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Conheça Taís Amordivino, baiana que atua em programa da Netflix

Das ruas do bairro Cabula, jovem começou a compor seu repertório de vida e foi onde obteve sua "régua e compasso”.

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Vanessa Aragão

15/03/2023 às 10:30 • Atualizada em 15/03/2023 às 12:18 - há XX semanas
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Divulgação

Eu assisti “Motriz” no Panorama Coisa de Cinema, há uns anos atrás, no Glauber Rocha. Foi através desse filme sensível, íntimo e com uma presença feminina forte – aquela que move o mundo – que conheci a mente e o olhar por trás dele, da diretora e roteirista Taís Amordivino e passei a admirar seu trabalho e toda sua potência. Das ruas do Cabula, ela começou a compor seu repertório de vida e foi onde obteve sua "régua e compasso”. Atualmente é integrante do programa de aceleração para roteiristas “Segundo Ato - Netflix Brasil” e está em desenvolvimento do seu primeiro longa-metragem “Miraildes Mota – A Lendária Formiga”, sobre a vida da ex-jogadora da seleção brasileira, que tem previsão de lançamento em 2024, com coprodução do streaming HBO e HBO Max e produção da Janela do Mundo. Conheça mais um pouco sobre a história e potência que é Taís, através dessa entrevista abaixo concedida para nossa coluna.

1. Como foi sua trajetória até chegar no cinema e audiovisual?

Eu sou formada em Comunicação Social e Cinema e Vídeo. Durante esse processo de graduação, também fiz alguns cursos de direção e roteiro para aperfeiçoar meus conhecimentos na prática. Abaixo cito alguns projetos autorais que foram determinantes para a construção de quem sou hoje. Esses filmes marcam minha estética poética, política e dramática para contar histórias:

- Meu primeiro trabalho autoral como diretora e roteirista foi dentro da faculdade, um curta-metragem documental intitulado “A Invisibilidade da Identidade Negra na Educação” que pode ser encontrado no Youtube. Apesar de ter sido realizado num momento de amadurecimento enquanto profissional, tenho muito orgulho pela potência do discurso, para além da técnica (que ainda não dominava na época). O filme circulou em mostras e festivais nacionais, mas sobretudo, atingiu seu objetivo inicial: circular em escola públicas e espaços de formação educacional.

- Em 2018 lanço “Motriz” um divisor de águas na minha vida, uma obra que me projetou no cenário cinematográfico brasileiro, circulou por mais de 30 festivais nacionais e internacionais, além disso, recebeu 15 prêmios e atualmente é exibido no Canal Brasil. O curta-metragem documental conta a história da minha mãe, Bete. Como no conto “Olhos d’agua”, de Conceição Evaristo, eu, após uma longa viagem, contemplo e ressalta os olhos de minha mãe no filme. Apesar das lágrimas que correm pelo rosto de Bete, é possível sorrir e se reconhecer na obra. Motriz parte da sensibilidade para evidenciar o amor; navega em uma fotografia intimista e respeitosa para apresentar essa mulher simples e resistente; surge da calmaria do interior para contemplar o tempo, que passa devagar e acelera a saudade das duas.


				
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Ana do Carmo / Saturnema Filmes

- Em 2019 fui contemplada no Edital Setorial de Audiovisual – FCBA com o curta-metragem ficcional “A Menina Que Queria Voar" cujo o roteiro e direção é da minha autoria. O filme está em fase de finalização e tem previsão de lançamento no primeiro semestre de 2023.

- Em 2020 comecei minha pesquisa para o meu primeiro longa-metragem documental e biográfico sobre a vida da ex-jogadora da seleção brasileira Formiga.

- Neste 2023, com coprodução com o streaming HBO e HBO Max e produção da Janela do Mundo, estou em desenvolvimento e entrarei em pré-produção do longa-metragem “Miraildes Mota – A Lendária Formiga” que tem previsão de lançamento em 2024.

VEJA O TRAILER DE “Motriz”

This is "MOTRIZ ING - TEASER" by Ori Imagem e Som on Vimeo, the home for high quality videos and the people who love them. Ori Imagem e Som

2. Hoje em dia, como está sua relação com o cinema e audiovisual? O que você tem mais produzido no ramo?

Sou uma diretora e roteirista de obras ficcionais e documentais. Sou uma mulher preta periférica, da infância e adolescência nas ruas do bairro do Cabula e isso me deu régua e compasso para quem sou hoje, aguerrida aos meus propósitos e sisuda (a sisuda herdei de minha vó, rs). Atuo desde 2015 fazendo filme, são quase 10 anos de muito trabalho, muita luta por reconhecimento do meu trabalho, sobretudo por ser uma mulher ESCURA, periférica, lésbica e nordestina.

