que seguimos presos?
O grito de agora talvez não venha das ruas. Talvez venha de dentro. De um corpo exausto que só quer respirar e não se justificar por isso.

Fabiano Lacerda
Fabiano Lacerda
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