Minha relação com o cinema é extremamente política e atuante. Me enxergo e me movo politicamente quando faço cinema. Numa análise mais crítica para o cenário, falo de onde pertenço (Salvador/Bahia) e digo que o eixo Norte-Nordeste carece de muita atenção e políticas públicas para um futuro cenário fortalecido e estável para quem é preto, preta e prete. A minha relação com o cinema é caminhar numa linha tênue entre o sofrimento e a alegria! Nosso estado precisa olhar com seriedade para os roteiristas, produtores, realizadores e fazedores de cinema pretes dessa cidade.

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Em 2019 eu fui contemplada no edital em que houve muita luta para que existissem indutores de etnia/raça. Na época, lembro da polêmica que isso gerou no estado, lembro da luta do movimento de negro e afirmativo que, aos gritos, conseguiram possibilitar que a bolha do audiovisual, que imperava por anos nas listas de contemplados, fosse furada. O resultado da luta foi um crescimento de obras audiovisuais potentes, mas sobretudo, humanas. Histórias reais, de pessoas reais sem objetificação ou estereótipos sobre corpos negres. Um avanço no cenário, mas ainda hoje, anos depois, estamos longe de alcançar uma equiparação.

O que mais tenho feito é me debruçar em estudos sobre direção, roteiro e, curiosamente, em trilha sonora (sou musicista autodidata e gosto de pesquisar, tocar, ouvir sonoridades para me ajudar na construção de personagens, etc), meus filmes possuem assinatura poética e sonora. Não quero que apenas vejam minhas obras, mas sintam e sobretudo, ouçam. Quando crio histórias, crio sonoridades também.


				
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Atualmente sou integrante do programa de aceleração para roteiristas "Segundo Ato - Netflix Brasil". Estou me preparando para entrar em pré-produção do longa-metragem “Miraildes Mota – A Lendária Formiga” produção Janela do Mundo e coprodução HBO e HBO MAX. Tenho trabalhado também no meu segundo longa-metragem, a ficção “Registros da Ausência", selecionado em 2020 no laboratório da FLUP/Rede Globo e que estou em desenvolvimento, sem previsão de lançamento ainda. Além disso, estou desenvolvendo uma série de documentários esportivos que estão em negociação.

No ano passado, buscando um direcionamento e gerenciamento de carreira, compus o quadro de talentos de uma das maiores agências de talentos do Brasil, a CONDÉ +. Atuo também como corealizadora do Festival MIMB – Mostra Itinerante de Cinemas Negros Mahomed Bamba, com previsão da próxima edição para o segundo semestre de 2023. Dentro do festival também sou uma das coordenadoras da curadoria nacional.


				
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Ana do Carmo / Saturnema Filmes

3. Como você tem visto o cinema e o audiovisual feito por mulheres na Bahia ultimamente? Em que momento estamos?

Momento de muita potência, mas também de muita insistência e resistência! As baianas são “barril dobrado", as pretas então, são “barril quadruplicado" rs. Eu sou uma cineasta muito feliz em ter cruzado com muitas mulheres baianas do audiovisual. Todas elas, ao cruzarem meu caminho, me inspiraram de alguma maneira.

4. Cite outros trabalhos/filmes/mulheres da Bahia que te inspiram desse ramo.

Assim de cabeça, penso logo em duas mulheres que sou suspeita em falar, afinal de contas, sou próxima a elas. Graças aos Orixás! A primeira, Everlane Moraes, que me inspira enquanto documentarista e pessoa, sou fã, já trabalhamos juntas e futuramente estaremos juntas num projeto grandioso. Posso citar um recente filme dela que me toca bastante chamado “A Gente Acaba Aqui” um curta todo rodado em preto e branco. Sensível e dolorido. É brilhante!

A segunda é Daiane Rosário é minha amiga pessoal, uma produtora que me inspira enquanto potência política, fazedora de cinema, ambiciosa no seu propósito e tantas outras qualidades.

Posso citar também Viviane Ferreira, Urânia Munzanzu, mulheres pretas aguerridas que possui uma história política de luta, são inspiradoras e que estiveram aqui antes mesmo que meu primeiro filme existisse. Todo meu respeito!! Existem muitas outras, seria injusto fazer uma lista, mas ressalvo que todas as mulheres negras baianas que fazem cinema me inspiram, sobretudo, porque sei da luta que é existir e persistir fazendo.


				
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